Dois momentos especiais enriquecem o concerto que a Filarmônica de Minas Gerais realiza hoje, no Palácio das Artes, pela série Vivace: a presença do violinista russo Misha Keylin como solista convidado na execução da "Sinfonia Espanhola", do compositor francês Édouard Lalo (1823-1892), e a estreia mundial da peça "Reações", do carioca Vicente Alexim, vencedor da edição 2011 do festival Tinta Fresca, promovido pela orquestra para revelar novos compositores.
Completam o programa obras de Stravinski e Manuel de Falla.
Com inscrições para a edição deste ano abertas até o próximo dia 30, o festival Tinta Fresca é, segundo o diretor artístico da Filarmônica, maestro Fabio Mechetti, um ótimo canal de difusão da obra de jovens autores contemporâneos. "Para os compositores brasileiros que estão começando, trata-se de uma iniciativa essencial, já que pode viabilizar a execução de sua obra e, dessa forma, aprender o que funciona e o que não funciona", diz.
Nesse exercício de experimentar e testar o que dá certo ou não, Vicente Alexim optou pelo risco e foi bem-sucedido. Ele aponta que "Reações" se vale de uma linguagem pouco usual, que explora sons não convencionais e timbres ruidosos. "Para os músicos, é uma peça que exige um certo trabalho a mais, porque lida com um tipo de linguagem à qual nem sempre eles estão acostumados", diz, apontando como referências obras de nomes como Matthias Pintscher e Sofia Gubaidulina.
"Em determinados momentos, escrevo para os músicos se expressarem de formas não convencionais, como, por exemplo, o pianista tocar dentro do piano, diretamente nas cordas, ou os instrumentistas de sopro emitirem só o som do ar, sem a nota musical. Certas coisas na percussão também são tocadas com um arco de violoncelo, por exemplo", explica.
Ele ressalta que o nome "Reações" traduz bem a estrutura da obra que criou e será apresenta hoje. "A intenção era alcançar um conjunto bem coeso e conciso, e a isso adicionar a minha linguagem. A forma de eu poder lidar com isso foi fazer uma peça com duas identidades musicais: uma é um pouco mais tradicional, tendo a linguagem baseada em notas e conduções melódicas, e a outra é essa mais ruidosa, baseada mais em texturas do que em melodias.
Essas duas identidades provocam reações entre si, trocam ideias e intenções", salienta.
A despeito de já acumular prêmios em alguns concursos importantes, ele destaca o respaldo que a escolha de uma obra sua pelo festival Tinta Fresca pode dar à trajetória. "É a primeira vez que escrevo uma peça para orquestra sabendo que ela vai ser executada e por quem vai ser executada. E trata-se de uma orquestra de nível mundial", aponta.
Agenda
O Quê. Série Vivace, com a Filarmônica de Minas Gerais
Quando. Hoje, às 20h30
Onde. Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro, 3236-7400)
Quanto. R$ 54 (plateia 1), R$ 37 (plateia 2) e R$ 25 (balcão)