Em suas incursões sonoras, a cantora, compositora, poeta e musicista Coral tem experimentado ("e me deixado passear") por várias estéticas. "E, em todas elas, tentando imprimir aquilo no qual acredito poeticamente, politicamente, emocionalmente, espiritualmente", complementa ela que, natural de Jequié, Bahia, está radicada em Belo Horizonte já há alguns anos. O processo é similar ao que Coral exercita todo dia, diante do espelho, quando troca de roupa, por exemplo. "Ou quando a minha corpa, sem que eu queira, também o faz. O violão está ali, que é de onde vim, mas tenho experimentado outras sonoridades - então, a minha música é uma MPB trans, digamos, como já disse Jean Wyllys", diz a artista, que adentra esta quinta-feira com algumas novidades a bordo.
É que neste 16 de setembro chega às plataformas digitais o seu EP de estreia, “Carne". Não só. O público que a acompanha também poderá conferir o lançamento do videoclipe de uma das faixas do trabalho, “Tá me Entendendo, Pai?”, no YouTube. "A gente optou por fazer um clipe soturno, justamente porque a faixa traz uma poesia irônica e muito embasada no quesito da necropolítica mesmo, que é o que vivemos. Uma política que visa o extermínio de corpas e corpos que estão fora da paleta hegemônica do patriarcado e da branquitude. Escolher um centro de reciclagem como paisagem dialoga também com o contexto que o capitalismo apresenta", explana.
A música, prossegue Coral, foi escrita em um contexto pandêmico, no qual não se sabia qual seria o futuro. "Não tinha chão, a gente não sabia o que ia acontecer. Sabendo que várias corpas vivem em situação pandêmica há muito tempo, e que essas também fazem parte do sistema que as aprisionam, a letra propõe um retorno para o coletivo e para si mesma como maneira de subverter essa realidade". A artista ressalta, porém, que a letra, para além de datar o momento em que vivemos, não é pra ser entendida, e, sim, refletida, digerida. "E esse sentimento faz com que a música seja atemporal também". Musicalmente, a ideia foi alcançar uma estética que ela chama de "um tanto barulhenta e eletrônica". "E uma paisagem sonora quase purgatória. A estética é bem parecida com o trap - eu diria um trap-mantra-canção".
Num escopo mais amplo, "Carne", diz Coral, traduz o que existe nela "e que também existe em você, que existe em todas as pessoas que pode ser orgânico ou não porque pode ser a nossa roupagem, a nossa pele, os nossos desejos, a nossa espiritualidade, o nosso 'valor' - tudo o que circunda e veste". “Quizila”, a segunda faixa do EP, ela descreve como uma oração. "Eu, como boa filha de Xangô, quis trazer um pouco da minha relação pessoal com a espiritualidade e o meu medo da morte. Na música, a gente mesclou uma sonoridade junina com uma base bem marcada". Já “Partida” é uma composição colaborativa com a poeta belo-horizontina Clara Delgado. "Fala sobre amores que chegam e que partem ao mesmo tempo. Essa música é uma balada para se ouvir tomando sol", sinaliza. Por último, mas não menos importante, tem “Três da Manhã”. Como o próprio nome diz, é um gotejo de alvorada, um questionamento sobre o valor das interações. Musicalmente, dá pra tirar a roupa enquanto a gente escuta essa canção".
Coral lança EP “Carne” e clipe “Tá me Entendendo, Pai?”
Nesta quinta-feira, 16, no YouTube e nas plataformas digitais