Vizinhos de Mineirão, na Pampulha, e Independência, na região Leste, estádios mais antigos em BH, sofrem com problemas que se arrastam há anos. “Os impactos emocionais são imensuráveis”, na opinião da psicanalista Mary Fernandes, de 52 anos, vizinha do Gigante da Pampulha desde que nasceu e integrante da Associação dos Moradores dos Bairros São Luís e São José.
Leia mais:
Nova rotina no Califórnia: Arena MRV leva mudanças à região
Expectativa de melhorias: estádio ‘valoriza’ imóveis e vai entregar compensações
Ela considera que, embora a Esplanada seja a “pracinha do bairro”, onde as crianças vão brincar e ver futebol, há muitos transtornos na região: “Ruas são tomadas por torcedores, que fazem churrasco na porta da casa das pessoas. Muitos deles são agressivos. Assim que termina um jogo, transformam o entorno em um lixão. Fora o barulho. Às vezes, são dez horas seguidas de show”, conta.
No Horto, o problema maior é um suposto abuso na aplicação de multas de trânsito, afirma o administrador André Orsine, de 45 anos, presidente da Associação dos Amigos do Entorno do Independência e Adjacências. “Em dias de jogos, fecham a rua por 24 horas. Às 8h, já estão passando para multar o morador que estaciona na frente de casa. Isso prejudica a gente, o comércio. Não entendem que temos o direito de ir e vir, de chegar em casa”, disse ele, que há dez anos é dono de um imóvel em frente ao estádio do América.
Resposta. No caso do Independência, ações educativas são a prioridade, informou a Prefeitura de BH, sem fornecer balanço de multas no local. O órgão afirmou que fiscaliza estacionamento irregular no entorno dos dois estádios, sobretudo em garagens.
Sobre a queixa de Orsine, o Executivo respondeu que, por segurança, há proibição de estacionamento “em algumas vias no entorno do estádio” na noite da véspera de eventos e/ou jogos. Há interdição apenas horas antes da partida, e moradores têm credenciais para acessar todas as vias, diz a PBH.
Conforme a PBH, 27 multas por barulho e comércio irregular foram emitidas no entorno do Mineirão em 2023 (até 25.9).
Rede de contatos ajuda muito
André Orsine, vizinho do Independência, diz que o estádio mantém um grupo de WhatsApp com os moradores para informar sobre eventos e intercorrências. “É uma forma de minimizar problemas”, sugere ele aos vizinhos da Arena MRV.
Educação
Para a arquiteta e urbanista Mariana Gontijo, a solução dos problemas passa pela conscientização dos torcedores, em iniciativas da PBH e das arenas. Ela também defende reforço no policiamento e punição efetiva para “situações de infração, como o xixi e o barulho”.
Público grande não necessariamente gera mais violência
Com a chegada do estádio, o entorno fica mais movimentado, o que se torna desafio extra para a segurança. “Quando você tem um equipamento desses, atrai todo tipo de público, inclusive o oportunista, que vai buscar os pequenos furtos”, disse Alexandre Rennó, presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis de Minas Gerais (Creci-MG).
Esse incremento de infratores não será capaz, a priori, de provocar aumento na violência na região, segundo Jorge Tassi, pesquisador em segurança pública: “Por si só, o fato de ter 30 mil pessoas em um local não vai gerar esse aumento (da violência). Vai ter mais furto (em eventos), mas proporcionalmente haverá mais polícia, o que dilui os casos, principalmente se for cumprido o estudo de impacto de vizinhança, que prevê o acréscimo de policiamento”.
Furto. Em eventos, procure um lugar seguro para falar ao celular. Assim, você vai perceber melhor o que ocorre ao redor e pode evitar ser vítima de um furto.