Morreu nesta sexta-feira (24), aos 94 anos, o escritor Manoel Lobato, que foi foi autor de milhares de crônicas publicadas diariamente em O TEMPO entre 1996 e 2013. Lobato foi mais uma vítima da Covid-19 em Belo Horizonte.

Ele passou dez dias internado, mas não resistiu. Apresentou um quadro de insuficiência respiratória, sintoma comum em pacientes contaminados pelo coronavírus. “Meu pai tinha saúde muito boa, não tinha problema de coração, não tinha pressão alta, não tinha nada. Então, foi insuficiência respiratória mesmo”, disse o filho do cronista, o marceneiro Paulo Lobato, de 59 anos. Além de Lobato, sua esposa e outro filho também foram contaminados pela doença, mas passam bem.

Ao longo de quase toda a vida, desde que se mudou para a capital mineira, Lobato viveu no bairro Sagrada Família, região leste de Belo Horizonte, mas é natural de Passagem do Rio José Pedro, atual Açaraí, no Vale do Rio Doce - que constantemente era tema de suas crônicas.

Ainda segundo o filho, o pai também gostava de escrever muito sobre “sexo, loucura e situações e condições humanas”, quase sempre inspirado pelas histórias que presenciou na zona boêmia de Belo Horizonte entre os idos dos anos 60 e 90.

“Se tinha algo que ele gostava mesmo era a farmácia que ele tinha na avenida Oiapoque, perto da rodoviária, no meio da zona boêmia, a Farmácia Lobato. Então, era sobre sua observação desse ambiente que ele sempre escrevia, era o que mais fascinava ele”, contou Paulo. Lobato teve a farmácia entre 1965 e 1991.

Além das milhares de crônicas, Lobato publicou 18 livros e também participou da criação da Imprensa Oficial em Minas Gerais. “Ninguém fala isso, mas ele estava lá, junto de Murilo Rubião e João Antônio, então, ele deixa um legado imenso para os filhos”, conta. Além de Paulo, Lobato teve outros três filhos, sendo um já falecido.

Parou de escrever ao apresentar quadros de esquecimento, em meados de 2013, quando foi diagnosticado com Alzheimer. Porém, após quase cinco anos de tratamento, outro médico mudou o diagnóstico. “Na época, os médicos falaram que ele estava com Alzheimer, mas não era. Um primo meu que é médico descobriu que ele tinha um entupimento da carótida, que significa uma menor oxigenação no cérebro e deixa a pessoa mais lenta. Parecia Alzheimer mas não era, porque o meu pai tinha uma mente muito ativa, ele chegava a ler um livro por semana para você ter uma noção. Mas, ele escrevia um dia e esquecia de escrever no outro, e assim acabou parando”, relembra o filho.

O enterro de Lobato acontecerá neste sábado (25) no cemitério Parque da Colina, no bairro Vista Alegre, às 17h. Por conta das restrições de aglomeração e medidas de isolamento em razão da pandemia de coronavírus, não haverá velório e o enterro será restrito a alguns familiares.