Música Instrumental

Guanduo fala sobre Prêmio Marco Antônio Araújo

Hoje morando na Alemanha, os integrantes também conversaram sobre os dias de pandemia e o processo de feitura do disco que lhes rendeu o prêmio

Por Patrícia Cassese
Publicado em 23 de maio de 2020 | 19:46
 
 
 
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Difícil não começar a conversa pelo famigerado confinamento. Mas, no caso, Eduardo Pinheiro e Juliano Camara, que formam o Guanduo, estão vivendo uma realidade um pouco diferente da vivenciada pelo Brasil atualmente: é que os músicos estão residindo na Alemanha. "Neste momento, estamos dentro de casa, tentando estudar, aprender um pouco mais sobre esses recursos da área digital, que hoje em dia são ferramentas que devem fazer parte da grade curricular de todo músico, até para divulgar material nas redes sociais", conta Eduardo. Ele também segue dando aulas por Skype ou Zoom. "Mas os concertos, ao menos até setembro, aqui, na Alemanha, estão cancelados". Juliano completa: "Estou me dedicando à composição e também dando aulas online. E tentando movimentar as nossas redes sociais, que é uma coisa na qual a gente sempre foi um pouco relapso, fazia esporadicamente. Agora, queremos manter uma regularidade".
 
Mas o que motivou o contato para a entrevista foi outro assunto. Este ano, o Prêmio Marco Antônio Araújo elegeu como vencedor, no quesito música instrumental, o álbum "Música Disfarçada de Gente" (2019), do Guanduo  - o músico Celso Adolfo venceu a premiação de canção com o álbum "Remanso de Rio Largo" (2019).
 
Gravado no Brasil e na Alemanha, "Música Disfarçada De Gente" é o segundo álbum do duo, que, em 2015, já havia lançado "Inventos". No mesmo ano, aliás, o duo foi um dos vencedores do 15º Prêmio BDMG Instrumental - ou seja, a relação com a instituição já vem de longo tempo, como lembra Eduardo. "O BDMG Instrumental foi um grande impulso, brinco que, em condições normais de temperatura e pressão, sem ele a gente estaria em outro patamar, com certeza. E acho que esse segundo disco acabou sendo uma consequência do prêmio", analisa Juliano. 
 
No caso do prêmio Marco Antônio Araújo, Eduardo enaltece um ponto em particular. "Acaba sendo um prêmio de produção musical, vertente na qual o Guanduo ainda está começando. Afinal, é o nosso segundo disco. A gente também produz uma série de concertos, o 'Violões de Tiradentes', e nossas próprias turnês. Eventualmente alguma coisa distinta. Assim, receber uma premiação por uma produção acaba dando um fôlego, uma animada, podemos investir mais nisso. Significa que o nosso trabalho foi aprovado, que teve gente que gostou. Uma espécie de um atestado, um sinal verde, uma porta aberta", brinda.
 
Trajetória
Juliano Camara descreve o Guanduo como "dois amigos que fazem música juntos". No caso do nome, o "Gua" foi escolhido pela sonoridade, e pelo fato de ser, segundo eles, "muito brasileiro". Duo, claro, pelos dois integrantes.  Diferentemente do primeiro álbum, mais centrado no fazer musical dos dois, esse segundo foi todo estruturado no diapasão da troca, leia-se, a participação de outros músicos e o que eles agregaram ao duo. Foram 16 instrumentistas do Brasil, Alemanha, Argentina, Venezuela e República Tcheca, dentre eles, Marcio Bahia, Martín Sued, Lucas Telles, Pedro Franco, Rafael Martini, Ian Guest, Alexandre Andrés e Arcomusical Brasil.
 
Mas, para além dos colegas que cederam seu talento ao disco , o título também faz referência aos músicos em geral, expoentes que são assumidamente devotados à arte. "Pessoas que inspiram muito a gente, que fazem, ou fizeram, da música um ofício muito sério. Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Villa-Lobos, Pixinguinha...", resume Eduardo. 
 
O instrumentista também salienta que a construção do repertório não seguiu uma linha condutora específica. "Muitas músicas tiveram o arranjo pensado no músico que ia participar da gravação. Tipo: 'Essa tem que ser quarteto de violão, porque a gente quer fazer com o Joaquim Santos e o Lucas Telles'. 'Essa tem que ter bateria, porque a gente quer o Marcio Bahia'. 'Essa é dedicada ao Pedro Franco, então, ele tem que tocar junto'. E por aí vai, acho que isso moldou muito o repertório". 
 
Entre as faixas, está, por exemplo, "Tarde de Carnaval", com a pegada do frevo. "É uma música que tem um ambiente carnavalesco, e um solo arrebatador do Pedro Franco, um improviso. Lembro que foi complicado escolher o take, todos eram maravilhosos", explica Eduardo.
Já "Suíte Imaginária" conta com uma formação inusual: dois violões e três berimbaus. "Ela tem quatro movimentos muito distintos. A composição foi muito inspirada na capoeira, tanto que convidamos o pessoal do Arcomusical Brasil, de BH, para gravar".
 
Sobre o advento do novo coronavírus, Eduardo lembra que a área das artes e da cultura foi uma das primeiras a ser impactadas. "Acho que isso não difere muito de pais para país, está todo mundo tendo que se adaptar a essa história de fazer lives e trocar conteúdo pela web. Nós mesmos fizemos uma live, mas, por mais que esse recurso seja louvável, é outra história. O artista está acostumado a se apresentar em casas, salas de concertos, teatros, com uma acústica legal, com base técnica para luz e som, e, de repente, você reduz tudo a seu quarto, por exemplo. Perde-se muito, com certeza, principalmente no caso da música, onde a manipulação do som está totalmente ligada à acústica. Mas é aproveitar ao máximo o que dá para fazer em termos de trocas de conteúdo online, mantendo a esperança de que, a partir de setembro, as coisas melhorem um pouco, até que a gente possa voltar a tocar", resigna-se.

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