Festa-peça

'Cabaré Lidô' volta aos palcos

Descrita como uma montagem tragicômica, peça traz ambiência de um bordel para discutir temas atuais

Por Patrícia Cassese
Publicado em 18 de janeiro de 2020 | 03:00
 
 
 
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A ideia é fazer com o que o público interaja com os atores em cena, como se estivesse de fato em um cabaré. Com uma narrativa que tem como substrato histórias reais, “Cabaré Lidô” está de volta à cena na 46ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança de BH. Até o dia 16 de fevereiro, a montagem da Companhia Marco Produções, que inaugura o conceito de festa-peça, ocupa o espaço Galpão de Ideias, no bairro Carlos Prates.

Em cena, sete atores tratam de recriar a ambiência de um bordel de beira de estrada onde os frequentadores são embalados por canções populares que, de alguma maneira, dialogam com o universo das garotas de programa. “São canções como ‘Surabaya Johnny’, na versão gravada por Cida Moreira, e ‘Cosmos’, gravada por Blubell, além de ‘Não Enche’, de Caetano Veloso – aliás, nessa, a plateia vai ao delírio e samba até com os atores. Além disso, há outras populares e alguns bregas clássicos”, pormenoriza Jáder Rezende, que assina a dramaturgia junto ao ator e diretor Marco Amaral.

Mas, que fique claro, embora haja um viés cômico (e mesmo festivo), a peça é principalmente um convite à reflexão, na tentativa de “dar voz aos excluídos, discriminados e explorados”, conforme lista Rezende. Os relatos que as prostitutas fazem aos clientes, por exemplo, foram inspirados em histórias reais, muitas dessas coletadas durante o período em que Rezende atuou como jornalista. “Em um veículo apenas, foram mais de 15 anos na cobertura de Cidades. Uma das matérias que assinei, ‘Tráfico de Mulheres – Na Rota do Sexo Fácil’, aliás, foi vencedora da 4ª edição do prêmio Délio Rocha de Jornalismo de Interesse Público, na categoria reportagem impressa. Assim, para a peça, busquei na memória – e em anotações que tinha – o material para compor a história dos personagens. Então, podemos dizer que são histórias fictícias baseadas em fatos muito reais”, esclarece.

Entre as cenas, ele destaca uma que, diz, seria a que mais comove a plateia: “A história de meninas do norte de Minas que fogem de casa e acabam sendo aliciadas e levadas por caminhoneiros, passando a se prostituírem por meros R$ 0,50 ou mesmo por uma garrafa de refrigerante. Ou crianças que vão trabalhar em destilarias de cachaça e que são pagas com garrafas do produto, tornando-se alcoólatras precocemente”.

Para Jáder, a direção de Marco Amaral foi muito hábil ao costurar tantos temas “infelizmente ainda tão atuais, resultando num espetáculo ímpar, que vai do trágico ao burlesco”.

Agenda

O quê. “Cabaré Lidô”
Onde. Galpão de Ideias (Rua Uberlândia, 413, Carlos Prates).
Quando. Sextas, às 20h30, sábados e domingos, às 19h30. Até o dia 16 de fevereiro.
Quanto. R$ 18 nos postos do Sinparc e R$ 20 na bilheteria.

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