Em 13 de maio de 1888, após seis dias de votações no Congresso e séculos de luta do povo negro pela sua libertação, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, que decretava o fim da escravidão no país, que carrega a mácula de ter sido o último no Ocidente a abolir o escravagismo. Após 132 anos, a data é tema de debates, palestras, shows, documentários e está presente no dia a dia dos brasileiros. Nesta quarta-feira (13), uma programação foi pensada para ressaltar a importância do povo negro e sua cultura para o Brasil, e também colocar em discussão as dificuldades que eles enfrentam ainda hoje.
Às 19h, o jovem Tavinho Leoni, 16, lança o pocket show “Roda de Samba da Abolição”, gravado para o projeto Circuito Cultural UFMG #emcasa. A apresentação vai ao ar no canal do centro cultural no YouTube. Tavinho, que toca pandeiro, tamborim, triângulo, zabumba, guitarra, conga e reco-reco e já participou do “The Voice Kids”, da Globo, vai mostrar suas influências dos vários tipos de samba, valorizando, por meio da cultura, a história dos negros e da raiz africana.
O vídeo foi produzido pelo próprio artista, que está cumprindo quarentena devido à pandemia do novo coronavírus. Tavinho Leoni, que se prepara para gravar o primeiro álbum autoral com colaboração de compositores mineiros, também vai falar sobre as origens do samba e o surgimento do gênero no Brasil.
Inédito
Também no embalo da efeméride, o Canal Brasil exibe, às 20h, o documentário inédito “A Última Abolição”, da diretora Alice Gomes. O filme propõe uma análise histórica dos movimentos abolicionistas ao longo de quatro séculos, discute o protagonismo dos próprios escravos na luta pela liberdade e o papel dos quilombos no processo de emancipação, além de questionar a chamada democracia racial.
O longa é recheado de depoimentos de advogados, historiadores e sociólogos, que revelam personalidades negras fundamentais para o processo de liberdade e trazem à tona a necessidade da reparação histórica e as dificuldades que o povo negro enfrenta ainda hoje. O filme terá reapresentação nas seguintes datas e horários: quinta (14), às 18h25, sexta (15), às 16h50, e domingo (17), às 10h45, também no Canal Brasil.
Dez episódios
Com o gancho de maio ser o mês da assinatura da Lei Áurea, o canal pago Prime Box Brazil exibe a série “Sanfoka: A África Que Te Habita” até 3 de julho, sempre às sextas, às 20h30. A produção é resultado da jornada, tendo Fortaleza como ponto de partida, do fotógrafo afro-brasileiro César Fraga e do professor de história Maurício Barros de Castro por nove países das quatro rotas do tráfico transatlântico: Guiné (Cabo Verde, Guiné-Bissau e Senegal), Mina (Gana, Togo, Benim e Nigéria), Angola e Moçambique, de onde estima-se que 5 milhões tenham sido escravizados e trazidos ao Brasil entre 1530 e 1888.
“Sankofa: A África Que Te Habita” também destaca análises de especialistas e debate os motivos da resistência em se incorporar a cultura africana à identidade brasileira.
Live com Sérgio Pererê fala sobre música e ancestralidade
Embora não tenha sido programada por conta do dia em que se lembra a assinatura da Lei Áurea, a live Dando Corda, da Orquestra Sesiminas Musicoop, com o cantor e compositor Sérgio Pererê vai acabar, inevitavelmente, esbarrando no assunto. “Vai somar com a discussão, é sempre oportunidade questionar e refletir sobre o assunto”, ele diz.
O bate-papo sobre música e ancestralidade acontece nesta quarta (13), às 21h30, com transmissão pelo perfil da Orquestra no Instagram e apresentação do maestro convidado Marco Antônio Maia Drumond. Hoje, não fosse a pandemia do novo coronavírus, Sérgio e os músicos da companhia realizariam o concerto “Canções Praieiras”.
“Quando penso no 13 de maio, fico imaginando que é uma reflexão política muito forte. É importante perceber que o que era o regime escravocrata é similar a nossa conjuntura política do país de hoje. Os povos que eram escravizados naquela época, negros e índios, também sofrem diante dessa loucura que é nosso país”, afirma Sérgio Pererê.
Sobre o tema da live, o cantor e compositor diz que ele é uma síntese para falar sobre diversos, desde seus processos de criação ligadas à música étnica de diferentes regiões até o sentido de ancestralidade. “Não só daquilo que é algo do passado, mas no sentido do que existiu antes, faz sentido agora e fará sentido sempre, em qualquer tipo de cultura e de tradição”, destaca o compositor.
No dia 23 (sábado), Sérgio Pererê faz show online do lançamento do álbum “Revivências”, às 21h, no YouTube. (Com Patrícia Casesse)