Os principais nomes do humor nacional fizeram parte da “Escolinha do Professor Raimundo”, mas Chico Anysio também abriu espaço não só para novos humoristas, como também para quem não era do ramo. Duas atrizes se destacaram nessa leva não só pelo carisma e pelo talento, mas pela surpreendente veia cômica.
Cláudia Mauro era a caçulinha da turma – ela tinha 21 anos quando foi convidada para integrar o estelar elenco e fazer a dona Capitu, a moça tímida que se revelava quando apagava o quadro de forma sensual. A atriz, que já fazia teatro e estava no começo da carreira, considera o papel um dos mais marcantes de sua trajetória. “Eu estava com os grandes mestres do humor, atores consagrados. Era o meu início na TV, mas eu já fazia teatro há muito tempo, então fiquei administrando essa minha passagem importante pela ‘Escolinha’ para que eu não ficasse muito rotulada nesse lugar. Eu vinha de uma formação de teatro e tinha muito interesse em ir para a dramaturgia. Eu não era apenas uma humorista. Fiquei durante um longo período, e o Chico me ajudando, tentando que eu não ficasse tão rotulada na personagem”, recorda.
Capitu fez tanto sucesso que a personagem quase virou uma boneca. Cláudia ainda chegou a ser convidada para posar para a “Playboy”, mas recusou. O foco era outro. “Eu ia para o teatro fazer peças alternativas com diretores incríveis, conceituados. Eu queria ganhar prestígio. Eu tinha muita popularidade (com a ‘Escolinha’), mas não tinha prestígio. Nessa época, quem era da linha de shows e de humor era rotulado e não ia tanto para a dramaturgia, mas foi um grande momento. Aprendi demais com todos eles e, obviamente, foi um personagem muito importante na minha carreira”, celebra.
Com 51 anos e atuando, sobretudo, em novelas – sejam as da RecordTV ou da Globo –, Cláudia Mauro tem lembranças carinhosas daquele período e ressalta o privilégio que foi conviver com nomes como Brandão Filho, Lúcio Mauro e o próprio Chico Anysio.
“O Chico era de uma sabedoria, de uma generosidade, de uma inteligência... a convivência com ele e com todos era maravilhosa. Brandão Filho... Nossa, eu fiquei muito amiga e fui muito bem recebida por todos. A gente se divertia muito. Era uma fase muito especial da ‘Escolinha’, porque o Chico juntou todos os mestres do humor e da comédia do Brasil. Uma convivência de muito aprendizado”, enfatiza a atriz, que assegura se divertir com a nova versão do humorístico.
No formato atual, Capitu ganhou vida através de Ellen Roche. “Assisto e amo; eles arrasam. Acho que fazem muito parecido, na mesma energia, com a mesma leveza e a sutileza do original. A escalação foi perfeita. E a Ellen eu adoro. Ela faz exatamente o que eu fazia na época, que é juntar a coisa do mulherão com a graciosidade da Capitu. Eu tinha muito cuidado em não vulgarizar a personagem. Eu queria levar pra uma coisa mais inocente, quase infantil. A Ellen tem a simpatia, o sorriso, é luminosa e, ao mesmo tempo, é um mulherão. A Capitu era isso e continua sendo muito bem representada pela Ellen Roche”, opina.
“Chamou, chamou…”
Uma menina bonita que sempre errava as respostas, porém o professor dava aquele jeitinho e inventava alguma coisa para considerar a resolução como correta. Quem não se lembra da doce Marina da Glória, personagem de Tássia Camargo? Mesmo com papéis marcantes no currículo, principalmente na televisão, a atriz ressalta a importância da ‘Escolinha’ em sua trajetória.
“Marina da Glória foi muito importante para mim porque, além do grande mestre Chico Anysio, eu tive o privilégio de ter ao meu lado os grandes nomes da cultura brasileira e que fizeram história na televisão, como Grande Otelo, Rogério Cardoso e muitos outros. Para mim não foi uma ‘escolinha’, foi uma grande faculdade, uma responsabilidade muito grande porque eu fazia a ‘Escolinha’ e, ao mesmo tempo, gravava novela”, recorda Tássia, que hoje mora em Portugal e está com 59 anos.
Assim como os demais colegas, a artista tem gratas recordações daquele tempo, sobretudo fora dos holofotes. “Além de todo o aprendizado, os bastidores sempre tinham muito bom humor e toda a equipe era incrível, desde a produção e direção da Cininha de Paula até, claro, o grande Chico Anysio. Ouvir as histórias de cada um daqueles nomes consagrados não tem preço. Eles me ensinaram muito, tanto de televisão quanto lições que levei para a minha vida pessoal”, frisa.
Justamente por estar morando do outro lado do Atlântico, Tássia Camargo não assistiu a muitos episódios da nova “Escolinha do Professor Raimundo”, mas afirma que ficou impressionada com o talento dos novos intérpretes, principalmente de Fernanda Freitas, a “nova Marina da Glória”. “São queridos colegas que conseguiram colocar um ‘toque’ tão especial dos que já se foram e dos que estão vivos em cada personagem da nova versão. Obviamente, a ‘Escolinha’ do Chico Anysio para mim tem um significado especial. Apesar de admirar a nova versão, lamento muito porque ele (Chico) morreu com o desejo de voltar com a ‘Escolinha’ dele. Um tempo antes de falecer, ao telefone, ele se lamentou comigo: ‘Tássia, eles não querem deixar eu voltar com a Escolinha’. E isso me deixou muito triste porque ele não conseguiu realizar o sonho do retorno”, lastima a atriz.
Sobre Fernanda de Freitas, a Marina da Glória dos tempos atuais, Tássia acredita que a jovem atriz está incrível em sua atuação. “Ela conseguiu captar a essência da personagem, e me enxergo muito em cada cena que ela interpreta. É muito divertido você assistir a um personagem que interpretou e depois vê-lo sendo interpretado por uma nova geração”, elogia.
Nova versão
Em 2015, a “Escolinha do Professor Raimundo” ganhou uma espécie de remake, ou nova versão, na Globo, como uma forma de homenagear o passado. O humorístico fez tanto sucesso que já está em sua sexta temporada, que estreou em meados de outubro. Os episódios vão ao ar tanto na Globo como no Canal Viva. Bruno Mazzeo, filho de Chico Anysio, interpreta o Professor Raimundo. Entre os novos atores estão Lúcio Mauro Filho (Aldemar Vigário), Marcelo Adnet (Rolando Lero), Marcos Caruso (Seu Peru), Mateus Solano (Zé Bonitinho), Dani Calabresa (Catifunda) e Fabiana Karla (Dona Cacilda).
CURIOSIDADES
*A “Escolinha do Professor Raimundo” (“EPR”) foi criada em 1952, por Haroldo Barbosa, para ser interpretada por Chico Anysio na rádio Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro.
*O humorístico apareceu na televisão pela primeira vez no programa “Noites Cariocas” (1957-1965), da extinta TV Rio. Na época, Chico tinha apenas quatro alunos: Baltazar da Rocha (Walter D’Ávila), Aristides Barlavento (Vagareza), o caipira (Antônio Carlos) e Alvim Serafim (Castrinho).
*Durante muitos anos, a “EPR” foi um quadro cômico comandado por Chico Anysio e exibido em diversos programas humorísticos por mais de 38 anos, período em que reuniu muitos dos maiores nomes do gênero no Brasil.
*A “Escolinha” estreou como programa próprio na Globo em agosto de 1990, tendo sido transmitida até maio de 1995. Voltou ao ar em 1999 como parte do “Zorra Total”, permanecendo até outubro de 2000. Retornaria a seu formato original em março de 2001, quando foi exibida sua última temporada.
*O improviso era uma das características do programa. Os atores recebiam apenas seus próprios textos e, assim como os telespectadores, nunca sabiam as falas dos colegas. Surpreendiam-se com as piadas e brincadeiras e improvisavam as respostas e os argumentos.
* O programa lançou uma série de bordões como “É vapt-vupt!”, “E o salário, ó!”, “Captei vossa mensagem”, “Aqui. Que Queres?”, “Quando eu era criança pequena lá em Barbacena…”, “Beijinho, beijinho, pau pau!”, “Só pensa… naquilo!” e “Te dou o maior apoio”.
*Entre os atores que fizeram parte da atração estão Orlando Drummond (Seu Peru), Cláudia Jimenez (Dona Cacilda), Tássia Camargo (Marina da Glória), Antônio Pedro (Bicalho), Castrinho (Geraldo), Grande Otelo (Eustáquio), Stella Freitas (Cândida), Brandão Filho (Sandoval Quaresma), Zezé Macedo (Dona Bela), Rogério Cardoso (Rolando Lero), Walter D'ávilla (Baltazar da Rocha), Antônio Carlos Pires (Joselino Barbacena), Lug de Paula (Seu Boneco), Nizo Neto (Ptolomeu), Sérgio Mallandro (Mallandro), Mário Tupinambá (Bertoldo Brecha), Marcos Plonka (Samuel Blaustein), Jaime Filho (Suppapau Uaçu), Costinha (Mazarito) e Olney Cazarré (João Bacurinho), Manuela D'Além-Mar (Berta Loran) e Orival Pessini (Patropi).
Fontes: site Memória Globo e Guia dos Curiosos
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