Crítica/cinema

Autoral demais, Wes Anderson faz filme-súmula

Redação O Tempo

Por MARCELO MIRANDA
Publicado em 12 de outubro de 2012 | 22:23
 
 
 
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A noção de autoria defendida com afinco pela geração de críticos franceses dos anos 1960 segue como a pedra fundamental a quase todos os olhares para determinados filmes - ou melhor dizendo, determinados filmes de determinados realizadores. Andrew Sarris, por sua vez, já disse que a autoria é uma "invenção" da crítica: nenhum artista faz uma obra desde o começo pensando em ser autor; ele se torna autor a partir da visão, percepção e reflexão de quem toma contato com sua obra.

Alguns diretores de cinema berram "sou autor!" em praticamente tudo que filmam. Wes Anderson é um desses: sua autoria pode ter sido "inventada", mas ele veste a carapuça como pouco se vê no cenário audiovisual norte-americano.

"Moonrise Kingdom", em cartaz em Belo Horizonte desde ontem, é uma espécie de súmula de todos os cacoetes já devidamente reconhecidos e retrabalhados por Anderson ao longo de seus seis longas-metragens anteriores. Desta vez, ele aponta a estética colorida e "vintage" para o cenário de uma comédia infantojuvenil com toques bastante incorretos, sempre filmados de maneira tão terna e asséptica que qualquer incômodo é imediatamente dissipado (ou assim o filme tenta fazer).

Narrado num tom fabular que, de imediato, "entrega" o autor do filme - com um locutor filmado frontalmente, enquanto localiza geograficamente o enredo em meio a paisagens de fundo que vão mudando sem que o próprio narrador modifique sua posição física e seu tom de voz.

Os primeiros minutos têm aquele ar de deboche de Anderson que ora podem ser hilários, ora soam apenas afetados - como já se viu inclusive em seus trabalhos de pegada mais acertada, casos de "Três É Demais" e "Viagem a Darjeeling". Relações familiares seguem como o grande mote de Anderson, em especial o (mau) contato entre pais e filhos. Só que, aqui, o cineasta amplia o escopo para a descoberta do amor, do desejo e também das possibilidades infinitas de se viver perigosamente, contra tudo e todos.

"Moonrise Kingdom" fala daquela descoberta tipicamente juvenil de que tudo pode ser feito tanto quanto tudo o que é feito cobrará consequências. Isso está devidamente evidenciado no filme através da separação muito clara entre adultos algo boçais e problemáticos e pré-adolescentes espertos que agem como adultos bem-resolvidos - justamente porque ainda não descobriram o impacto da consequência de algumas de suas escolhas.

Tudo é filmado com gags típicas e um rigor realmente grande nos enquadramentos, na maneira de inserir os planos de forma a gerar algum tipo de efeito (cômico, dramático, estranho) e num uso igualmente pensado de planos abertos para aproveitar as paisagens onde o enredo se ambienta e metaforicamente representa a figura humana como essencialmente regida pelas forças da natureza (instintiva ou climática mesmo).

Apesar de momentos agradáveis e expressivos no filme, Anderson em geral sempre corre no limite do esgotamento de suas idiossincrasias próprias.

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