Mayombe aposta na linguagem poética para dissecar a América

É no campo da metáfora e da poesia, amparada na livre inspiração de um texto de Gabriel García Márquez, que a diretora Sara Rojo e seu Grupo Mayombe apresentam um desenho crítico do continente latino em "A Pequenina América e Sua Avó $ifrada de Escrúpulos", espetáculo que estreia amanhã na programação do Verão Arte Contemporânea.

Logo de cara, o público é apresentado ao desamparo desta personagem que já nasce devendo, que vive à sombra da opressão dessa figura imperialista e - por que não? - capitalista da avó colonizadora.

Marina Arthuzzi, na pele de América, consegue emprestar delicadeza e fragilidade à personagem, construída, na maioria das vezes, não pelo que diz, mas, sim, pelas imagens que cria. Aliás, é na construção de imagens simbólicas e ao mesmo tempo poéticas que o espetáculo atinge seus pontos mais altos.

A dramaturgia, embora com alguns altos e baixos, é o elemento que mais se destaca na montagem, mesclando citações diretas à realidade com conteúdo altamente poético, quando atinge seus momentos mais sublimes.

A encenação de Sara Rojo é dinâmica e inventiva, mesmo que alguns atores estejam mais fortes em cena do que outros.

Marina Viana - que assina a criação do texto junto aos colegas de grupo Marcos Coletta e Éder Rodrigues - empresta a essa avó inescrupulosa, com mérito, toda sua potência cênica, mas se fixa aos tipos que já a vimos fazendo, o que inclui, também, o discurso verborrágico e cheio de palavras de ordem do "american way of life". Um certo tom bizarro que pode gerar incômodo.
O Mayombe segue um rumo promissor, na busca de um trabalho em que política, poesia e estética não estão dissociadas.

Agenda
O que. "A Pequenina América e sua Avó Inescrupulosa"
Quando. Estreia amanhã, às 20h
Onde. Esquyna (rua Célia de Souza, 571, Sagrada Família).
Quanto. R$ 14 (inteira)