Tradição recente

Explorações espaciais carnavalescas

Festa possibilita contato entre diferentes grupos sociais

Por Gustavo Rocha
Publicado em 25 de novembro de 2018 | 03:00
 
 
 
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Desde 2010, o movimento de retomada do Carnaval de rua de Belo Horizonte tenta criar relações com bairros e populações que historicamente nunca (ou quase nunca) participaram da festa. Para essa população não se tratava de mera escolha ou de não gostar do evento; mas de falta de oportunidade mesmo.

Em 2014, o bloco Filhos de Tcha Tcha chegou até a ocupação Rosa Leão. O bloco surgiu em 2010 e percorreu as ruas do Santa Tereza tentando manter a essência da Folia de Reis. Isso é, seus integrantes passavam pela casa de seus vizinhos oferecendo a folia e, em troca, recebiam um agrado da vizinhança.

“Queríamos radicalizar a experiência na cidade, saindo do bairro, com uma preocupação de relação afetiva e sincera com as comunidades. Buscamos lugares onde já tínhamos uma relação para não sermos tão estrangeiro e tentamos potencializar pautas e lutas que já existem, ajudando a projetá-las, a partir de vínculos sinceros”, destaca Rafael Barros, também conhecido como Tcha Tcha, figura importante no movimento de retomada do Carnaval de rua de BH.

Com o crescimento da popularidade do Carnaval e, sobretudo, com a grande circulação de foliões pelo Santa Tereza, os Filhos de Tcha Tcha procuraram outras rotas. Assumindo um caráter itinerante, o bloco passou pelo Concórdia, pelo Aparecida e chegou às ocupações.

Contudo, a ida para os bairros mais afastados e as ocupações nem sempre rende apenas comentários positivos. Invariavelmente, em redes sociais, é possível ver críticas ao “colonialismo carnavalesco” de vilas, ocupações e favelas. “É como se o Carnaval tivesse uma obrigação, uma política social a desempenhar. A existência dele é a experiência festiva e atemporal. Por outro lado, se a experiência faz com que as pessoas conheçam um discurso e passem seis horas de suas vidas em uma ocupação, o processo ganha uma potência crítica”, ressalta.

Precursores

Barros também foi produtor da banda Graveola, que em 2011, lançou “Eu Preciso de um Liquidificador”, seu segundo disco, na ocupação Dandara. “O show é um marco na história recente da cidade. Foi quando a cena central cultural de Belo Horizonte, de classe média, assumiu e passa a construir com as lutas das ocupações urbanas. Havia acabado de sair a liminar de despejo da ocupação, e isso fortaleceu a pauta”, diz.

 

Ocupar também os meios de comunicação

Ocupar e pensar outras formas de comunicação que fujam aos veículos tradicionais também está na pauta das ocupações urbanas. Nesse intuito, o Ocupa Mídia surgiu como uma iniciativa de vários movimentos – dentre eles Brigadas Populares, Internet Sem Fronteira e Movimento de Lutas nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). Eles buscam capacitar moradores das ocupações para alimentarem os canais de comunicação, sobretudo em redes sociais, com notícias e atualizações do lugar onde vivem.

“A gente mostra aquilo que não costuma sair no jornal. Divulgamos a luta dentro das ocupações e a realidade de nós, moradores”, pontua a jovem Raquel Rodrigues, de apenas 17 anos, uma das sete integrantes do Ocupa Mídia Rosa Leão, ocupação na região do Barreiro, perto da Mata do Isidoro. “A comunicação é real, mas queremos aumentar o número de pessoas envolvidas, chegando até outras ocupações”, pondera ela.

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