Bela iniciativa

Campanha para viabilizar 'Coleção Diário Negro Livros Antirracistas' tem início

A coleção Diário reúne 40 entrevistas conduzidas por Anelito de Oliveira, de maio a agosto de 2020, no Instagram

Por Patrícia Cassese
Publicado em 05 de outubro de 2020 | 19:42
 
 
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No curso da pandemia, o escritor, crítico e professor Anelito de Oliveira não teve grandes dificuldades em constatar que a quarentena acabou por escancarar algumas mazelas históricas do Brasil. "E uma delas é justamente o racismo", diz, lembrando que, no país, grande parte dos óbitos pelo novo coronavírus são de pessoas negras.

Não bastasse, e agora em âmbito agora mundial, ele acrescenta que foi em plena pandemia, a partir do episódio da morte de George Floyd,  asfixiado por um policial de Minneapolis em 25 de maio, que eclodiu o movimento Black Lives Matter, disseminado por todos os continentes.

No bojo de tantos acontecimentos, ele resolveu tocar a iniciativa "Diário Negro", no YouTube e no Instagram. Trata-se de uma série de 40 entrevistas  conduzidas pelo próprio Anelito, de maio a agosto. Juntas, constituem um documento coletivo precioso da experiência provocada pela Covid-19. E muito potente.

A novidade é que a experiência será transposta para o formato livro. Na verdade, um box com quatro volumes, visto que as entrevistas são distribuídas em quatro temáticas: sertão, afrobrasilidade, literatura e racismo. A chancela será da Páginas Editora, que iniciou agora a campanha de financiamento coletivo para produção editorial, que vai se chamar coleção "Diário Negro – livros antirracistas".

"Em maio, decidimos implementar essa que eu chamo de uma ocupação quilombola virtual, exatamente o Diário Negro, e que depois se estendeu para o Instagram, com formato de live. Mas uma live pensada como um produto jornalistico. Assim, até agosto, foram 40 entrevistas, divididas nesses quatro temas. O primeiro diz respeito ao interior, ao sertão, no qual realizamos dez lives com esse interesse, de trazer esse lado digamos mais sombrio na pandemia, mostrar como a coisa andava no interior do país, em particular, no de Minas. Conversamos com professoras , pesquisadoras, intelectuais, gestores, políticos...", enumera. 

Depois, prossegue ele, veio o recorte literatura, "convidando pessoas que são do universo da escrita, mas que também transitam nos movimentos sociais". "Como Cidinha da Silva, Eduardo de Assis Duarte... Gente que tem a percepção do fazer literário na sua relação com a sociedade. E depois ampliamos para o recorte afro-brasileiro e para racismo, trazendo também participações de nomes da Guiné- Bissau e de Angola".

Anelito conta que, no somatório, foi um processo muito rico, envolvendo também não-negros. "Considero que temos aí um documento coletivo de muita riqueza. São 40 vozes muito qualificadas, tratando da experiêcia da pandemia sempre na persspectiva da questão racial, até para afirmarmos a amplitude dela. Porque quando falamos de racismo, falamos de sociedade", pontua.

O escritor adiciona que, além da parceria com a Páginas Editora, a empreitada conta com apoio institucional do Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Alteridade (Neia), "que há 20 anos desenvolve um trabalho excepcional na Fale/UFMG, com o comando do Marcos Alexandre e do Eduardo Assis Duarte. Eles, junto a mim, que também sou pesquisador (do Neia), articulamos esse apoio institucional, para que a gente possa referenciar a obra no campo da academia. E também contamos com o apoio do Mestrado Profissional em Filosofia/Laboratório de Filosofia da Unimontes".

Outro apoio digno de nota foi o do Museu Artur Bispo do Rosário, que vai autorizar a reprodução dos mantos do artista na capa. "Parte da renda dos livros será doada para as ações do equipamento, situado na colônia Juliano Moreira (no Rio de Janeiro)". No geral, diz Anelito, a ideia é que a edição possa chegar a bibliotecas de todo o país e também a entidades que lutam contra o racismo, assim como outras mazelas, como a LGBTfobia e a violência contra a mulher. "Entidades que pomovem os diretos humanos", sintetiza.


Outra boa notícia é que, em novembro, novas entrevistas serão feitas e disponibilizadas nas citadas redes, "para, neste ambiente virtual, elevar o nível do debate social", expõe Anelito. E acrescenta. "Eu acredito que o Instagram não deve ser usado apenas para promover egos, mas, sim, a coletividade, para que a gente abra debates fertéis aí, sobre questões que incomodam".

Integram os livros entrevistas com: Abreu Paxe. Aciomar de Oliveira, Antônio Wagner, Beto Vianna, Carlos Eduardo Araújjo, Carlos Emilio Corrêa Lima, Cidinha da Silva, Clara Arreguy  Eduardo de Assis Duarte,  Ésio Macedo Ribeiro, Fábio Figueiredo Camargo, Fernando Mandinga da Fonseca, Fernando Salomon Bezerra, Hamilton Borges, Helena Soares Aphonso, Hilário Bispo, Ildenilson Meireles, Janaelle Neri, João Balaio, Júlio Urrutiaga Almada, Levon Nascimento, Lídio Barreto, Lúcio Júnior,  Lipa Xavier, Luis Turiba, Marcos Cardoso,  Marcos Fabrício Lopes Silva, Mércio Mota Antunes, Paulo Rogério, Pedro Mello, Rafael Balseiro ZIn,  Raimundo Carvalho, Renato Negrão, Ricardo Alexino Ferreira,  Ricardo Silvestrin, Ronald Augusto, Rosane Borges, Santone Lobato,Tom Farias, Wagner Rocha.

Para colaborar com o projeto, acesse:

https://www.catarse.me/colecao_diario_negro?ref=ctrse_explore_pgsearch

 

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