Moradores da comunidade do Cafezal, no Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, estão construindo uma horta comunitária para abastecer as famílias do local, que estão sofrendo com os impactos da Covid. A expectativa é que a plantação já comece a entregar os primeiros alimentos em 20 dias, permitindo levar uma grande variedade de frutas, legumes e grãos para os moradores da comunidade em pouco tempo.
A iniciativa é uma ação conjunta entre a Associação Comunitária dos Moradores do Cafezal e o Instituto Kairós, que atua na ampliação de práticas de produção de alimentos saudáveis e ecologicamente sustentáveis. A construção da horta comunitária também foi uma comemoração de um ano da parceria entre as entidades na distribuição de alimentos agroecológicos para os moradores do Cafezal.
O biólogo Flávio Lima, do Instituto Kairós, foi o responsável pela orientação técnica na implantação da horta comunitária, que foi feita junto com moradores da região. Ele explica que nesta primeira etapa foram plantadas diferentes espécies em uma área de 40 metros quadrados, mas a área de plantio será estendida e no futuro poderá abastecer até 200 famílias. "Estamos fazendo esta plantação de forma sustentável, usando técnicas limpas, sem a utilização de veneno e reaproveitando materiais da natureza. É uma produção prática e eficiente que vai ser gerida pelas pessoas que estão aqui, vão gerir tudo por conta própria", explicou.
Alan Alves Diniz, 22, estuda sonoplastia e é um dos voluntários que recebeu o treinamento, ele conta que sempre participa das ações da associação comunitária. "É uma iniciativa muito boa para educar a gente para entender a importância de plantar nosso próprio alimento e poder receber esse conhecimento. A gente tem aprendido bastante, eu por exemplo, achava que era só chegar e jogar uma mudinha em um lugar que ia dar certo. Agora eu sei que é necessário todo um tratamento no terreno, passar os materiais necessários, para depois poder plantar", descreveu.
Cristiane Pereira, 43, é presidente da Associação Comunitária dos Moradores do Cafezal e conta que o terreno usado fica nos fundos da entidade e que foi necessário um mutirão entre os moradores para limpar o terreno para a obra. "Nossa expectativa é que com a gente mesmo produzindo poderemos distribuir mais para a comunidade. Parte do que for colhido aqui também vai ser usado na fabricação das marmitas que são entregues pela Associação".
Distribuição de alimentos
De 15 em 15 dias 40 famílias recebem cestas de alimentos orgânicos por meio da Quitanda Solidária, ação criada pelo Instituto Kairós diante dos efeitos da pandemia e distribuída em parceria com a associação de moradores. O projeto completou um ano e é realizado em outras cinco cidades de Minas, com a doação de mais de 16 toneladas de alimentos agroecológicos, além de geração de renda para 24 famílias de pequenos produtores.
Maria Rita de Oliveira, 63, mora com a família há 44 anos na comunidade e conta que com a pandemia da Covid-19 ficou mais difícil ter comida em casa. "Essa doação me ajuda bastante e o dinheiro que eu ia usar para comprar comida vou poder comprar remédios e outras coisas importantes. Agora que vamos ter alimentos plantados aqui do nosso lado vai ficar melhor ainda, vai ajudar ainda mais. E não é uma ajuda que chega só pra mim, chega para muita gente", afirmou.
Cada cesta distribuída contém no mínimo 5 quilos de alimentos, composta por 8 a 10 itens agroecológicos entre verduras, legumes, frutas, temperos e tubérculos suficientes para alimentar quatro pessoas por uma semana.
Para ampliar a entrega de cestas, o Instituto Kairós lançou
uma plataforma para receber doações pela internet, que vão ajudar na compra de parte dos alimentos distribuídos. Artêmis Caldeira Brant, integrante da instituição, explica que os alimentos são comprados de pequenos produtores que com a Covid estão tendo dificuldade em escoar a produção. "Unimos aqueles que precisavam de comida na mesa e quem não estava conseguindo vender seus produtos durante a pandemia. Essas duas pontas foram conectadas por meio das doações, já que compramos esse material dos produtores e distribuímos nas comunidades", descreveu.
Resgate histórico
O biólogo Flávio Lima conta que os moradores da comunidade solicitaram que também fossem plantados pés de café, cultivo que deu origem ao nome da área onde moram. "Já nesta primeira etapa plantamos algumas sementes, mas em breve as encostas aqui da área de plantio vão receber várias mudas. Isso é muito interessante não só pela história aqui do local, mas também porque o café representa o Brasil em todo o mundo", destacou.