A solidariedade entra em cena de várias formas durante a pandemia do novo coronavírus. Os empresários e autônomos que contavam com apenas uma fonte de renda foram devastados pelo fechamento dos estabelecimentos. Muitos dos clientes fiéis de pequenos empreendimentos aparecem neste momento, à distância, para dar uma importante dose de contribuição. 'Vakinhas' virtuais e outras sem o recurso da tecnologia estão sendo criadas para amenizar o sofrimento de quem se viu em um momento desesperador.

Dono de um dos bares, há oito anos, no Olympico Club, na Serra, em Belo Horizonte, Marcelo Nunan foi surpreendido com a participação de mais de 40 pessoas, que decidiram ajudá-lo nesta quinta-feira. A lista tende a aumentar nos próximos dias e a renda será usada para o pagamento de dívidas.

"O baque foi ainda maior porque viemos de um período de chuvas nos últimos meses, com pouca gente indo a clubes. Eu havia assumido um segundo bar no clube, que funcionou um dia somente antes do decreto de fechamento. Se não fosse pela minha família, estaria com um problema ainda maior, minha situação estava se tornando insustentável", conta. O valor de cada associado será revertido em crédito para o momento em que o clube for reaberto. 

Dono do bar Chambari, no bairro do Riacho, em Contagem, há 11 anos, Itamar José dos Santos viu 38 clientes terem a mesma iniciativa. Muitos deles são seus conhecidos de longa data, de uma época antes mesmo do estabelecimento ser aberto em 2010. "Fui pego de surpresa, o bar já está fechado há seis semanas. Eu vendia 50 caixas de cerveja por semana, agora são somente cinco e os clientes precisam vir até aqui para pegar e levar embora. O envelope está lacrado e pretendo usar esse dinheiro para pagar algumas contas", revela. Os clientes também entregaram, junto ao dinheiro, uma carta com palavras de apoio, reconhecendo Itamar pelo caráter e exemplo de homem prestativo, solidário, amigo e sempre alegre. 

Seu Itamar foi recompensado, uma vez que é dele a ideia de ajudar, há muitos anos, pessoas do bairro que estão atravessando um momento de dificuldade. "Eu não estava sabendo de nada e fiquei muito surpreso e feliz. Eles criaram um grupo e o sentimento é de gratidão. Tenho um sentimento de carinho com cada um deles, quem faz isso vira um integrante da família. Espero que tudo isso passe logo para que eu consiga voltar a ajudar outras pessoas como estou sendo agora", agradece o dono do bar, que precisa despender R$ 4.000 de aluguel por mês.