A partir do dia 1º de agosto, Grace Passô vai estar novamente em cartaz nos cinemas – desta vez, com o filme “No Coração do Mundo”, dos diretores mineiros Gabriel Martins e Maurílio Martins, sócios da produtora Filmes de Plástico, de Contagem. A obra, que sai depois de “Temporada” (2018), de André Novais, com o qual arrebatou o prêmio de melhor atriz no Festival de Brasília, no ano passado, é, na verdade, anterior a esse e representa um divisor de águas na trajetória dela.
Grace recorda que conheceu André Novais justamente durante a filmagem de “No Coração do Mundo”, e, portanto, esse é o trabalho responsável por abrir portas para ela no cinema – o que vem se expandindo desde então. Além desses dois filmes, ela produziu uma adaptação da peça “Vaga Carne”, de sua autoria, junto com o cineasta mineiro Ricardo Alves Jr., cuja circulação em festivais tem sido acompanhada de boa repercussão.
Com Alves Jr., ela também está tocando outra produção cinematográfica, que vai se chamar “A Professora de Francês”. Além disso, o reconhecimento do trabalho da artista nesse universo tem ampliado os horizontes de sua atuação. Grace revela que, atualmente, está no início das filmagens de duas novas séries para a Netflix, fazendo a atriz permanecer grande parte do tempo na capital paulista. Por todos esses desdobramentos, “No Coração do Mundo” é muito especial para ela.
“Foi a partir dele que eu tive mais vontade de fazer cinema. Eu tinha uma relação distanciada, de pouco contato e aderência com essa linguagem. E foi com ‘No Coração do Mundo’ que eu descobri que era possível conceber um cinema familiar, com o qual eu poderia ter mais intimidade. Eu descobri outras possibilidades criativas com o cinema, sem deixar também de buscar entender ainda mais a minha relação com o teatro”, relata Grace.
E, de fato, ela vem mantendo seus projetos no palco paralelamente. De acordo com Grace, há a intenção de produzir uma continuidade de “Vaga Carne”, e agora a artista tem dividido a dramaturgia de uma opereta sobre a vida e a obra de Itamar Assumpção (1949-2003) com Anelis Assumpção – filha do músico homenageado. Grace também assina a direção desse espetáculo, que deverá estrear em São Paulo no mês de novembro.
“Itamar faria 70 anos em 2019, então nós estamos preparando um trabalho que vai fundir a biografia e as músicas dele. Anelis vai dividir o palco com outros músicos e atores, dentre eles Fabricio Boliveira. E Itamar era superperformático, seus shows eram verdadeiras obras teatrais, então nós estamos explorando isso mesmo”, conta Grace.
Literatura
A artista também retorna neste ano à Festa Literária Internacional de Paraty, apresentando-se no sábado (13). O foco ali será sua escrita, a qual ela não desvincula de suas pesquisas teatrais. “Minha escrita é performática, eu escrevo para o teatro. Na Flip, eu vou tratar um pouco disso, fazendo um panorama do que já fiz, e vou comentar o que venho experimentando na escrita teatral”, sublinha.
Para Grace, suas peças nascem, principalmente, de pensamentos sobre o presente e do seu olhar para as contradições e os diversos conflitos do país.
“A minha escrita teatral está intimamente ligada às reflexões, exigências e urgências da nossa sociedade. Eu escrevo sempre como uma espécie de diálogo com a nossa realidade. O que eu tenho escrito para o teatro é resultado de reflexões sobre a sociedade brasileira, sobre as existências negras, sobre uma procura pessoal, que é entender profundamente o que pode ser o teatro negro brasileiro”, frisa.
“Também estou sempre pensando sobre o que é ser mulher e sobre o nosso direito inquestionável de sermos livres”, conclui Grace.