Estreia

Racismo que sempre condena

Estrelado por Michael B. Jordan e Jamie Foxx, 'Luta por Justiça' convence por atuações e trama correta e envolvente

Por Fabiano Azevedo
Publicado em 21 de fevereiro de 2020 | 03:00
 
 
 
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Baseado em uma história real, “Luta por Justiça”, que estreia nesta semana nos cinemas de todo o Brasil, passeia por questões que são alvo de permanente debate na sociedade norte-americana. A começar pelo racismo, que prossegue sendo motivo de violentos conflitos, sobretudo em Estados como o Alabama, onde se passa a narrativa. Mas o longa, cuja direção é de Destin Daniel Cretton, também questiona a pena de morte, a desigualdade social e a Justiça aplicada de forma precária e tendenciosa – questões que podem e devem, a propósito, ser discutidas também por nós, brasileiros.

A trama se passa nos primeiros anos da década de 90. Em vez de iniciar uma carreira tradicional, Bryan Stevenson (Michael B. Jordan), recém-formado em direito em Harvard, decide abrir uma ONG para ajudar condenados à morte que não têm condições de pagar advogados em Montgomery, capital do Alabama. Dentre os vários possíveis condenados de forma injusta, um chama a atenção do jovem advogado: Walter McMillian, morador de uma comunidade de famílias negras da periferia. Interpretado pelo vencedor do Oscar Jamie Foxx (como sempre explosivo e convincente), McMillian foi acusado de assassinar brutalmente uma jovem da cidade. Rapidamente condenado, ele aguardava há seis anos, no corredor da morte, a data de sua execução.

Bela atuação

Ao identificar falhas e inconsistências evidentes no processo, o advogado tenta, a todo o custo, reabri-lo – mesmo que, para isso, precise lidar com a ira das autoridades e sofra, ele próprio, com o racismo latente do local. Racismo que, aliás, permeia todo o julgamento de McMillian – um homem sem antecedentes criminais e com vários álibis para inocentá-lo. Mesmo assim, e baseado apenas no depoimento de uma testemunha – o também condenado Ralph Meyers (interpretado pelo surpreendente Tim Blake Nelson, que chega a roubar algumas cenas de Michael B. Jordan) –, McMillian foi condenado à pena máxima.

O filme conta, ainda, com a participação de outra vencedora do Oscar, Brie Larson, como Eva, sócia de Stevenson em sua instituição, além do rapper O’Shea Jackson Jr. no papel de um dos companheiros de prisão de Walter McMillian.

Válido sobretudo pelas memoráveis atuações do elenco – especialmente de Jamie Foxx –, “Luta por Justiça” traz uma trama correta, envolvente e de final obviamente comovente. E fiel aos fatos. Ao longo dos anos, a instituição criada por Stevenson, a “Equal Justice Initiative”, ainda na ativa, conseguiu reverter diversas condenações – dentre elas a do próprio McMillian –, tocando, assim, num nervo exposto dos Estados Unidos. Afinal, mesmo sendo a maior economia do mundo, o país está longe de ter uma Justiça equânime e isenta de distorções motivadas por diferenças sociais. Não à toa, é emblemática a frase dita por Stevenson em certo momento do filme (e que, de fato, é dita pelo advogado em suas palestras e livros): “O oposto de pobreza não é riqueza. O oposto de pobreza é Justiça”.

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