Desde o rompimento da barragem em Mariana, em 2015, a artista mineira Júlia Pontés sentiu a necessidade de chamar atenção para as questões ambientais e, principalmente, sociais da mineração, atividade que marcou sua vida e a de sua família.

Após sobrevoar a cidade de Bento Rodrigues com sua câmera dias após o acidente, a fotógrafa iniciou uma série de imagens aéreas de barragens – e de lama. Seu trabalho lhe rendeu até um prêmio da Harvard, a universidade americana. Aliás, é nos Estados Unidos, em Nova York, que a fotógrafa abre, hoje, uma exposição individual.

A mostra “Our Land My Landscape: Paisagens Tran-sitórias” é composta por 12 imagens de barragens de rejeitos e cavas de grandes empreendimentos de exploração mineral em Minas Gerais. “São imagens feitas, principalmente, na região do Quadrilátero Ferrífero, uma cadeia linda de montanhas, que virou um tapete sem relevo”, lamenta a artista, que não restringe seu trabalho à documentação das barragens. “Não me preocupo em ser imparcial, pois, como artista, tenho essa liberdade. Então, não separo a arte do ativismo”, fala Júlia, que trabalha com políticos e instituições, além de colaborar com o Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM).

Essa exposição, que ocupa o saguão de um prédio em Nova York, traz imagens da lama de Brumadinho e também fotos da barragem de Barão dos Cocais, que está em risco de rompimento iminente. Todas as fotografias expostas são acompanhadas de legendas explicativas, além de um QR code que dá a localização de cada barragem, com informações das cidades, da população e dos minérios explorados. 

É bem didático porque, segundo a artista, os estrangeiros tendem a achar que as imagens foram feitas na Amazônia. Então, Júlia faz questão de explicar os diferentes biomas brasileiros para contextualizar sua arte e lançar seu trabalho para além da estética. 

“As barragens são muito bonitas esteticamente, em suas formas e cores, mas as pessoas precisam repensar o uso dos minérios”, fala Júlia, que conseguiu patrocínios de diferentes pessoas e entidades americanas para realizar a mostra, que ficará em cartaz até o dia 27 de setembro na 211, East 43rd Street, a poucos passos da Grand Central Station e das Nações Unidas.