Sobre o homem e seus relacionamentos virtuais

Foi a partir de um convite do agrupamento O Coletivo que o diretor Júlio Vianna chegou ao espetáculo "Argonautas de Um Mundo Só", que estreia hoje na Spetáculo Casa de Artes e segue em cartaz até o dia 16. Criada a partir do desejo de refletir sobre as relações entre o homem e as novas tecnologias, a montagem se volta a temas como solidão e relacionamentos virtuais, ambos tratados a partir de uma perspectiva próxima ao existencialismo.

"Além de serem questões que me tocam pessoalmente, acredito na relevância social dessa discussão. Trata-se de uma realidade muito presente nos nossos tempos, em que dispositivos móveis e digitais se tornam cada vez mais massivos. É importante, nesse sentido, refletir sobre essas questões e repensar nossas posturas", defende Júlio Vianna, que assina a dramaturgia do espetáculo em parceria com Éder Rodrigues.

Para materializar essa discussão, conta Vianna, foi desenvolvida uma história baseada em contraditórias e conflituosas relações de vizinhança. "A narrativa se estrutura em torno de quatro vizinhos sempre conectados a várias pessoas, mas bastante isolados entre si. Quando eles se deparam com um problema comum, entretanto, são forçados ao encontro", adianta o diretor, que estabelece analogias entre lixeiras reais e virtuais durante o espetáculo, chamando atenção para os excessos da vida contemporânea.

"O que se tem é uma superlotação da lixeira dessa vizinhança, com elementos virtuais e concretos que, no fim das contas, acabam se misturando", completa.

Além de permearem os conflitos dos personagens, as relações com a tecnologia contaminam outras dimensões do espetáculo, no qual se fazem presentes numerosas projeções em vídeo, assim como cenas em que os atores conversam ao vivo, pela internet. "Há ainda uma videoconferência que se inicia sempre uma hora antes do espetáculo, exibida no saguão do teatro e também na web. O público, por sua vez, pode sugerir vídeos que serão exibidos em um momento específico do espetáculo", acrescenta.