Slam

A poesia que vem da batalha

No Brasil desde 2007, campeonato popularizou-se e chega nesta terça a Itabira, cidade-natal de Carlos Drummond de Andrade

Por Laura Maria
Publicado em 04 de abril de 2017 | 03:00
 
 
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Corre-se o risco de cair na presunção ou atrevimento imaginar o que pensaria Carlos Drummond de Andrade sobre a poesia atual. No texto “Procura da Poesia”, porém, o escritor faz recomendações quase atemporais sobre como escrever: “Penetra surdamente no reino das palavras. / Lá estão os poemas que esperam ser escritos”.

Passados mais de 70 anos da publicação, o apontamento reverbera fresco em eventos como o slam A Rosa do Povo, que será realizado nesta terça-feira (4), em Itabira, a partir das 19h. No evento, promovido pela Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade, e que será realizado pela primeira vez na cidade-natal do poeta, 15 pessoas poderão se inscrever com três poemas originais, em batalhes de poesias que ocorrerão até julho.
De acordo com Martha Mousinho, superintendente da Fundação, o slam tem o objetivo de propagar a riquezas de Itabira e “dar oportunidade para que pessoas possam expressar suas próprias criações”.

Origem do slam. O termo slam pode soar novo para alguns ouvidos, e, de fato, a competição de poesias chegou ao Brasil recentemente. Mais exatamente, há dez anos. A paulistana Roberta Estrela D’Alva foi a responsável por trazê-la ao país.

“Tomei conhecimento dessa batalha de poesias depois que assisti ao filme ‘Slam’ e ao documentário ‘Slam Nation’. Daí viajei para Nova York, onde tive contato direto com o slam. Quando regressei ao Brasil, em 2007, constatei que aqui não tinha nada. Então, mandei um e-mail para o precursor do slam, em Chicago, Marc Smith, e ele me respondeu com muitas informações importantes”, diz.

Regras. Roberta, que está à frente do slam ZAP! (Zona Autônoma da Palavra), passou a organizar os eventos de acordo com as indicações de Smith. Em todo o país, o slam segue uma regra internacional de que devem ser apresentados até três poemas autorais por pessoa com duração de até três minutos e com inscrições feitas pouco antes do evento.

Além disso, a declamação não pode ser acompanhada de figurinos. Ao final das apresentações, os poemas recebem avaliação por meio de notas reveladas em placas por, pelo menos, cinco jurados.

Campeonato. Desde que teve origem, o slam tem ganhado cada vez mais adeptos. Segundo Roberta, no Brasil existem aproximadamente 50 slams em dez Estados. Por causa do boom, desde 2014, a ZAP! organiza o campeonato Slam BR, realizado uma vez ao ano em São Paulo e que recebe representantes de todo país.

A paulistana Luz Ribeiro é a atual campeã brasileira de slam, e, em maio, seguirá para Paris, na França, onde participará da Copa do Mundo de Slam de Poesias. Ela é a primeira mulher campeã do concurso nacional e ganhou o primeiro lugar com a poesia “Lembra”.

“Estou indo para esse campeonato para falar da mulher negra e pobre que mora na periferia. Se em outros lugares as mulheres têm dificuldade de falar, no slam esse espaço é de igualdade”, afirma Luz.
Além de Luz Ribeiro, já ganharam o campeonato o paulistano Emerson Acalde, em 2015, e o mineiro João Paiva, no ano de 2014.


Poesia mineira

MG tem pelo menos oito slams

Além do slam A Rosa do Povo, de Itabira, Minas Gerais tem pelo menos outros sete grupos. Em Belo Horizonte, há o slam Clube da Luta, primeiro da cidade, fundado em 2014, além do Slamternas, do bairro Santa Mônica, e o slam Trincheira, do Barreiro.

Na região metropolitana da capital, existem o Slam da Estação, de Sarzedo; e o A Verdade Seja Dita, de Vespasiano. No interior, há o Ondaka, de Uberaba; e o A Rua Declama, de Timóteo.

De acordo com Rogério Coelho, à frente do Clube da Luta, a base dos slam é que o conhecimento seja compartilhado entre as organizações. “A gente aprendeu sobre a batalha de poesias com a Roberta e trouxemos para a capital. E, em Minas, todos os movimentos de slam acabam aprendendo com a gente”, diz. O Clube da Luta se reúne no Espanca!, sempre às últimas quintas-feiras do mês, às 20h.

À frente do slam A Rua Declama, Jaydson Souza diz que o movimento é um braço do sarau de poesias, que já ocorre desde 2013. “O formato em relação ao sarau muda um pouco, mas têm bases parecidas”, diz.

Já o Slam da Estação surgiu a partir de oficinas em uma escola de Sarzedo. “Depois, a proposta cresceu e o levamos para a rua”, conta Bim Oyoko, organizador do slam. (LM)

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