Música

Uma voz que imprime um estilo singular  

Prestes a lançar um novo disco, Filipe Catto, que faz show nesta segunda em BH, ressalta a sua qualidade de intérprete

Por Carlos Andrei Siquara
Publicado em 27 de julho de 2015 | 03:00
 
 
 
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Filipe Catto não se vê como um cantautor, embora também componha. Para ele, ao produzir um novo disco, como o seu segundo de estúdio, em que vai destacar suas qualidades de intérprete, ele não entende haver o compromisso de dar voz apenas as suas letras. Convidado para fazer o encerramento do I Inverno das Artes, com um show nesta segunda na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes, o músico deverá também mostrar um pouco disso, ao cantar algumas criações suas e de outros compositores que admira.

O cuidado com a interpretação, aliás, repaginando músicas a partir do seu próprio timbre, é um dos momentos do seu trabalho ao qual ele mais se dedica. “Eu gosto de pegar uma música e cantá-la do meu jeito, dando à canção, de repente, uma outra possibilidade de escuta”, diz Filipe Catto.

Recentemente, por exemplo, ele produziu um projeto que homenageou a cantora Cássia Eller. O motivo para o artista ter escolhido o repertório dela tem a ver com o próprio impacto que Eller teve em sua decisão de trilhar o mesmo caminho da cantora.

“Talvez, se não existisse a Cássia, eu não fizesse o que faço hoje. Eu poderia falar também de Elis Regina, que é uma grande influência para mim. Eu a amo e, para mim, ela é como se fosse uma professora de canto. Eu paro tudo para escutá-la, como faço também com Maria Bethânia. Elas fazem parte do meus ídolos, que são atemporais, mas na minha época, quem eu mais vi acontecer foi Cássia Eller, por isso ela é muito importante para mim”, afirma ele.

Catto percebe, inclusive, reverbarações da experiência de ouvir Eller no seu interesse em compor a música “Saga”. “Eu era uma pessoa do rock e conheci Cássia Eller durante a adolescência. Ela foi para mim uma espécie de ponte entre o rock e a música brasileira. Eu fiquei muito interessado em como uma pessoa tão outsider conseguia alcançar o público daquela forma. Eu acredito que aprendi a tocar cantando Cássia Eller e, se seu não tivesse ouvido ela interpretando maluca um tango, talvez eu não tivesse escrito ‘Saga’”, afirma o músico.

Aliado à maneira como ele se vê mais como intérprete, Catto também observa que se reconhece no palco como um performer. “O que acontece no palco é algo muito importante para mim. Eu penso muito na questão da luz, no espetáculo como um todo. Inclusive, mesmo o show de voz e violão, ao meu ver, tem a proposta de ser um espetáculo. Não tem toda aquela estrutura dos outros, mas ele poderia ser visto como uma espécie de monólogo. Embora tenha uma característica mais crua, eu acho que não conseguiria pisar num palco como se tivesse de chinelo. Ainda que a proposta seja ser mais despojado, acho necessário manter a nobreza de se estar em cima do palco, sempre”, completa.

Ao identificar a afinidade com elementos teatrais no seu trabalho, Catto não atribui a isso um conhecimento específico nessa linguagem, mas à maneira como ele dialoga com diferentes tipos de arte.

“Quando se está falando de música, eu penso numa forma de expressar algum tipo de sensação. Para mim, é mais fácil expressar isso por meio dela. Mas eu não gosto da ideia de referência musical para alguma criação. Eu sou muito mais tomado por sensações. Então, se eu vejo uma peça de teatro, um filme ou uma exposição, eu fico muito atento aos sentimentos e sensações. Eu adoro, por exemplo, a fotografia, e ela é uma coisa que me inspira muito, como as ilustrações. Tudo isso me ajuda a realizar o que faço”, conclui.

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