Cinema

Crítica: 'X-Men: Fênix Negra' encerra mal a saga de 20 anos

Filme com Sophie Turner abusa dos efeitos visuais e deixa o roteiro de lado, com diálogos vazios e trama pouco desenvolvida

Por Etienne Jacintho
Publicado em 06 de junho de 2019 | 03:00
 
 
 
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Os filmes de super-heróis sempre permitiram experimentações. Lá no fim dos anos 70, “Superman” deixou o público atônito com o voo de Christopher Reeve rumo ao espaço. De lá para cá, as versões cinematográficas dos quadrinhos têm usado os recursos que a tecnologia oferece para criar mundos, batalhas e poderes cada vez mais extraordinários. Em “Homem-Aranha” (2002), de Sam Raimi, é divertidíssimo ver Peter (Tobey Maguire) descobrindo seus poderes. As cenas em que ele usa sua teia para passear pelos arranha-céus de Nova York fascinam o espectador. Mais recentemente, “Pantera Negra” (2018) recriou um mundo habitado por personagens bem interpretados por atores como Lupita Nyong’o.

Os efeitos visuais nesses dois longa servem para somar, mas não substituem enredos ou atuações.
Ultimamente, no entanto, alguns filmes têm abusado dos recursos tecnológicos em detrimento da história. E se as primeiras produções dos jovens integrantes do “X-Men” ainda conseguiam prender a atenção pela narrativa, desenvolvendo bem a luta do Professor Xavier pelo convívio pacífico entre humanos e mutantes, “Fênix Negra” erra ao acelerar o roteiro para priorizar as cenas de ação. O diretor Simon Kinberg nem teve trabalho com o elenco, uma vez que até sua protagonista, Sophie Turner, tem pouquíssimas falas. 

James McAvoy, o Professor Xavier, salva um pouco o roteiro. É ele quem tenta, a todo momento, explicar por que a jovem Jean Grey não consegue controlar suas emoções. Sophie Turner é bela, com seu cabelão vermelho e seu rosto angelical, mas não tem a força necessária para viver essa personagem atormentada pelas lembranças de uma infância vivida em meio à culpa.

O filme começa bem impactante, com Jean Grey ainda criança, envolvida em um acidente de carro. Por não conhecer seus poderes, a menina causa a morte da família. A perda vem acompanhada de uma mudança em sua vida, já que ela é recrutada por Xavier.

Num salto no tempo, da década de 70 para os anos 90, o espectador acompanha uma missão espacial da Nasa que é salva pelos X-Men, vistos como heróis. Durante o resgate dos astronautas, no entanto, algo acontece com Jean, e ela ganha um poder absurdo e incontrolável. Assim, a jovem se vê na mesma situação que arrasou sua infância. Jean começa, então, a provocar destruição e morte por onde passa, causando pânico na Terra e desejo de vingança nos X-Men, tanto que Magneto (Michael Fassbender, outro que está bem na tela) se junta à equipe com a intenção de matá-la.

Com esse poder, tudo o que Sophie Turner precisa fazer em cena é erguer as mãos para voar e fazer objetos ou pessoas saírem pelos ares. Ao restante do elenco, cabe esquivar-se ou jogar seus poderes na direção da ruiva, dos policiais e também da vilã alienígena, que quer roubar o poder de Jean.

Num festival de efeitos visuais fica até difícil acompanhar quem está combatendo quem. São muitas as cenas em que Jean ataca os mutantes e os humanos. Enquanto nos quadrinhos a história dramática de Jean e seu desfecho mítico são tão interessantes, no filme eles se perdem no desespero dos efeitos visuais. Estes são de tirar o fôlego do espectador, mas também do enredo. Quando sobem os créditos finais, é difícil levantar-se da poltrona do cinema. É isso? Acabou? Há cenas pós-créditos? Não. Nada. Uma pena encerrarem-se assim 20 anos de franquia. 

O que vale ver na franquia: 

Erros e confusões: Concebido para ser uma trilogia, o universo dos X-Men nos cinemas foi ganhando corpo de maneira desordenada, o que gerou confusões de continuidade, com erros de datas, eventos e até idade dos personagens. A franquia traz ainda uma inconstância muito grande na qualidade de suas produções.

O início de tudo: “X-Men: O Filme”, de 2000, apresenta tão bem os personagens que conquistou o público com diversão e ação. 

Wolverine: Hugh Jackman ganhou fãs com seu Wolverine. “Logan” (2017), que encerra a trajetória do herói, é um dos melhores filmes da franquia. Vale a pena ver antes “Wolverine: Imortal” (2013).

Alto e baixo: “X-Men 2: Unidos” (2003) dá sequência ao filme de 2000 com coesão. Já “X-Men: Confronto Final” (2006), que encerra a trilogia original, é um balde de água gelada. 

Abandonado: “X-Men: Origens” (2009), que foca a gênese de Wolverine, é outra decepção. O projeto, que abordaria o início de outros mutantes, foi abandonado após as críticas. 

Retomada: Em “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido” (2014), Bryan Singer leva com talento a linha do tempo dos X-Men ao passado e ao futuro para amarrar pontas soltas das produções anteriores. Esse é um filme importante para entender a saga e a troca dos atores que interpretam os papéis principais. O elenco novo foi lançado no bom “X-Men: Primeira Classe”.

Decepção: Com o novo elenco devidamente apresentado, vieram os decepcionantes “X-Men: Apocalipse” (2016) e “X-Men: Fênix Negra”. 

“Deadpool”: Entre tudo isso, há os dois filmes de “Deadpool”, em 2016 e 2018. O primeiro é interessante, e o segundo, uma coleção de piadas sem graça e clichês.

 

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