BRASÍLIA – O ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB) brigadeiro Batista Júnior declarou nesta terça-feira (15) que apoiadores e aliados de Jair Bolsonaro (PL) passaram a intimidá-lo com ataques nas redes sociais com o objetivo de fazê-lo mudar de opinião e apoiar uma tentativa de golpe de Estado no Brasil após as eleições presidenciais de 2022.

Em outubro daquele ano, o ex-presidente foi derrotado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e contestou o resultado das urnas eletrônicas, apontando fraudes sem provas no sistema eletrônico de votação. 

Um documento para tomada de poder à força teria sido elaborado por integrantes do governo e apresentado ao brigadeiro Batista Júnior, ao então comandante do Exército Freire Gomes e ao almirante Almir Garnier, que estava à frente da Marinha na época. Os dois primeiros não concordaram com a iniciativa. 

“Eu não tenho dúvidas entre os que foram direcionados a mim e ao general Freire Gomes, tinham em grande parte o desejo de fazer com que nós mudássemos a nossa postura negativa [ao plano de golpe de Estado]”, disse o brigadeiro, ao responder um questionamento da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Dezenas de testemunhas deverão ser ouvidas durante a semana

Nesta terça-feira, o STF deu continuidade à fase de depoimentos das testemunhas de defesa no inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado articulada por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O segundo dia de oitivas reuniu nomes de peso das Forças Armadas e da política, como o general Freire Gomes e Baptista Júnior, além do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, partido de Bolsonaro.

Os três falaram na condição de testemunhas de defesa dos réus do chamado "núcleo 4" apontado pela PGR como responsável por disseminar desinformação para desacreditar o sistema eleitoral e pressionar os militares a aderirem a uma ruptura institucional. 

Batista e Freire foram arrolados por Ailton Barros, major da reserva e réu no processo. Já Valdemar Costa Neto foi indicado por Carlos Moretzsohn, também acusado de envolvimento na trama golpista.

Simultaneamente, o STF ouviu 28 testemunhas indicadas por Fernando de Sousa Oliveira, ex-secretário-adjunto da Secretaria de Segurança Pública do DF e réu do núcleo 2.

Esse grupo é acusado de usar a estrutura do Estado, especialmente a Polícia Rodoviária Federal (PRF), para dificultar o transporte de eleitores no segundo turno das eleições de 2022 – principalmente na Região Nordeste, onde Lula tinha sido melhor votado no primeiro turno –  favorecendo Bolsonaro. 

PRF tentou interferir no deslocamento de eleitores a favor de Bolsonaro

Entre os réus desse núcleo estão Silvinei Vasques, ex-diretor da PRF, e Marília Alencar, ex-subsecretária de Segurança Pública do DF. A PGR aponta que eles atuaram para manter Bolsonaro no poder mesmo após a derrota nas urnas, inclusive monitorando e tentando neutralizar autoridades públicas.

O processo ainda contempla o núcleo 3, formado majoritariamente por oficiais das Forças Armadas, mas não houve oitivas de testemunhas desse grupo neste dia.

Até o fim das audiências, previstas para ocorrer até 23 de julho, o STF deverá ouvir um total de até 178 testemunhas. Alguns nomes propostos pelas defesas foram vetados por Moraes, como os dos filhos de Bolsonaro, Carlos e Eduardo, ambos investigados em outros inquéritos relacionados à tentativa de golpe.