O chargista Renato Aroeira, 65, confessa com certo humor: “Minha filha não me deixa mais sair de casa, fica me vigiando”. Ele gostava de caminhar de manhã, tomava um cafezinho e “flanava, como dizem os franceses”. “Não faço isso mais”, admite. Nascido em Belo Horizonte, ele se mudou para o Rio de Janeiro em 1985, onde construiu uma carreira de sucesso em veículos como O Dia e a revista Istoé. Atualmente, desenha para o portal Brasil 247.

Além disso, Aroeira costumava se apresentar como saxofonista com o seu trio de choros, aos domingos no Cais do Oriente e no Largo da Memória aos sábados. “Com o coronavírus, uma das duas profissões que tenho, a de músico, acabou. Todos os shows foram cancelados, os lugares onde a gente tocava estão entregues às moscas”, diz.

Por outro lado, a atividade de chargista não foi afetada, já que Aroeira estava acostumado a trabalhar em casa. “Há um tempão meus amigos me falam que os políticos fazem as piadas e nós apenas escolhemos qual iremos usar, quando pegamos o jornal de manhã. O detalhe é que isso piorou muito nos últimos anos. Estamos vivendo o tempo dos beócios”, dispara.

Com isso, as horas de seu dia seguem preenchidas, em grande parte, pelo ofício. “Essa epidemia deixou claro que grande parte do trabalho do mundo já poderia estar sendo feita de casa e deu um sopapo gigantesco no neoliberalismo. Dois dos principais líderes da Europa tiveram que dizer, com todas as letras, que saúde não é mercadoria, pelo contrário, é uma conquista da socialdemocracia. Por aqui, os planos de contingenciamento contemplaram as empresas e não fizeram praticamente nada pela população. O tal do subemprego agora vai mostrar o que ele realmente é”, critica o desenhista, dando pistas de suas próximas criações.

Por fim, Aroeira sugere que as pessoas assistam aos canais de TV que abriram seus conteúdos e acessem o YouTube, onde diversos shows estão sendo realizados pela internet. “E, claro, vamos voltar aos livros, que são uma fonte de vitaminas importante da civilização. Com os livros, passamos a viver a vida de outras pessoas e compreendemos o que acontece com elas, gerando empatia”, finaliza.