‘Mentiras no Divã" desconstrói mitos em torno dos terapeutas

Juro, pelos suados anos de divã, que nunca, jamais, em momento algum, me rendi aos livrinhos da moda. Prefiro devorar a literatura assumidamente fashion. Mas, por razões, que nem Freud nem Dr. Irvin D. Yalom explicam, me caiu no colo esses dias o r o m a n c e "Mentiras no Divã".

Anos de terapia e milhares de reais empregados nessa busca, fui atraída pelo título "Mentiras" sem nem mesmo me dar conta de que o autor " o professor norte-americano Irvin D. Yalom " também está por trás dos livros-mania "A Cura de Schopenhauer" e "Quando Nietzsche Chorou", este último, aliás, virou peça de teatro e está em cartaz em São Paulo.

A princípio, me interessava saber o que leva alguém a mentir num dos lugares cujo aluguel custa muito em vários sentidos.

Divã, querido leitor, é quase um luxo nos dias caros de hoje. Antes de sair da página 20, no entanto, percebi um fenômeno que ia além da minha curiosidade. No avião, na redação, na agência de modelos, todo mundo estava lendo "Mentiras no Divã".

Não que a obra seja assim um chicle de tutti-frutti e tenha uma trama tão envolvente que nos faça querer devorá-la. Aliás, a monotonia é companheira de capítulos e capítulos da obra. Vamos a ela, portanto!

No livro, que chega ao leitor brasileiro depois de nove anos lançado no exterior, o autor narra uma história ambiciosa sobre a moralidade e a ética das terapias e a complexidade das emoções humanas.

Explora os jogos de poder e os vínculos interpessoais, além da fogueira das vaidades e o show business do universo psi. Yes, psicanalista também tem ego inflado e desejos de dominar o mundo! Yalom disseca o relacionamento de três terapeutas com seus pacientes e é aí que está o grande barato de tudo.

Enquanto o iniciante psicanalista Ernest Lash auxilia um de seus pacientes a se separar da esposa " que depois passa a se consultar com ele e tenta seduzi- lo ", o renomado e experiente colega Seymour Trotter é condenado por manter relações sexuais com uma de suas pacientes.

Do outro lado estão Dr. Marshal " colega e responsável pela condenação de Trotter e orientador de Lash " e seus outros tantos pacientes. Pena que a parte mais gostosa, em que a monotonia se quebra, esteja, praticamente, no final, quando Marshal se depara e se vê envolvido com o surpreendente Peter Marcondo .

Para fechar, uma liçãozinha de moral: nem mesmo os especialistas na mente humana estão a salvo das loucuras originadas ali. Quer saber" Vale a pena ler.

AGENDA " "Mentiras no Divã", de Irvin D. Yalom, editora Ediouro, 404 págs., R$ 49,90