Música

Em novo disco, Mart'nália celebra o legado de Vinicius de Moraes

Álbum traz 14 faixas e participações de Maria Bethânia, que recita poema em Eu Sei que Vou te Amar' e Carla Bruni com quem Mart'nália canta em Insensatez

Por Carlos Andrei Siquara
Publicado em 02 de abril de 2019 | 03:00
 
 
 
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Os versos do poeta e compositor Vinicius de Moraes (1913-1980) ecoam na voz de Mart’nália desde o seu terceiro disco, “Pé do Meu Samba” (2002), que teve direção artística de Caetano Veloso. De lá para cá, a cantora, que compartilha com o mestre carioca a paixão pela poesia, tem encontrado no repertório dele uma inspiração constante. Essa afinidade culmina no novo disco, “Mart’nália canta Vinicius de Moraes”, que conta com as parcerias de Maria Bethânia e Carla Bruni.

“Há alguns anos, eu fiz uma série de quatro shows no Rio cantando só Vinicius e Noel Rosa (1910-1937). Quando eu percebi que o show estava bom, eu pensei em gravar um disco. A princípio seriam apenas canções de Noel Rosa, mas no ano passado a Teresa Cristina fez um disco com essa mesma proposta que ficou bem legal. Então, eu tentei sair um pouco do lugar comum e fiquei só com Vinicius”, conta Mart’nália.

Nesse projeto, ela recebeu a contribuição dos arranjadores Celso Fonseca e Arthur Maia, que a acompanham desde o início de sua carreira, na década de 80. “Eu os chamei para me ajudar a dar essa cara bem carioca ao disco. O Rio foi onde eu me criei, ouvindo um pouco de tudo, e eu queria que o álbum fosse fiel ao Vinicius e ao mesmo tempo tivesse o meu som, mas sem mudar a melodia, nem a poesia dele. Eu não queria alterar nada, mas acrescentar, dar continuidade”, garante a artista.

A partir dessa decisão, ela seguiu para a escolha do repertório, chegando a um total de 30 faixas. A parte mais difícil, para ela, foi ter que definir o que não poderia deixar de ser gravado. “Muita música ficou de fora, infelizmente. Quando eu ouço uma canção de Vinicius, o que mais me pega é a poesia. Mas algumas eu não gravaria, por exemplo, ‘Eu Sei que Vou Te Amar’.Essa o Arthur (Maia) insistiu muito e eu acabei gravando pra ele mesmo”, diz.

“Já outras eu escolhi porque acho que tem mais a ver comigo. São músicas em que eu me sinto mais à vontade. A única que eu conhecia menos era ‘Um Pouco Mais de Consideração’. E, no geral, foi muito prazeroso fazer esse disco”, completa Mart’nália. 

Houve também algumas licenças poéticas, especialmente em “Eu Sei que Vou Te Amar”. Para esta, a cantora chamou Maria Bethânia, sua madrinha, que recita o poema de abertura. Desta vez, não foi o tradicional “Soneto de Fidelidade”, e sim o “Soneto de Corifeu”.

“Quando estávamos em estúdio trabalhando nessa canção, eu pensei: ‘poxa, vou chamar minha cabocla para recitar o poema para mim’. Aí, eu encontrei com ela em uma festa e fiz o convite. Ela aceitou, mas me perguntou: ‘posso escolher o poema?’. E veio com o ‘Soneto de Corifeu’, que não é o original, mas o resultado ficou muito lindo”, relata Mart’nália.

“Não tem quem entenda de Vinicius de Moraes com tanta propriedade quanto Bethânia”, comenta em seguida. Mart’nália também celebra a participação de Carla Bruni, que gravou sua parte da França e poderá ser ouvida em “Insensatez”.

“Eu gosto de misturar as coisas e estava pensando em alguém para cantar comigo. Achei que seria legal chamar a Carla Bruni. Vinicius tinha uma relação com a França, o que casou com essa ideia. Fizemos o convite para ela, acho que ela deve ter dado uma ‘googleada’ e eu fiz o mesmo para entender melhor o trabalho dela e ver se dava bom, e, no fim, acho que ficou bem chique. Talvez essa seja uma das canções que ficaram num tom mais clássico, mas nas outras, nós demos uma ‘blackeada’”, diverte-se Mart’nália.

Faixa a faixa por Mart'nália

“A Tonga da Mironga do Kabuletê”

“Essa música é uma homenagem à minha mãe (Anália Mendonça), que sempre que ficava meio brava dizia assim: ‘Vá lá pra tonga da mironga do kabuletê!’”.

“Canto de Ossanha”

“Essa também é uma homenagem a ela (sua mãe). Ela cantava e tinha uma voz muito potente, cantava assim meio grosso; então, nessa canção, eu também busquei fazer uma voz um pouco mais grave”.

“Insensatez”

“Meu pai (Martinho da Vila) foi amigo de Vinicius de Moraes, e ‘Insensatez’ era uma música que meu pai cantou muito na década de 80. Coloquei essa no repertório pensando muito nele”.

“Minha Namorada”

“Eu adoro essa música, me identifico muito com ela, porque tem toda aquela coisa carinhosa de Vinicius. Achei que ela ficou bem gostosa, meio brejeira, mas respeitando a poesia da original”.

Ouça mais

“Misturado” (2017)

Com oito canções inéditas a partir de parcerias com Zélia Duncan e Teresa Cristina, entre outros, o trabalho conquistou o Grammy Latino em 2017.

“Em Samba!” (2014)

Com direção de Martinho da Vila, o show que deu origem ao álbum revisita sucessos de bambas do gênero, como Cartola, Noel Rosa, Dona Ivone Lara e Dorival Caymmi.

“Não Tente Compreender” (2012)

Dirigido por Djavan, álbum mostra lado pop da cantora, com canções de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Marisa Monte, entre outros.

“Madrugada” (2008)

O sétimo álbum de sua carreira é dedicado à boemia e reúne músicas de Paulinho Moska, Martinho da Vila, Dori Caymmi, entre outros, e parceria com Arthur Maia.

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