Espetáculo

Divina música brasileira

Zezé Motta se apresenta no Inverno das Artes com homenagem à Elizeth Cardoso e interpreta sucessos da cantora

Por Raphael Vidigal
Publicado em 24 de julho de 2017 | 03:00
 
 
 
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Canceriana, torcedora do Flamengo, movida a paixão. Poderíamos estar falando de Zezé Motta, 73, já que todas essas características a pertencem, mas a frase foi escrita em referência a Elizeth Cardoso (1920-1990), homenageada no show que a eterna intérprete de Xica da Silva traz nesta segunda-feira (24) a Belo Horizonte, dentro da programação do Inverno das Artes. “Quando não estou apaixonada, invento, só para a vida ficar mais divertida. Sem amor ela é muito sem graça. Essa é a principal semelhança que vejo entre mim e a Elizeth. Além dessas coincidências todas, a gente gostava do mesmo sabonete. Mas não temos só coisas em comum. Ela é idolatrada no Japão, já fui em muitos lugares do mundo, mas lá nunca”, brinca Zezé, que aproveita o ensejo para explicar o nome do espetáculo, “Divina Saudade”.

“Elizeth recebeu o título de ‘divina’ do (produtor e sambista) Haroldo Costa pelo fato de ela se destacar entre todas as cantoras de sua geração a ponto de ser considerada a melhor, uma verdadeira deusa; já o ‘saudade’ é porque ela não está mais entre nós, mas continua irradiando energia com a sua música”, elabora Zezé. Do repertório consagrado pela homenageada, a entrevistada pescou as músicas que considera pérolas da canção brasileira. “Elizeth era muito exigente, por isso, tudo que ela cantou ao longo da vida é muito bonito. Uma pessoa que cantou Pixinguinha, Tom e Vinicius não poderia ser diferente. Selecionei as que tocam meu coração e são mais conhecidas pelo público, para ele cantar junto”, justifica.

Por isso, quem comparecer ao show vai ter a chance de conferir de perto a interpretação de Zezé para clássicos do porte de “A Noite do Meu Bem” (Dolores Duran), “Canção de Amor” (Chocolate e Elano de Paula), “Samba Triste” (Baden Powell e Billy Blanco) e “Chega de Saudade” (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), entre muitos outros, sendo que esse último, como ressalta Zezé, contou com a influência essencial do canto de Elizeth. “A bossa nova deve muito à Elizeth, que foi quem popularizou ‘Chega de Saudade’ tanto no Brasil como no mundo todo”, ratifica.

Encontro. Aliás, Zezé teve a oportunidade de cantar no mesmo palco e, para completar, a mesma música com a “divina”. Ela relembra com carinho desse encontro. “Já era fã da Elizeth desde a adolescência e, um pouco antes de ela falecer, participamos de um evento em saudação ao (compositor e cantor) Herivelto Martins (1912-1992). Lembro-me de que fiquei muito emocionada de vê-la ali, na minha frente”, recorda a atriz e cantora carioca.

Ao final da celebração, todos os presentes subiram ao palco, e, então, Zezé teve a oportunidade já mencionada de, junto aos demais, cantar a plenos pulmões “Praça Onze” (Herivelto Martins e Grande Otelo), tão perto de sua diva como jamais imaginou. “Fiquei toda prosa, desse espetáculo resultou um CD no qual gravei duas faixas. Não tenho palavras para definir esse momento na minha vida, ‘lisonjeada’, talvez, mas acho que não dá conta de expressar tudo o que senti”, arrisca. O álbum citado foi lançado em 1993, como resgate do acervo da Fundação Nacional de Artes (Funarte) sob o título “Que Rei Sou Eu?”. Além de Zezé e Elizeth, outra presença de destaque no trabalho é a de Pery Ribeiro (1937-2012), filho de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins.

Álbum. O espetáculo que Zezé traz de novo a Belo Horizonte pode ficar, para sempre, com a plateia, já que foi lançado em forma de CD no ano 2000. Com título homônimo à apresentação, o álbum é o penúltimo lançado por Zezé, que já prepara o sucessor de “Negra Melodia” (2011), uma ode à música de Jards Macalé e Luiz Melodia. “Eu adoro homenagens, cada artista que canto me ensina um pouco. Acredito que qualquer cantora pode se espelhar na Elizeth, em todos os sentidos, porque ela era extremamente profissional, dedicada, falava baixinho, respeitava o público, era chique, elegante”, elogia.

Já a próxima empreitada musical é um retorno às origens da intérprete, porém com o tempero da novidade. “Já está no forno, estamos definindo a identidade visual, vai sair este ano e se chama ‘O Samba Mandou Me Chamar’. Tem apenas duas regravações, ‘Mais Um Na Multidão’ (Erasmo Carlos, Carlinhos Brown e Marisa Monte) e ‘Louco’ (Wilson Batista). As outras são inéditas do Arlindo Cruz, Xande de Pilares, tem muita gente bacana”, promete Zezé. 

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