Lançamento

Irreverente, Thaís Gulin faz disco multifacetado

Redação O Tempo

Por LUCIANA ROMAGNOLLI
Publicado em 17 de abril de 2011 | 17:22
 
 
 
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Curitiba já havia ficado para trás quando a cantora paranaense Thaís Gulin despejou a onoridade sulista, somada a um flerte com a vanguarda paulista, em seu primeiro disco, homônimo dela, lançado em 2007 no Rio de Janeiro.

O repertório ousado e a irreverência provocavam curiosidade pelo que a moça faria dali adiante. Mas foi preciso esperar quatro anos até "ôÔÔôôÔôÔ", o recém-lançado segundo disco, comprovar a potência de sua liberdade criativa, regida pelo desvio das obviedades.

Thaís faz um passeio aleatório por gêneros que o tempo todo se traem, como o carimbó ("Água", de Kassin), o frevo ("Frevinho", em parceria com Moreno Veloso), o rock, o tango e o samba, e é inventiva nos arranjos e nos vocais. "Se eu quiser colocar voz e um cachorro latindo, posso", permite-se.

Cada vez mais identificada ao Rio de Janeiro, cidade que adotou para si, a moça deixou que o ambiente a "invadisse" sem perder o olhar estrangeiro. Canta dois sambas, sim, mas com distanciamento.

Um deles - o que batiza o disco - ela define como "antissamba". Compôs furiosa por ter sido desestimulada pelos amigos a desfilar em uma escola de samba, por causa da sua inexperiência e distração. "Eu vou/ cair nessa avenida/ eu vou/ atrapalhar a sua escola/eu vou", brada Thaís.

O outro, "Cinema Americano", é um obscuro samba de Rodrigo Bittencourt, pelo qual a cantora de 30 anos ficou "obcecada". Um libelo contra machismos e sucessos importados - e a primeira canção alheia que Thaís escolheu para seu disco, que soa autoral mesmo com tais empréstimos.

"Também coloquei instrumentos de samba em músicas que não eram sambas", comenta Thaís, em entrevista ao Magazine. "Eu não queria cair no gênero, mas as suas sensações e timbres, a noite, a alegria e a dor", explica.

Tanto não se encontrava em uma onda sambista que Thaís declinou dois sambas ofertados por Adriana Calcanhotto. Preferiu gravar, da gaúcha, "Encantada", por achar "engraçadinha". Outras duas baladas do disco são a soturna canção de amor "Quantas Bocas", criada com Ana Carolina e Kassin, e "Paixão Passione", feita para a novela homônima.

Ironicamente, o mais óbvio a que a cantora e compositora chega é regravar "Little Boxes", tema folk sessentista de Malvina Reynolds (hoje, trilha de abertura da série "Weeds"), que se tornou hino do comportamento fora do padrão.

De resto, ela aprecia a liberdade, por exemplo, de dar aura rock´n´roll mesmo a trabalhos suaves. "É uma coisa transgressora que acho muito bonita", diz.

A potência dessa pegada roqueira se ouve na sua versão para o xote "Revendo Amigos", parceria de Jards Macalé e Waly Salomão, calcada na tensão da guitarra em trinca com baixo e bateria.

Mas também se insinua no casamento harmonioso do violão de sete cordas com a guitarra em "Horas Cariocas", composição dela rica em texturas e cujos vocais melodiosos lembram a colega Tiê no refrão.

Contrastam com a leveza de "Ali Sim, Alice", atrevida composição de Tom Zé, digna da "Canção da Tartaruga" de "Alice no País das Maravilhas", pelo tom brincalhão, colorida por improvisos vocais e piano com tachinhas.

No multifacetado disco de Thaís, cabe ainda o lirismo amoroso, cheio de graça, do dueto com Chico Buarque em "Se Eu Soubesse", escrita por ele para ela.

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