Música

Novo ídolo árabe conquista EUA 

Vencedor do “Arab Idol, o palestino Mohammed Assaf vira astro pop entre seus conterrâneos espalhados pelo mundo

Por Lindsay Crouse <br>The New York Times
Publicado em 07 de janeiro de 2014 | 04:00
 
 
 
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Chicago, EUA. Um ano atrás, Mohammed Assaf tinha 23 anos e era cantor de casamentos em um acampamento de refugiados em Gaza, mas desde que venceu o programa “Arab Idol” em junho de 2013, diante de um público de mais de cem milhões de telespectadores, ele se tornou uma espécie de superastro pop do mundo árabe.

Agora, Assaf está tentando conquistar a América do Norte, ou pelo menos a porção de sua população que descende de árabes, com uma turnê de dois meses pelas cidades com grandes núcleos de imigrantes que terminou em Charlotte, na Carolina do Norte, no dia 28 de dezembro. De Detroit a Tampa, na Flórida, todos os shows ficaram lotados, com famílias inteiras dispostas a pagar US$ 350 por cabeça.

No Alhambra Palace de Chicago, homens adultos corriam para tocá-lo e mães de cabeças cobertas abraçavam as filhas, histéricas. Uma senhora com um vestido tradicional enfeitado, geralmente reservado para casamentos, colocou, com um gesto solene, um “kaffiyeh”, o lenço árabe, à volta do pescoço do rapaz, levando a plateia ao delírio.

“Quando eu era novinha, ia aos shows do ‘NSync e as meninas jogavam sutiãs no palco”, conta Marwa Abed, uma palestina/norte-americana de 24 anos que trabalha como professora assistente. “Ver o mesmo entusiasmo em relação ao kaffiyeh, que tem um simbolismo tão forte para a comunidade palestina, fez desaparecer o limite entre plateia e palco. É como se fôssemos todos uma coisa só”.

Assaf foi convidado a se apresentar, ao lado da colombiana Shakira, durante a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Como acontece com praticamente todas as celebridades palestinas, Assaf está envolvido com a política – e embora diga que prefere manter o foco da carreira na música, faz questão de falar sobre a causa de seu povo.

“Nós estamos em busca de nossos direitos, da paz, da união, do fim da ocupação e dos assentamentos israelenses ilegais”, disse ele em entrevista recente através do tradutor. Reconhecendo o valor simbólico de Assaf, Mahmoud Abbas, líder do Fatah e presidente da Autoridade Palestina, mais que depressa anunciou o apoio ao rapaz na competição – e fez questão de lhe oferecer um passaporte diplomático depois da vitória. Para os EUA, ele é um embaixador da boa vontade.

Já para o grupo militante de oposição, o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, o estilo ocidental do programa vai de encontro às suas ideias conservadoras, embora seus membros evitassem criticar Assaf publicamente. De fato, segundo a imprensa, o Hamas prendeu Assaf em 2008, embora ele se recuse a falar no assunto.

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, por sua vez, incluiu em uma mensagem ao Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, um vídeo do YouTube em que Assaf canta sobre as cidades israelenses que já pertenceram à Palestina. E escreveu: “Incitamento e paz não podem coexistir”. As palavras de Assaf podem ser tão politicamente corretas como sua nova persona pública. “Eu já nasci sofrendo. Tudo de mais belo e básico que tínhamos foi destruído. Agora que tive a chance de cantar para as pessoas e ganhei, é meu dever falar sobre essas coisas. Quero contar ao mundo de toda a dor pela qual passamos”.

Assaf cresceu no acampamento de refugiados de Khan Younis, em Gaza, uma área frequentemente afetada pela falta de água, gás e eletricidade devido a um bloqueio imposto por Israel.Ele era conhecido localmente como cantor de músicas nacionalistas e ouvido na saudação que gravou para uma operadora de celular regional. Também já trabalhou como motorista de táxi, jogador de futebol e peão de obras para pagar a mensalidade da faculdade de Comunicações. O pai é um agente da alfândega aposentado; a mãe, professora de matemática de uma escola da ONU. Com eles, dois irmãos e quatro irmãs, Assaf dividia um apartamento de três quartos.

“A gente brincava na rua e se machucava toda hora por causa dos cacos de vidro, das pedras e dos pregos espalhados. Não havia oportunidades de emprego, nem dinheiro, nem liberdade”.

 

 

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