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As sete faces de uma mesma estrela

Musical que celebra a carreira de Elza Soares cumpre temporada no próximo fim de semana no Cine Theatro Brasil

Por Carlos Andrei Siquara
Publicado em 21 de novembro de 2018 | 03:00
 
 
 
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De caráter biográfico, o musical “Elza” estreou no Rio em abril deste ano, sempre com casa cheia, depois cumpriu temporada vitoriosa em São Paulo, e agora finalmente chega a Belo Horizonte, para duas apresentações no próximo fim de semana. A montagem foi destaque no Prêmio Reverência deste ano, onde levou quatro troféus (melhor espetáculo, melhor autor para Vinicius Calderoni, melhor direção para Duda Maia e melhor arranjo para Letieres Leite).

No palco, sete atrizes interpretam a cantora. Três delas são mineiras: Júlia Tizumba, Laís Lacôrte e Janamô. Completam o elenco Késia Estácio, Khrystal, Verônica Bonfim e a cantora baiana Larissa Luz, que figura como protagonista e divide a direção musical do projeto com Pedro Luís.

Embora seja calcado na vida de Elza, Duda Maia diz que o musical não se baseia em uma abordagem cronológica da vida da artista, mas aproxima também a experiência de outras mulheres cujas lutas podem ser representadas pela trajetória da cantora.

“O musical conta a história de Elza, mas também é atravessado pela história de outras mulheres, como Rosa Parks (ativista do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos), Dandara dos Palmares (esposa de Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo do período colonial) e Conceição Evaristo (escritora e professora). E há ainda outras mulheres menos conhecidas que foram mortas ou espancadas por maridos ou namorados e viraram manchete de jornal”, afirma Duda.

Com formação em dança, a diretora conta que buscou interpretar os diversos temas que permeiam a carreira de Elza por meio de movimentos corporais, aliados ao trabalho vocal também fundamentais em cena. “Todos os afetos que passaram pela vida da Elza, as superações, tristezas, alegrias, sucessos, tudo isso, nós trabalhamos corporalmente. Não só em razão da relação com a história da Elza, mas também com a experiência dessas sete mulheres que são negras e trazem consigo suas marcas pessoais. Muitas das escolhas que moldaram o musical vieram delas mesmas”, conta Duda.

Ela relata que trabalhou intensamente em diálogo com o dramaturgo paulista Vinicius Calderoni, que até pouco tempo antes da estreia, em julho, esteve mexendo no texto, a fim de incorporar sugestões que vieram da diretora e do próprio elenco. “O tempo inteiro esse texto estava sob avaliação dessas atrizes. Eu quis que elas tomassem a liberdade para cortar, mexer, alterar e sugerir o que elas quisessem. Ao mesmo tempo, há algumas questões sobre as quais eu jamais poderia escrever, principalmente algumas ligadas ao racismo, então, nesse momento eu recorri muito a elas. A Larissa Luz mesmo foi uma das que mais contribuiu com algumas falas do texto”, afirma Calderoni.

Segundo ele, o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (em março) também impactou o processo, uma vez que ela foi executada na semana em que as audições para o espetáculo começaram. “Foi inevitável trazer isso. E quem está na plateia nota que quanto mais nos distanciamos da história de Elza e abarcamos a trajetória outras pessoas, como a Marielle, mais a figura de Elza se potencializa, porque o que está sendo colocado ali são questões de caráter amplo, atravessamentos que nos fazem refletir sobre a política e a sociedade”, afirma Vinicius.

Tal conexão com o panorama nacional é um dos motivos a que ele atribui o sucesso da montagem. “Acho que a vida de Elza por si só é muito forte, mas eu acho que o espetáculo foi ganhando uma força e uma urgência por conta do contexto em que estamos vivendo. Há todo um conjunto de forças conservadoras que se adensam agora, e Elza é alguém que representa uma força, sobretudo, libertária e questionadora”, completa Calderoni.

Agenda

O quê

“Elza”.

Quando

Dia 24 (sábado), às 20h; e dia 25 (domingo), às 19h.

Onde

Cine Theatro Brasil Vallourec (av. Amazonas, 315, centro).

Quanto

R$ 50 (inteira).

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