Nelson Rodrigues (1912-1980), de Recife, e Ariano Suassuna (1957-2014), de João Pessoa, são nomes que facilmente vêm à memória quando se pensa em grandes dramaturgos brasileiros. A recorrência, porém, não é tão natural ao se lembrar de autores de Belo Horizonte que escrevem sobre teatro. Não por falta de escritores, mas pela pequena quantidade de livros que reúnem textos sobre as artes dramáticas.

A constatação da lacuna, feita pelos dramaturgos Assis Benevenuto e Vinícius Souza, levou-os a organizar cinco obras que marcaram a dramaturgia belo-horizontina, e que agora estão publicadas em “Dramaturgia de Belo Horizonte: Primeira Antologia”. O livro será lançado nesta quarta-feira, no Teatro Marília, pela belo-horizontina Editora Javali, que, desde 2015, se dedica a publicar livros de teatro, dramaturgias e teorias teatrais.

“Estávamos muito instigados a publicar dramaturgias contemporâneas, mas fomos percebendo que a dramaturgia belo-horizontina foi pouco registrada. As pessoas conhecem mais autores de fora”, justifica o editor do livro Vinícius Souza.

A antologia é o primeiro registro desse tipo realizado em Belo Horizonte e traz as obras “Oh! Oh!Oh! Minas Gerais” (1967), de Jonas Bloch e Jota Dângelo; “O Fedor” (1970), de José Antônio de Souza; “Um Sobrado em Santa Tereza” (1989), de Walmir José; “Babachdalghara” (1995), de Ione de Medeiros; e “Por Elise” (2005), de Grace Passô.

O objetivo da publicação não é fazer um registro definitivo dos textos da dramaturgia belo-horizontina, mas lançar luz sobre obras que, de certa forma, marcaram o teatro mineiro no período em que foram publicadas. “Existe um caráter de memória e de valorização desses autores. O teatro é muito efêmero. Isso é lindo, mas, ao mesmo tempo, é muito difícil de registrar não só o texto, mas também a memória”, avalia Souza, ao contar que se sente responsável por tentar mudar esse cenário.

Curadoria. A pesquisa desenvolvida pelos editores durou dois meses e obedeceu a alguns critérios. O primeiro foi o de resgatar textos que representassem o percurso do teatro mineiro desde a década de 1960, quando a dramaturgia da capital tomou mais força. “Qualquer obra que tente contar a história é falha, por causa de sua linearidade, mas foi a maneira que encontramos”, conta Souza.

Além disso, os organizadores preocuparam-se em escolher textos feitos por autores daqui. “A cidade teve espetáculos emblemáticos, mas o forte não era a dramaturgia original. Nos preocupamos em escolher textos que representassem não só a estética, mas traduzissem aspectos culturais, sociais e políticos (da região)”, afirma, ao revelar o último critério: “Tentamos escolher textos em que a palavra tivesse força”, diz.

A publicação também contempla um breve panorama histórico da dramaturgia belo-horizontina, elaborado pelos organizadores do livro. “Pegamos o histórico desde o início da cidade, quando existia uma precariedade de estudos teatrais. Fazemos esse panorama para contextualizar porque escolhemos os textos e citamos vários outros autores que foram e são importantes para a cena”, comenta Souza, revelando que a ideia de fazer outro volume não está descartada.


Agenda

O quê. Lançamento do livro “Dramaturgia de Belo Horizonte: Primeira Antologia”
Quando. 19/7, às 20h
Onde. Teatro Marília (avenida Alfredo Balena, 586, centro)
Quanto. A distribuição de exemplares no evento será gratuita