A ideia é fazer com o que o público interaja com os atores em cena, como se estivesse de fato em um cabaré. Com uma narrativa que tem como substrato histórias reais, “Cabaré Lidô” está de volta à cena na 46ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança de BH. Até o dia 16 de fevereiro, a montagem da Companhia Marco Produções, que inaugura o conceito de festa-peça, ocupa o espaço Galpão de Ideias, no bairro Carlos Prates.
Em cena, sete atores tratam de recriar a ambiência de um bordel de beira de estrada onde os frequentadores são embalados por canções populares que, de alguma maneira, dialogam com o universo das garotas de programa. “São canções como ‘Surabaya Johnny’, na versão gravada por Cida Moreira, e ‘Cosmos’, gravada por Blubell, além de ‘Não Enche’, de Caetano Veloso – aliás, nessa, a plateia vai ao delírio e samba até com os atores. Além disso, há outras populares e alguns bregas clássicos”, pormenoriza Jáder Rezende, que assina a dramaturgia junto ao ator e diretor Marco Amaral.
Mas, que fique claro, embora haja um viés cômico (e mesmo festivo), a peça é principalmente um convite à reflexão, na tentativa de “dar voz aos excluídos, discriminados e explorados”, conforme lista Rezende. Os relatos que as prostitutas fazem aos clientes, por exemplo, foram inspirados em histórias reais, muitas dessas coletadas durante o período em que Rezende atuou como jornalista. “Em um veículo apenas, foram mais de 15 anos na cobertura de Cidades. Uma das matérias que assinei, ‘Tráfico de Mulheres – Na Rota do Sexo Fácil’, aliás, foi vencedora da 4ª edição do prêmio Délio Rocha de Jornalismo de Interesse Público, na categoria reportagem impressa. Assim, para a peça, busquei na memória – e em anotações que tinha – o material para compor a história dos personagens. Então, podemos dizer que são histórias fictícias baseadas em fatos muito reais”, esclarece.
Entre as cenas, ele destaca uma que, diz, seria a que mais comove a plateia: “A história de meninas do norte de Minas que fogem de casa e acabam sendo aliciadas e levadas por caminhoneiros, passando a se prostituírem por meros R$ 0,50 ou mesmo por uma garrafa de refrigerante. Ou crianças que vão trabalhar em destilarias de cachaça e que são pagas com garrafas do produto, tornando-se alcoólatras precocemente”.
Para Jáder, a direção de Marco Amaral foi muito hábil ao costurar tantos temas “infelizmente ainda tão atuais, resultando num espetáculo ímpar, que vai do trágico ao burlesco”.
Agenda
O quê. “Cabaré Lidô”
Onde. Galpão de Ideias (Rua Uberlândia, 413, Carlos Prates).
Quando. Sextas, às 20h30, sábados e domingos, às 19h30. Até o dia 16 de fevereiro.
Quanto. R$ 18 nos postos do Sinparc e R$ 20 na bilheteria.