Mesmo com a pandemia do coronavírus e a paralisação de diversos serviços para conter o avanço da doença no país, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse em entrevista exclusiva à rádio Super Notícia que as datas para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) seguem mantidas, pelo menos até o momento. Conforme o chefe da pasta, a prova deve acontecer nos dias 1º e 8 de novembro.

Para Weintraub, o cancelamento do exame afetaria o ano de mais de cinco milhões de pessoas. "Gera uma quebra de expectativa. Vai ter esse ano sim, os jovens que estão em casa continuem estudando, se preparando. Por enquanto, todos os prazos estão confirmados. Se precisar postergar, a gente vai ser flexível. Não estamos aqui para atrapalhar a vida de ninguém", aconselha. 

O ministro afirma também que o projeto do Enem Digital, que será lançado neste ano para 100 mil inscritos no exame, segue mantido. "Vai ter pelo menos uma cidade em cada um dos estados para a realização do exame digital", complementa.

Já para os alunos brasileiros que estão desde ensino superior até a educação infantil, Abraham Weintraub conta que a pasta disponibilizou diversas plataformas para manter as atividades escolares à distância. Além disso, os dias letivos obrigatórios para 2020 serão transformados em horas obrigatórias.

"Quando isso acontecer [o retorno das aulas presenciais], queremos dar o máximo de flexibilidade possível para as crianças conseguirem repor a matéria e não perderem o ano", afirma.

Hospitais universitários

Responsável por gerir os mais de 40 hospitais universitários da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), o Ministério da Educação já destinou R$ 260 milhões para a ampliação de leitos, compra de equipamentos e melhoria dos atendimentos diante da pandemia do coronavírus.

"É a maior rede de hospitais do Brasil e estamos correndo para preparar a estrutura. Só no ano passado foram oito milhões de pessoas atendidas", cita.

Apesar de demonstrar preocupação com a gravidade da doença, o ministro acredita que muitas medidas de restrição impostas pelas prefeituras e governos estaduais são exageradas e podem provocar um colapso econômico.

"Eu compartilho dessa visão, tem que manter a serenidade, saber que é uma doença que vai matar muita gente, mas todo ano no Brasil morrem 50 mil no trânsito e não é por isso que eu vou parar de andar de carro e proibir a fabricação de carro ou moto", declara.

Bolsas de estudo e formaturas antecipadas

Abraham Weintraub ainda citou o aumento no número de bolsas de estudo, que passou de 81 mil para quase 86 mil. Conforme o ministro, o projeto de ampliação prioriza as áreas de engenharia, medicina, farmácia e enfermagem. "Deixamos para lá as bolsas de cursos com notas mais fracas e, nesse primeiro momento, filosofia e antropologia", comenta.

Além de crescer o número, Weintraub diz que serão abertas outras 2,6 mil novas vagas de bolsas de estudo voltadas exclusivamente para pesquisas de epidemias.

"Vale lembrar que essa não é a primeira doença que vem da China. Nos últimos 20 anos, é a quarta que vem de lá. Não que fazem isso por mal, mas é o hábito de ficar muito próximo dos animais, do porco, do frango, de comer os bichos diferentes. Nos próximos cinco a dez anos, como eles não vão mudar os hábitos, vem outra doença dessa. E me pergunto o que país que vai querer ter? É um país com mais médicos, mais engenheiros", responde.

Por fim, o ministro da Educação falou sobre a antecipação das formaturas de médicos, enfermeiros, farmacêuticos e fisioterapeutas. De acordo com Weintraub, a medida vale para os estudantes que tenham concluído mais de 75% do estágio profissional.

"Vamos ver os médicos ficando doentes. E esses jovens, eles não sofrem tanto, não são grupo de risco. Eles podem ir para a linha de frente e ajudar no tratamento dos doentes, sob supervisão dos médicos mais velhos que estão mais expostos", finaliza.

Veja abaixo a entrevista completa do ministro da Educação, Abraham Weintraub, para o apresentador Ricardo Sapia:

Qual deve ser o efeito da crise para os alunos, desde a educação infantil até o ensino superior?

Essa crise toda é grave e importante que se prepare, mas não pode deixar o medo e o pânico tomar conta. E também tem que manter a serenidade, as crianças não podem perder o ano escolar, tem que dar flexibilidade para o gestor na ponta decidir. O que aconteceu: em primeiro momento teve um certo pânico de alguns gestores, tem cidade pequena com 15 mil habitantes que não existe coronavírus nem por perto, pelo menos por enquanto. E não tem ônibus, não tem metrô, não tem trem, não tem aglomeração. Fechou tudo já tem duas, três semanas. A gente quer dar primeiro tranquilidade à informação, estamos montando um painel já pronto da dispersão do coronavírus para que o gestor, o prefeito, o governador possa, gradualmente, ir chamando as crianças de volta para a sala de aula. Quando isso acontecer, queremos dar o máximo de flexibilidade possível para as crianças conseguirem repor a matéria e não perderem o ano. Nossa preocupação é deixar claro para a população que, infelizmente, é uma doença grave, mas está vindo, tem esperança de um tratamento, que o pessoal brinca que é remédio do Bolsonaro, que é a hidroxicloroquina. Mas tem esperança que venha o tratamento e, por isso, em questão de um ou dois meses a vida volte, mesmo que não venha o tratamento. E a gente tem que seguir com as aulas, com tudo. 

As datas do Enem seguem mantidas?

Uma das coisas que a gente fez foi manter o Enem. Vai ter esse ano sim, os jovens que estão em casa continuem estudando, se preparando. Está ruim para todo mundo, tem gente que está mais afetado, mas todo mundo foi afetado negativamente. Por isso vai ter Enem para as pessoas não perderam o ano todo de vida. Por enquanto, todos os prazos estão confirmados. Se precisar postergar, a gente vai ser flexível. Não estamos aqui para atrapalhar a vida de ninguém. A sinalização é vamos fazer Enem esse ano e a data está mantida.  Tem muita gente maldosa, da oposição neste momento, que de novo não quer fazer Enem. Ano passado eles fizeram de tudo para que não tivesse Enem, desde o começo do ano, no final teve. Esse ano de novo. Eu te dou uns dez Enem com questão absurda, fraude.

Como o senhor vê as medidas de restrição impostas para controlar o avanço do coronavírus no Brasil?

Talvez não precisasse ter fechado todos os locais como foram fechados tão rapidamente. Isso está atrapalhando a vida das pessoas, gerou muito pânico. Estamos nos preparando para receber esse volume de pacientes nos hospitais. Aqui no Ministério da Educação, eu sou responsável pelos hospitais universitários, são 40, a maior rede de hospitais do Brasil, e está correndo para preparar a estrutura. Destinamos mais recursos para os hospitais, foram R$ 260 milhões a mais para arrumar leito, respiradores, não somente comprar novos, mas como não vai dar tempo de fazer todos novos, consertar os que já tinham sido afastados. Então a gente está correndo com o tempo, destinamos R$  260 milhões, hoje tem mais  R$340 milhões para reforçar equipamento, compra, porque é a maior rede de hospitais. Só ano passado foram oito milhões de pessoas atendidas. Então, eu compartilho dessa visão, tem que manter a serenidade, saber que é uma doença que vai matar muita gente, mas todo ano no Brasil morrem 50 mil no trânsito e não é por isso que eu vou parar de andar de carro e proibir a fabricação de carro ou moto. Eu vou falar que tem que usar capacete, tem que colocar o cinto de segurança, e criança tem que andar na cadeirinha. Então, a gente está sabendo, é uma doença grave, uma crise que vai matar gente, infelizmente, mas também não pode destruir o Brasil, a vida segue.

O senhor disse que a oposição quer adiar o Enem. Por qual motivo?

Esse ano tem uma série de partidos de esquerda, da oposição, querendo impedir que a gente faça o Enem. Estamos no começo de abril, porque se você não faz Enem gera uma quebra de expectativa em cinco milhões de jovens. Você ganha e cria espaço para o pessoal dos movimentos capturarem esse jovem, então essa é a cabeça deles, quanto pior melhor pra eles, e pior para nós brasileiros. Tem que se preparar, a gente está investindo, está soltando leitos. Esses investimentos todos foram feitos logo que começou a crise, um mês atrás, agora começa a chegar material e equipamento.

E os projetos do Ministério da Educação foram paralisados pelo coronavírus?

Falar que está normal não está, o Enem digital vai sair neste ano e vai ter, para quem quiser, até 100 mil pessoas, em todos os estados do Brasil. Vai ter pelo menos uma cidade em cada um dos estados para fazer o Enem digital. Evidentemente, o foco mudou. Na parte da educação infantil, a gente desviou para a produção de material a distância para os pais poderem, nesse período, lerem para os filhos, ajudarem na alfabetização. Não só para os professores, mas também para os pais. Evidentemente que esse dinheiro todo que eu estou mandando para o hospital, estou tirando de algum lugar, mas neste momento queremos mais salvar vidas para depois ver como faz para consertar. 

Houve um aumento no número de bolsas de estudo para pesquisa?

Na parte de bolsas de estudo de mestrado e doutorado, fizemos alterações. Ampliamos de 81 mil para quase 85 mil bolsas, sendo que estamos priorizando nas áreas de engenharia, medicina, enfermagem. Estamos deixando para lá um pouco as bolsas de curso com nota mais fraca e, nesse primeiro momento, filosofia, antropologia. Vai lembrar que essa não é a primeira doença que vem da China. Nos últimos 20 anos, é a quarta que vem de lá. Não que fazem isso por mal, mas é o hábito de ficar muito próximo dos animais, do porco, do frango, de comer os bichos diferentes. Então acaba passando doença para o ser humano e daí uma doença nova. Nos próximos cinco a dez anos, como eles não vão mudar os hábitos, vem outra doença dessa. Eu me pergunto, que país que a população vai querer ter? É um país com mais médicos, mais engenheiros, mais pesquisa na área de medicina, engenharia, respirador mecânico, que falta agora. Além disso, estamos mandando 2.600 só para pesquisar epidemia, bolsas novas. Ao todo, estamos falando de mais de 6.500 bolsas a mais criadas agora e a oposição fala que está havendo corte. É mentira. 

E as formaturas antecipadas para estudantes de medicina, enfermagem, farmácia e fisioterapia?

Fiz um chamamento para que os departamentos de saúde, mais especificamente medicina, enfermagem, farmácia e fisioterapia, voltassem às aulas para os últimos anos, porque a gente vai ver os médicos ficando doente. Como vão ter contato com as pessoas que vão chegando aos hospitais, eles que vão adoecer mais e vai faltar médico. Então, esses jovens não sofrem tanto, não são grupo de risco. Eles podem ir para a linha de frente e ajudar no tratamento dos doentes, sob supervisão dos médicos mais velhos que estão mais expostos. Também fizemos a flexibilização da colação de grau. Nessas carreiras, quem já tiver concluído 75% do estágio profissional já pode colar grau e trabalhar normalmente. Já estamos muita coisa andando que já foi feita, não parou, fez muita coisa nesse período.