Pandemia

Infectologista admite subnotificação dos casos de Covid-19 em Belo Horizonte

Estevão Urbano Silva diz que o ideal é fazer testes em massa e alerta que o número de infectados supera dado que é divulgado oficialmente

Por Bruno Mateus
Publicado em 10 de abril de 2020 | 15:44
 
 
 
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“O número de casos é muito maior do que temos hoje.” A conclusão é do infectologista Estevão Urbano Silva, que integra o Comitê de Enfrentamento à Pandemia da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Em entrevista à rádio Super 91,7 FM na tarde desta sexta-feira (10), o especialista esclareceu que há um cenário de subnotificação dos casos de novo coronavírus na capital – o mesmo acontece no resto do país. O ideal, ele diz, seria fazer testes em massa, mas não é isso que acontece, já que os exames no Brasil são feitos somente em quem apresenta sintomas graves da doença. “Os casos são absolutamente subnotificados”, afirmou.

Segundo dados do boletim da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES) divulgado na manhã desta sexta-feira (10), são 324 infecções confirmadas em BH, o que representa quase metade (46,4%) das notificações em Minas. Belo Horizonte também registra o maior número de mortes pela Covid-19: são seis óbitos na capital, de um total de 17 no Estado.

Estevão Urbano Silva fez um alerta: é preciso manter a política de isolamento social. Ele diz que duas questões culturais contribuem para o discurso contrário ao distanciamento: a falta de hábito da população de seguir regras e uma parcela da sociedade que ainda não acredita nas vantagens do isolamento, fazendo com que haja uma certa dispersão das pessoas em seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da própria PBH.

Ao ser questionado sobre os perigos de se fazer caminhadas e atividades físicas ao ar livre, o especialista diz que o nível de transmissão em ambientes abertos é menor, mas não está totalmente excluída. Segundo Silva, é fundamental ressaltar que o novo coronavírus se dissemina de uma forma extremamente rápida, por isso as recomendações de isolamento social devem ser seguidas à risca.

Ele é taxativo: “A falsa sensação de segurança, essa zona de conforto que nós vemos em alguns cidadãos, é extremamente perigosa. Esse binômio de pessoas que não estão imunes e o vírus que permanece circulando pode ser uma gasolina para a explosão da pandemia. Foi o que aconteceu em cidades mundo afora, onde a falsa sensação de segurança, repito, gerou um afrouxamento na adesão ao isolamento”.

Cloroquina

O uso da cloroquina em pacientes com Covid-19 tem sido alvo de debates em todo o mundo. Estevão Urbano Silva, no entanto, é cauteloso quando ao seu uso em pessoas infectadas pelo novo coronavírus. Segundo ele, o medicamento está muito distante da realidade da pandemia, e os estudos realizados em diversos países ainda são controversos e inconclusivos. “A cloroquina ainda é uma situação de debate. Ela tem um potencial de ser melhor que nada, estamos indo numa direção de que ela pode contribuir, não é uma resposta definitiva”, destaca.

O especialista ainda sublinha que é importante não deixar que a discussão em torno do uso da cloroquina diminua o discurso da necessidade do distanciamento social: “Ela tem que ser uma somatória ao que já fazemos hoje, e não excluir o isolamento”.

Pico em BH: entre abril e maio

Estevão Urbano Silva também afirmou que o pico de infecções pelo novo coronavírus na capital mineira será na transição de abril para maio. Segundo Silva, há projeções, mesmo que parciais, e cálculos que, se forem mantidos nos próximos dias, apontam para o auge do Covid-19 em BH. “Quando falamos em pico, nos referimos aos casos de infecções por dia”, explicou o infectologista. “Isso pode ser controlado. Estamos torcendo e continuamos achando que manteremos esse pico sob controle”, ponderou o especialista.

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