Depois de lançar dois longas em apenas um ano – “No Coração do Mundo”, de Gabriel Martins e Maurílio Martins, e “Temporada”, de André Novais Oliveira –, a produtora mineira Filmes de Plástico quer entrar para o universo das séries. Segundo o produtor Thiago Macedo Correia, sócio da empresa que nasceu em Contagem, esse é um sonho que tem rondado os diretores há algum tempo.
“Fazer série nos interessa muito, mas, com os lançamentos deste ano, estávamos muito focados nos longas e não conseguimos desenvolver um projeto”, contou Correia ao Magazine, durante a Max 2019, evento do mercado do audiovisual, realizado nesta semana em Belo Horizonte.
Correia participou do painel “Made in Minas”, que discutiu os trâmites para viabilizar coproduções para projetos regionais. Recentemente, a Filmes de Plástico anunciou parceria com a RT Features, de Rodrigo Teixeira, produtor de “A Vida Invisível”, para um projeto com roteiro e direção de Gabriel Martins.
“Belo Horizonte tem cada vez mais potência para conversar com o mercado audiovisual nacional e até internacional”, defende Correia. “Há muito talento aqui, muita coisa acontecendo. Tem muita gente de fora olhando para o que está sendo produzido aqui”, garante.
Apesar da vontade de investir em séries, Correia reforça o discurso presente durante todo o evento: unir esforços para manter o mercado do audiovisual brasileiro forte, apesar da redução das leis de incentivo.
“Quanto maior o incentivo, mais resultado”, fala o produtor, que cita como exemplo desta equação o cinema pernambucano. Ele lembra que o cinema mineiro está vivendo um bom momento, tanto que foi destaque nas últimas edições do Festival de Brasília.
Projetos
A Max 2019 reuniu produtores em busca de projetos e realizadores em busca de parceiros. Representantes de gigantes internacionais, como a Netflix e a Viacom, marcaram presença no evento, assim como grandes produtoras nacionais como a Giros, a Academia de Filmes, a Moonshot, entre outras. Coube às produtoras falarem quais são os tipos e temas de projetos que estão buscando.
A Netflix, por exemplo, representada pela produtora Maria Angela de Jesus (ex-HBO), deixou claro que está aberta a quaisquer ideias e formatos, contanto que sejam boas histórias. Corre nos bastidores das produtoras independentes que a empresa de streaming quer investir em produções com apelo popular como a série “Sintonia”, que fez em parceria com a KondZilla. Ela também falou sobre os próximos lançamentos (veja abaixo).
Já a Giros, por exemplo, está atrás de projetos que tenham foco na Semana de Arte Moderna de 1922, já de olho no centenário, daqui a dois anos. “Pode ser documentário, série documental, ficção”, fala Bianca Lenti, diretora de criação da produtora responsável por atrações como a série “Jungle Pilot”, com a Universal TV.
Netflix quer apostar em produções com ‘força local’
A produtora Maria Angela de Jesus, diretora de produções internacionais da Netflix Brasil, abriu o painel “Conversa com a Netflix”, parte da programação da Max 2019, reforçando a ideia da empresa de streaming em procurar histórias que tenham “força local”. Dentro desse contexto, ela cita atrações como “Sintonia”, coprodução com a KondZilla, e a primeira série que estreou na plataforma, “3%”, feita em parceria com a Boutique Filmes.
“3%” é uma série de ficção científica distópica que traz Bianca Comparato, Rafael Valente e Joana Coelho no elenco, que teve participação de Maria Flor, Fernanda Vasconcelos, Zezé Motta, Sérgio Mamberti e até Ney Matogrosso. A atração criada por Pedro Aguilera conquistou público e também crítica, afinal, o país não tem tradição neste tipo de narrativa e é interessante ver como a trama se desenrola.
Aguilera está à frente de “Onisciente”, lançamento da Netflix para 2020. Trata-se também de uma ficção científica que tem um quê de “Black Mirror” ao imaginar um futuro em que todas as informações das pessoas estão num minidrone. A trama traz suspense em um cenário desolador, assim como “3%”.
Maria Angela anunciou ainda a segunda temporada de “Coisa Mais Linda” – com Maria Casadevall, Pathy Dejesus, Fernanda Vasconcelos e Mel Lisboa –, além de “Reality Z”, a primeira série nacional de terror, com Sabrina Sato.
Esses projetos da Netflix no Brasil exemplificam bem o que os canais, os distribuidores, as empresas de streaming e as produtoras buscam hoje no Brasil: histórias regionais, mas que sejam também globais.
“Os realizadores precisam ter a clareza de que, hoje, a produção nacional tem de visar o mercado global e não só local”, fala Lucas Soussumi, gerente de Projetos da Bravi, associação de produtoras independentes do Brasil, que organiza a Max, evento realizado nos dias 28 e 29, em Belo Horizonte, que recebeu 476 projetos de todo o país, 291 deles de Minas Gerais.