"Spencer" começa como um pesadelo. Numa estrada secundária, o carro esporte de Diana Spencer avança velozmente -até que de repente, ela percebe estar perdida. Entra em um restaurante popular, bem popular, e pergunta onde está, diante das pessoas pasmas com a presença de Lady Di naquele lugar.
Ela segue, capota aberta, em ritmo de verão. Mais adiante descobre que está nos lugares em que foi criada, quase diante da casa de sua família. Comenta que tudo mudou. Mas nada pode ter mudado. Não há nada ali para mudar. Até o espantalho que seu pai colocou no campo permanece o mesmo, com o mesmo casaco.
Pouco depois, Diana chega ao palácio onde deve passar o Natal. Aos poucos, o tom onírico desaparece. Na medida em que é possível fazer sumir o tom onírico das coisas da monarquia britânica, bem entendido. O certo é que, dali por diante, o pesadelo de Diana se torna mais real.
O desajuste entre ela e as convenções do palácio é evidente -os vestidos já estão designados e etiquetados, cada um para cada ocasião. Os horários são coisa sagrada. E por aí vai. O que chama mais a atenção, no entanto, é a transição climática, do sol abundante e dos trajes ligeiros da estrada para o clima natalino, invernal.
Logo, ela se queixa do frio. Pede que aumentem o aquecimento. Em troca, um secretário lhe oferece mais casacos! Ela bufa. O desencontro não poderia ser mais completo: Diana é mostrada como uma burguesa. Ou um elefante em loja de porcelana, tanto faz.
O principal achado de "Spencer" é colocar Lady Di dentro daquilo em que todos pensavam que ela estava: um sonho. Mas o sonho para ela é feito de puro horror -o desdém ultrajante do marido, os olhares impiedosos da rainha, a rigidez dos hábitos. A obrigação de sorrir para os fotógrafos. Tudo a atinge.
De repente, um retorno ao pesadelo (eles ocorrem de tempos em tempos). Como não segue a recomendação de manter as cortinas fechadas ao se trocar, elas são costuradas, de modo que seu quarto nem ao menos recebe a luz do dia (por algum tempo).
Para complemento, Diana tem a seu lado um livro sobre Ana Bolena, que por sinal ela recorda que seu pai lembrava ser uma antepassada dos Spencer. E Ana Bolena foi decapitada por Henrique 8º, para que ele pudesse casar-se novamente.
É bem assim que Diana se vê no filme de Pablo Larraín: uma estranha com o pescoço a prêmio na Casa de Windsor.
É esse olhar que faz a originalidade do filme. Larraín coloca Diana atravessando imensos corredores, sempre sozinha, de modo que eles parecem ainda mais imensos. Quando chega a uma sala -é sempre a última-, é para receber o olhar de reprovação da rainha.
Como diz seu marido, na realeza é preciso ser dois: a figura pública e a privada. Diana não se dá muito bem no papel. E como ser diferente? No palácio espera-se que cada conviva engorde 1,5 kg durante as festas natalinas. Ela, com sua bulimia, vomita tudo o que come com a voracidade de quem expele de si a realeza britânica. É a duplicidade que ela parece rejeitar, essa convivência entre sonho e realidade que os outros suportam olimpicamente, no retrato que lhe pintam Larraín e Kristen Stewart.
Esta parece ser a intérprete ideal para Diana. Desde seu reinado como a heroína da série "Crepúsculo", parece decidida a fazer carreira entre a Europa e a América independente, deixando de lado Hollywood sempre que pode. Em certos aspectos, a casa real britânica e a realeza do cinema parecem ter bastante em comum.
SPENCER
Quando: Estreia nesta quinta (27), nos cinemas
Classificação 12 anos
Elenco: Kristen Stewart, Sally Hawkins e Timothy Spall
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