Futebol-Arte

Ex-goleiro do Cruzeiro, Vitor Braga é dono de galeria de arte

Com nome de Rugendas, galeria de leilões de arte fica no bairro Belvedere, em Belo Horizonte

Por Gustavo Rocha
Publicado em 21 de janeiro de 2019 | 03:00
 
 
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Os universos das artes plásticas e do futebol não costumam ter, muitas vezes, nada em comum. Portanto, fazer a travessia entre esses dois mundos ainda é raro. Influenciado pelo pai, o ex-goleiro do Cruzeiro Vitor Braga, 65, sempre teve um olhar sensível para as artes plásticas, e foi capaz de mantê-lo mesmo durante sua carreira como jogador profissional.

Goleiro do Cruzeiro entre os anos de 1971 e 1977 e 1981 e 1985, Braga é hoje dono da galeria Rugendas, especializada em leilões de quadros e esculturas. “Quando me apresentei no Cruzeiro, com 13 anos, já tinha uma proximidade com as artes plásticas, porque meu pai era um grande pintor. Ele fez Escola Nacional, no Rio de Janeiro. Eu convivi a vida inteira dentro de ateliês, nas escolas. Naturalmente, não podia fugir disso. Foi essa coisa inicial que me trouxe ao mercado”, garante ele.

Mineiro de Pedro Leopoldo, na região metropolitana de Belo Horizonte, Braga se considera “sortudo” por ter convivido com aquele que é considerado o melhor time do Cruzeiro de todos os tempos (pelo clube, foi vice-campeão Brasileiro em 1974; o título ficou com o Vasco). “Eu subi para o profissional muito cedo e era um grande time. Eu tive prazer de jogar com Dirceu Lopes, Raul Plassmann, Tostão, Fontana, Perfumo, Zé Carlos, Palhinha, Nelinho... Uma safra do melhor futebol do Brasil de todos os tempos”, relembra o ex-goleiro. Em 1972, aos 19 anos, disputou as Olimpíadas de Munique com a seleção brasileira.

Com os companheiros de equipe, Braga passou por grandes centros da cultura mundial e sua atenção ficava sempre dividida entre a rotina esportiva e as visitas a diversos museus das cidades onde jogava. “Aproveitava as viagens para conhecer arte lá fora. Qual outra carreira, com 18 anos, você está rodando o mundo? Todos os lugares por onde passava, eu buscava museus, cidades pequenas, grandes, países menos conhecidos… Eu procurava, porque era minha paixão. O futebol não me deu dinheiro, mas pude viajar e conhecer vários lugares”, destaca.

O interesse pelas artes (plásticas) não era compartilhado por nenhum dos seus companheiros, que o achavam “extravagante, eu diria”, se diverte ele. “Era difícil arrastar algum companheiro para um programa cultural. Me lembro de estar em Madri, na Espanha, disputando um torneio, e nossos treinamentos eram apenas pela manhã. Eu dizia: ‘Vamos ao museu, gente. Tem o Museu do Prado, o Reina Sofía aqui do lado’. E meus companheiros respondiam que queriam ficar na piscina. ‘Não tem piscina no Brasil, não?’, eu provocava”, relembra o marchand.

O goleiro Raul Plassmann – segundo goleiro que mais jogou pelo Cruzeiro – era um dos poucos companheiros de profissão que se interessavam pelo gosto cultural de Braga. “Raul não me acompanhava nas visitas aos museus, mas começou a se interessar por peças de arte”, lembra Braga.

Em 1977, ele abriu sua primeira galeria, que levava seu nome. Um ano depois saiu de Belo Horizonte para jogar no Santos (esteve lá entre 1978 e 1980). “Houve essa interrupção, me afastei do dia a dia da minha galeria, mas tive o prazer de estar no maior mercado brasileiro (de arte). Em São Paulo, acompanhei grandes leilões e exposições. Frequentava o Museu de Arte de São Paulo (Masp) e a Pinacoteca quase todos os dias. Foi mais um verniz, um enriquecimento nesse bojo que a gente buscava”, relembra.

Atualmente, a Rugendas, de Vitor, é uma das galerias mais importantes no mercado de leilões de obra de arte na cidade. Especializada em quadros e esculturas, a galeria vendeu o quadro “Vaso de Flores”, de Guignard, por R$ 4,8 milhões.

Pelo catálogo da Rugendas já passaram importantes artistas, como Portinari, Volpi, Adriana Varejão, Chanina e Ismael Nery. No passado, Braga também investiu em individuais de artistas que despontavam no mercado da cidade. Dentre eles, ele destaca Daniel Tavares, que vive entre Roma e Nova York.

Contemporâneo

Uma das preocupações de Vitor Braga é com a escassez atual de obras de arte no mercado. Para ele, um dos fatores que influenciam essa realidade é a baixa produção de novas obras de qualidade dos artistas atuais. Bastante crítico à arte contemporânea, o ex-goleiro julga que não houve um processo de renovação dos artistas, e isso o preocupa. “Temos ainda grandes nomes no mercado, mas eu receio que vários outros não serão artistas lembrados. A boa arte é atemporal e pode ser apreciada em qualquer momento”, garante.

Para ele, a produção contemporânea se agrava pela falta de formação dos novos artistas. “As pessoas não passam mais pelas escolas de arte, perdeu-se isso. Existe muita gente aventureira. Tem muita porcaria, vários brincalhões passando por artistas, sujeitos que não conseguem desenhar um copo”, reclama ele.

A Rugendas realiza uma média de quatro leilões por ano. Houve épocas em que se fazia um por mês. Braga revela que são cerca de 200 peças leiloadas por ocasião e que um pouco mais da metade costuma ser arrematada por seus compradores. A caminhada como galerista, embora pareça fascinante, foi árdua e consolidada com seriedade. “Até que você imponha respeito no mercado, demora. Hoje, felizmente, nós temos um dos maiores leilões do país”, comemora.

Leilões

Rugendas fica na av. Luiz Paulo Franco, 1.011, Belvedere. Os leilões costumam acontecer no Hotel Caesar Business, que fica na mesma rua.

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