Clarissa Campolina

'O mundo foi tomado pela espetacularização'

Redação O Tempo

Por Marcelo Miranda
Publicado em 27 de agosto de 2009 | 18:17
 
 
 
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A seguir, Clarissa Campolina fala sobre seu primeiro trabalho solo, o média "Notas Flanantes", e a parceria com Helvécio Marins, que já rendeu "Trecho" e vai gerar "Girimunho" no ano que vem.
Em "Notas Flanantes", no que a experiência de montadora pesou ao projeto?
É óbvio que a experiência de montadora e de outras artes influencia naquilo que se vê e naquilo que eu faço, da pintura ao trabalho de outros realizadores. Mas, fora ser uma montadora, eu sou uma pessoa organizadora. Acho que isso inevitavelmente está no filme, até porque ele é muito subjetivo. Já me disseram que é o "flaneur" (poesia) mais organizado que já se viu, e é por aí. Existe uma aleatoriedade, mas também a organização. E na montagem, eu buscava organizar o discurso, a narrativa, porque o mais interessante era revelar o processo de feitura.

Em filmes de subjetividade e intimismo, como são "Trecho" e "Notas Flanantes", qual o diálogo possível com o outro, ou seja, com quem recebe o filme e o assiste?
Se o outro se permite ver, estar ali, experienciar o que está na tela, o diálogo pode ser maior. A espetacularização do mundo é diferente de se fazer algo tão mínimo e singular. Essa espetacularização virou um tipo de roteiro do mundo, e a possibilidade de você dialogar é muito menor, é difícil quebrar esse roteiro e deixar um espaço para outro. No "Notas Flanantes", mesmo tão subjetivo, com muito silêncio, tem a ideia de mostrar um encontro de quem filma com a paisagem, algo que permitisse ao outro a possibilidade de experiência de percepção que dialogasse com as imagens e sons.

Quais são suas referências no cinema?
Gosto de muitos trabalhos de muitas pessoas [risos]. Gosto do John Cassavetes, da Sophie Calle, da Agnés Varda... Cada um deles tem uma pesquisa diferente, como também o Charles Brackett ou o Pedro Costa. Acaba sendo algo infinito.

No "Trecho" você divide a direção com o Helvécio Marins.
Já tinha feito trabalhos conjuntos, no "Silêncio", do Sérgio Borges, e "Nascente", do Helvécio, ainda que havia um nome como o diretor. "Trecho" foi o primeiro em que eu realmente dividi nominalmente a direção. Foi um projeto realizado em conjunto desde o argumento, a concepção, a filmagem, a exibição. É este que considero o meu primeira curta em 35mm.

Agora vocês fazem o "Girimunho". Onde nasceu a proposta deste longa?
Surgiu da vontade de filmar no espaço onde ele vai ser filmado. Tudo começou na pesquisa de locação do "Nascente", quando conhecemos são Romão, comunidade nas margens do rio São Francisco. Várias vezes voltamos lá e, numa dessas viagens, conhecemos um casal, que serão os personagens do filme. A partir de conversas com eles e com a Maria do Tambor, outra figura local, construímos o roteiro junto com o Felipe Bragança [roteirista de "O Céu de Suely" e "No Meu Lugar"]. E estamos agora com o roteiro delineado, mas já sentindo que ele não será estritamente seguido, porque os personagens serão os próprios moradores, e isso deve permitir coisas que não esperamos. O roteiro será o nosso guia, com várias possibilidade de abertura.

Qual a previsão?
Pretendemos filmar no primeiro semestre do ano que vem

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