Mostra de Cinema de Tiradentes

Sentimentos de um povo

Redação O Tempo

Por Marcelo Miranda
Publicado em 26 de janeiro de 2010 | 20:44
 
 
 
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Tiradentes. Uma tríplice fronteira dentro do coração de um país é uma realidade bastante distinta ao que se está acostumado no cotidiano das metrópoles. "Terras", primeiro longa-metragem da diretora Maya Da-rin e exibido na noite de segunda-feira na 13ª Mostra de Cinema de Tiradentes, tem o propósito de transformar em imagens de cinema os sentimentos de um povo, evitando se tornar discurso sociológico para ser, essencialmente, o testemunho de um fluxo.

"Terras" registra a tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru a partir de duas pequenas cidades gêmeas, a colombiana Letícia (30 mil habitantes) e a brasileira Tabatinga (48 mil) - ambas rodeadas pela vegetação da floresta amazônica, numa espécie de "ilha urbana", como a sinopse do filme define.

Maya Da-rin morou por dois meses na região com o exclusivo intuito de absorver aquela realidade. "Foi um período de pesquisa, no qual a ideia era simplesmente estar ali e sentir o ambiente e o ritmo do lugar", conta a diretora.

A palavra-chave do trabalho de Maya era fronteira. Não apenas a noção dicionarizada do termo (limite ou linha divisória), mas um sentido ainda maior e, por vezes, afetivo. "É a fronteira como espaço de transição e de indefinição, e as formas como as pessoas habitam esse espaço", afirma ela.

Maya, no filme, ouve taxistas, barqueiros, índios; mostra gente trabalhando, andando, dormindo, dançando; e expressa a textura do chão, das pedras e da natureza para dar escopo ao que rodeia esses detalhes e tornar mais vívida a experiência de se estar presente ali. "Eu queria trabalhar num lugar de divisão territorial e perceber como essa fronteira é presente na vida daquela gente, tanto no sentido físico mesmo, de delimitação, até uma noção abstrata desse conceito". Os índios, para ela, representam exatamente um tipo de não-lugar que parece caracterizar a ilha urbana. "Eles estão num local intermediário. Não são reconhecidos como índios, nem são brancos. Não são ninguém naquele mundo".

*O repórter viajou a convite da organização do evento.

Hoje na mostra
As sessões de curtas de hoje vão exibir dois dos trabalhos recentes mais expressivos no formato.

Ambos são de Pernambuco: "Recife Frio", de Kleber Mendonça Filho, e "Faço de Mim o que Quero", de Sergio Oliveira e Petrônio Lorena

A exibição começa às 21h, no Cine Praça, também com "Bailão", de Marcelo Caetano, e "Quarto de Espera", de Bruno Carboni e Davi Pretto

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