Música

Fabiana Cozza lança single e clipe de 'Senhora Negra'; álbum sai em setembro

Faixa é uma composição do mineiro Sérgio Pererê e já está nas plataformas digitais; neste sábado (20), cantora e compositora faz live sobre o novo trabalho e debate questões sociais e culturais

Por Bruno Mateus
Publicado em 19 de junho de 2020 | 13:14
 
 
 
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Há três anos, Sérgio Pererê gravou “Senhora Negra” em seu álbum “Aparecida, Reinos Negros”. A música nasce a partir de uma homenagem à cultura do congado mineiro e do bairro Aparecida, em Belo Horizonte. Naquela ocasião, o cantor e compositor convidou Fabiana Cozza para interpretar a faixa. “Fiquei profundamente emocionada. É uma oração, uma canção muito profunda, amorosa, de uma beleza ímpar”, ela diz. “Minha relação com o Pererê vem de muitos anos. Ele é um amigo muito estimado, um compositor que admiro muito, adoro, respeito, ouço”, completa.

Tempos depois, quando começou a pensar o repertório para o disco que lança em setembro, a cantora e compositora paulistana não teve dúvidas: faria sua própria versão de “Senhora Negra”, que chega nesta sexta-feira (19) às plataformas digitais inaugurando a série de três singles até que o disco saia do forno - os outros dois serão lançados em julho e agosto. A faixa conta com a participação das cellistas Vana Bock e Adriana Holtz e o arranjo é assinado pelo baixista, compositor e produtor do disco, Fi Maróstica.

A música também ganhou um clipe delicado e forte na mesma medida, fruto de uma ação coletiva de amigos de Fabiana, que produziram pequenos vídeos respondendo a uma pergunta: onde você enxerga espiritualidade, onde você deposita a sua fé? O vídeo vai ao ar também nesta sexta, às 18h, no canal da cantora no YouTube. 

Ao valorizar a cultura do congado, “Senhora Negra” remonta à tradição bantu e dos povos negros que chegaram ao Brasil. Tema caro à Fabiana Cozza e sempre cantado em sua carreira, a ancestralidade negra e essa cultura arraigada no sangue também estão presentes no novo trabalho.  “É importantíssimo que a gente conheça nossa cultura por dentro, pelas suas veias mais profundas, pelas veredas. Esse é um Brasil que o Brasil nega, e esse disco vem deixar muito claro a minha escolha, de que lado estou”, comenta a compositora.

Lives quinzenais

Neste sábado (20), às 17h, Fabiana Cozza e o historiador, escritor e compositor carioca Luiz Antonio Simas, parceiro da cantora no disco, iniciam uma série de lives quinzenais no canal da cantora no YouTube. Nessa primeira transmissão online, eles recebem o compositor baiano Tiganá Santana, autor de uma das faixas do álbum. A conversa vai girar em torno do sagrado na cultura afro-indígena brasileira e o atual universo cultural do país. “Meu novo disco como um todo dialoga com uma cultura que não é valorizada do ponto de vista dos trâmites oficiais, do que se esperaria que fosse a cultura popular para um país da importância e da diversidade do Brasil”, pondera.

Quarentena e política

Fabiana Cozza tem passado seus dias de quarentena em retiro total no Sul de Minas com suas cachorras e longe do companheiro, da família e dos amigos. Ela diz que tem sido um período importante para perceber e redimensionar aquilo que é importante em sua vida. A cantora está compondo com mais frequência, inclusive já escreveu duas músicas com o belo-horizontino Cristiano Cunha, tem dado aulas de canto, voltou a estudar violão e canto. “É um tempo, no meu caso, em que estou me preparando também para novos desafios”, conta.

Os desafios, nesse caso, não dizem respeito somente à carreira. Ao mesmo tempo em que faz lives e está prestes a lançar mais um disco, Fabiana não desliga da realidade política e social do país. Segundo ela, o Brasil vem de uma série de danos causados pela gestão de Michel Temer e acentuados no governo Bolsonaro. Ela prega força, união e consciência para reverter o que chama de “desastre político no qual nos metemos” e ressalta que a compreensão dos privilégios que alguns têm em detrimento de outros se faz urgente neste momento.

“Esses outros a gente sabe quem são, a gente sabe o território onde estão: nas comunidades, nas periferias. São os indígenas nas florestas, é o povo trabalhador que não tem trabalho. E a gente sabe a cor que essa gente tem: os pretos, os indígenas, esse povo oprimido que sempre foi oprimido, que nunca foi ouvido. Meu disco está do lado dessa gente. Eu canto as crendices e a cultura que aprendi com essa gente”, diz Fabiana Cozza, reafirmando o sentido político, social e questionador de sua música.

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