“Ben-Hur”

Longa é remake herético e desnecessário 

Redação O Tempo

Por Daniel Oliveira
Publicado em 18 de agosto de 2016 | 03:00
 
 
 
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Este “Ben-hur” que estreia hoje está para o clássico dirigido por William Wyler em 1959 assim como a novela da Record está para “Os Dez Mandamentos” de Cecil B. DeMille. Um é um grande clássico da história do cinema. O outro é um produto feito para ganhar dinheiro em cima da fé e do mau gosto dos outros.

O que, por mais que seja uma crítica, é também um sinal de que o filme tem seu público. Que vem a ser, basicamente, aquela pessoa que quer ver “Ben-hur’, mas não está com muito tempo, então aperta “fast-forward” em toda cena com muito diálogo, muito sofrimento ou qualquer coisa que não seja ação.

Porque é basicamente isso que o remake do diretor Timur Bekmambetov faz com o clássico de Wyler e o romance de Lew Wallace, sobre o príncipe judeu Judah Ben-hur (Jack Huston). Traído pelo irmão adotivo Messala Severus (Toby Kebbell), romano, ele se torna escravo, sobrevive e retorna a Jerusalém em busca de vingança.

Como todo épico, a trama de “Ben-hur” só é importante pelos temas universais que explora. Bekmambetov, porém, não parece entender isso. Ele se mostra completamente desinteressado em qualquer cena que propicie uma discussão ou aprofundamento temático, como se tudo que quisesse é refilmar a icônica corrida de bigas do clímax da história – sequência que é como “E o Vento Levou” refilmado pelo diretor de fotografia de “300”: não é exatamente feio, simplesmente herético.

O sintoma mais claro desse desinteresse é a patética ponta de Rodrigo Santoro como Jesus Cristo. No livro e no longa original, ele é a subtrama que serve de contraponto ao ódio e desejo de vingança de Ben-hur – o cara do “deixa disso” e da “vingança nunca é plena, mata a alma e envenena”. Aqui, ele aparece por menos de três minutos, falando um punhado de frases feitas, como algo de que Bekmambetov precisa para redimir seu protagonista no ato final.

Da mesma forma, o arco de Ben-hur é bastante prejudicado por esse fast-forward que o cineasta faz pela história, especialmente em seu momento crucial: quando ele se torna escravo. O período vira 15 minutos corridos e sem o mínimo de emoção, culminando com Morgan Freeman numa peruca ridícula e o mesmo papel que vem fazendo há 30 anos (a narração em off dele também é de doer).

Com isso, a transformação do protagonista se resume a uma mudança de voz – que vai distrair os fãs de “Boardwalk Empire”, já que Huston usa o mesmo grave de seu Richard Harrow na série. A mesma fragilidade dramatúrgica se reflete na motivação de vários personagens que, atropelados pela montagem, não fazem muito sentido.

Lançado pouco após a Segunda Guerra, o “Ben-hur” original ofereceu uma narrativa de superação e perdão ao nazismo e o Holocausto. Esse remake não tem interesse nenhum em tornar a história relevante ou atual, comentando sobre a crise dos refugiados ou algo do tipo. O que torna difícil entender por que ele existe, ou o que Bekmambetov queria dizer ao fazê-lo. Se quiser ver um grande épico de ação, atemporal e empolgante, separe 3h30 da sua vida e veja o original. 

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