A ideia de inaugurar um espaço que pudesse agregar diversas manifestações e que pudesse ser de alguma maneira relevante para a cidade, contribuindo para a fruição artística, surgiu, na verdade, no final de 2012. "Não pude tocá-la à época por uma série de fatores. Mas desde então venho amadurecendo esta ideia. No meio do ano passado cheguei enfim ao formato que gostaria para o espaço, e resolvi colocá-la (a ideia) em prática", conta o jornalista, músico e escritor Marcus Vinicius Borges, sobre a Casa Polifônica - Galeria de Arte e Espaço Cultural, que será´inaugurada neste sábado (11), às 18h, com a mostra “Durante a Exposição a Galeria Estará Fechada", inspirada no trabalho de Robert Barry, que em 1969 montou três mostras ao redor do mundo com o título 'During the exhibition the gallery is closed’, colocando em discussão a materialidade e a fisicalidade da arte. Evidentemente, a inauguração do novo espaço belo-horizontino, neste sábado, será virtual, embora a mostra esteja, sim, montada no endereço físico. Que, aliás, é descrito por Borges como um "verdadeiro achado".
 
Na verdade, foi também no ano passado que ele conseguiu achar a casa que correspondia aos seus sonhos. "Fica em um lugar da cidade que considero perfeito, na junção da Floresta com o centro, logo no inicinho da (avenida) Assis Chateaubriand (nº 548). É uma casa linda, com fachada tombada pela prefeitura. Tem quatro salas para galerias e um espaço externo, onde a gente vai conseguir fazer debates, apresentações pocket de música... A casa deve ter uma capacidade para receber em torno de 70, 80 pessoas", revela. "Quando achei, não havia ainda a Covid-19, então, claro, tudo ficou mais complicado, tem os gastos... Mas não daria para arredar o pé agora. É tentar tocar da melhor maneira possível até a gente poder abrir a galeria física para o público". 
 
Se não fosse a pandemia, aliás, a abertura teria acontecido no final de maio, não com essa exposição, mas com o mesmo curador, o artista visual Froiid. "Essa, a da abertura, foi pensada justamente pela questão da Covid-19, de a gente ter ficado isolado, de não poder encontrar. Mas a montagem (na galeria física) foi totalmente planejada de modo a garantir a segurança dos artistas e da curadoria, então, cada um deles foi lá, num horário determinado, para montar". Participam desta mostra de abertura Clarice Panadés, Bruno Rocha, Monique Camelo e Francisco Pereira. Ao todo serão exibidas 37 obras.
 
"Froiid já tem toda uma atuação na história das artes visuais da cidade, como no (na galeria) Piolho Nababo, no (edifíico Arcangelo) Maletta, junto com o Desali. Já trabalhei várias vezes com ele, então, foi uma escolha afetiva, mas também porque me identifico com ele". Froiid também esteve por trás da criação do MAPA:/., e, desde 2015, atua no Lab|front (Laboratório de Poéticas Fronteiriças), grupo de pesquisa de desenvolvimento e inovação que se propõe a problematizar as/nas fronteiras. (http://labfront.tk).
 
Justamente pelo desejo de abarcar vários recortes de manifestações artísticas e culturais, o nome escolhido para batizar o espaço foi Polifonia. "O desejo que a casa possa absorver essas diversas vozes que atuam no campo artístico", diz Marcus Borges, explicando que pretende trabalhar basicamente com cultura urbana, com a arte experimental, a cultura negra e o hip hop ("BH é um celeiro do hip hop, mas isso é muitas vezes renegado nas galerias, o grafite poucas vezes vai para lugares de legitimação, como museus").
 
"A ideia é trabalhar com artistas novos ou já consagrados, mas sempre com uma proposição estética muito voltada para a contemporaneidade, seja pensando esteticamente os processos sociais, econômicos, a arte com um todo...", prossegue Marcus. Na mostra de agora, Bruno Rocha trabalha com fotografias que retratam espaços públicos vazios, com a captura da cidade esvaziada de pessoas. Já Clarice Panadés trabalha a experimentação de traços sobre papel. Francisco Pereira cria a partir de diversas técnicas do registro fotográfico e leva para a mostra uma instalação que busca na interação com o público sua significação. Monique Camelo parte de sua pesquisa relacionada às doenças tropicais para colocar em evidência a relação entre o mosquito da dengue e a colonização. Ela trabalha com o desenho utilizando tecidos de diversas cores. Sua obra  dialoga com o tropicalismo e o fazer artístico de nomes como o de Hélio Oiticica.
 
E enquanto a ameaça da pandemia não se dissipa, Marcus conta que vai criar alguns programas online, como o Cena Polifônica. "Vai abarcar música, literatura, artes plásticas e visuais, hip hop. Bem diversificado. Irá ao ar uma vez por semana, e terá 45 minutos. O objetivo é dar vazão e suporte a expoentes da cidade "neste momento de solidão e de tristeza para a classe artística, já que não se tem espaço para trocar, estamos todos confinados em casa".
 
Em breve, Borges também deve colocar no ar um outro programa, quinzenal, sobre cultura negra, que vai ser tocado por Bruna Silveira, doutoranda em Comunicação pela UFMG, e que já tem todo um trabalho voltado para as narrativas negras. "Num outro momento, será lançado um programa  voltado à arte LGBT", avisa ele.
 
Serviço.
Inauguração da “Casa Polifônica – Galeria de Arte e Espaço Cultural” com a mostra “Durante a Exposição a Galeria Estará Fechada"
Data: 11/07/2020
Horário: 18h
Período da exposição: 11/07/2020 a 03/08/2020
Local: Instagram (@casapolifonica) e YouTube (https://bityli.com/kj5eX)
Gratuita
Contato: casapolifonica@gmail.com