Infantojuvenil

Livro adapta obra de Monteiro Lobato para personagens da Turma da Mônica

Boneca Emília, Narizinho e Pedrinho são vividos por personagens de Mauricio de Sousa em nova versão

Por Rafael Rocha
Publicado em 15 de maio de 2019 | 03:00
 
 
 
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Como se já não fossem poucas as peraltices de Mônica, Magali e Cebolinha, agora o trio se meteu a representar. Sorte a nossa, por sermos brindados com a história da boneca Emília, de Narizinho e de seu primo Pedrinho vividos pelos personagens de Mauricio de Sousa. A criativa ideia de misturar o universo de Monteiro Lobato, um ícone da literatura infantojuvenil, com o mundo do mestre das revistinhas em quadrinhos, rende agora o livro “O Sítio do Picapau Amarelo”.

Com os 70 anos da morte de Lobato, suas obras entraram em domínio público, por isso uma generosa fileira de publicações e novas edições do autor chega ao mercado. O próprio Mauricio de Sousa já havia se dedicado às histórias do escritor – lançou em janeiro o livro “Narizinho Arrebitado”, que teve 20 mil exemplares vendidos.

O livro é dividido em várias histórias que se interligam – nesta edição são 12 – e possui muitos diálogos e aquele ritmo narrativo peculiar, que conquista gerações desde uma época distante em que nem televisão havia. As ilustrações de Mauricio de Sousa deixam ainda mais saborosa a total fusão entre fantasia e realidade, comum nas crianças de Lobato.

Quem coordenou a adaptação da obra de Lobato foi a professora Regina Zilberman, considerada uma das principais especialistas nos livros do escritor. Para ela, atuar nesse tipo de trabalho, que promove o encontro entre dois grandes nomes da literatura infantojuvenil brasileira, é um grande presente. “Foi uma oportunidade muito rara que tive. Eu admiro Lobato desde criança, ele fez a minha cabeça. Quando ganhei a coleção dele, foi uma festa. Participar disso agora foi, para mim, uma oportunidade muito feliz”, afirma.

O objetivo de contemplar com ilustrações o cotidiano rural vivenciado no “Sítio do Picapau Amarelo” foi alcançado com plena eficácia e sensibilidade por Mauricio de Sousa, conforme avalia a especialista. “Mesmo acostumado com um ambiente urbano, o Mauricio teve uma adesão imediata a esse outro contexto e situou muito bem as ilustrações”, elogia. 

O encaixe entre as narrativas dos dois autores, segundo Regina, parte também da forma como eles tratam seu público leitor. “As crianças têm suas vontades, seus gostos e sua inteligência, e isso aproxima Mauricio de Lobato. Ambos trazem essa inteligência infantil”, garante. 

Emília: menina à frente de sua época

Uma obra sobreviver décadas já é algo notório, mas ter aspectos à frente de seu tempo faz do texto de Monteiro Lobato algo ainda mais louvável, segundo avaliação da professora Regina Zilberman, especialista na obra do escritor.

Escrever histórias que colocavam personagens femininas como protagonistas, em plena década de 1920, foi algo ousado para a época, segundo Regina. “Imagine isso há quase cem anos. Foi realmente surpreendente, pois no ‘Sítio do Picapau Amarelo’ ele coloca duas meninas no primeiro plano. A Emília age como se fosse uma menina de 2019”, avalia.

Essa presença feminina e o protagonismo infantil não foram bem recebidos pela crítica, conforme contextualiza a especialista. “Era uma época muito patriarcal, então talvez as pessoas não tenham percebido quão avançado isso era. Alguns educadores não apreciavam Monteiro Lobato, pois achavam seus personagens muito independentes. A própria Cecília Meireles pensava assim”, diz.

No prefácio do livro, Mauricio de Sousa aborda a polêmica sobre partes da obra de Lobato que poderiam ser consideradas racistas. “Todos os trechos com esse viés totalmente intolerável foram editados”, informa o desenhista. 

Polêmicas à parte, a obra de Lobato resiste de pé, tanto que editores disputam novas obras do autor em formatos diferentes, pois sabem que a venda é garantida. “A obra dele é atual por dois aspectos: alcançar esse ritmo narrativo é muito difícil, e as personagens principais são crianças muito ativas e com iniciativa”, avalia Regina.

Essa narrativa, que fundamenta as peripécias de Emília e Narizinho, parte de diálogos ágeis, poucos momentos de narração e esmerada dramaticidade. “As pessoas acham que escrever para criança é fácil, mas tem alguns livros que não têm ação, e com Lobato o miolo da narrativa é pura ação, cada capítulo tem um acontecimento diferente”, explica. 

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