Nesta segunda (18), o canal Viva completa uma década e praticamente focando em uma programação dedicada aos clássicos da nossa televisão. Sejam as novelas, seriados e programas de auditório do passado. Para celebrar a efeméride, a emissora anunciou, entre outras ações, as exibições no segundo semestre de “Sassaricando” (1987/88), de Silvio de Abreu, e “Mulheres Apaixonadas” (2003), de Manoel Carlos.

 
E pelo visto as atrações antigas caíram no gosto do público, pois o Viva é líder de audiência da TV por assinatura em 2020. Os dados se referem ao período de 1º de janeiro a 8 de abril e foram impulsionados, sobretudo, pelas reprises de “O Clone (2001) e “Brega & Chique (1987). Para a diretora do canal Daniela Mignani, o segredo do sucesso se deve, principalmente, ao bom conteúdo. “É um conteúdo de qualidade que perdura, que sobrevive ao tempo. Personagens e temas extraordinários. Muitos talentos reunidos. E tudo embalado de forma despretensiosa, leve e voltado para a família brasileira. O Viva oferece uma programação para todos, sem sustos para qualquer que seja a geração do público”, defende. 
 
 
 
Desde que a quarentena passou a imperar nas grandes cidades brasileiras em meados de março e várias atividades foram suspensas, inclusive, as gravações de atrações televisivas, o jeito encontrado pelas emissoras para repor a grade foi exibir programas antigos. E não só na dramaturgia. Até jogos históricos como finais de Copa do Mundo, provas de F-1 e disputas olímpicas invadiram os canais abertos e a cabo. Sem contar os seriados japoneses como “Jaspion” e “Changeman” - que conquistaram o público infantojuvenil nos anos 80/90 - e que voltaram com tudo nas manhãs da Band. Muita gente tem brincado que a TV brasileira virou “um grande Viva” como ressalta o jornalista Rafael Barbosa Fialho Martins, doutorando em comunicação social e membro do podcast TV ao Cubo.
 
Está realmente parecendo que todos os canais se transformaram em  Viva (risos). Mas até pela viabilidade essa seria a solução encontrada. É muito complicado deslocar todos esses profissionais para gravar. São produções que exigem muita gente. Claro, que tem uma questão de comodismo também, de ser mais fácil, pelo menos no caso de algumas atrações. Dramaturgia é mais complicado”, comenta. 
 
Rafael cita como exemplos o “Saia Justa” e “Papo de Segunda”, no GNT e o “Encontro”, na Globo, que tem conseguido emplacar programas inéditos. Em ambos os casos, os apresentadores - Astrid Fontenelle, Fábio Porchat e Fátima Bernardes, respectivamente, estão  no estúdio enquanto que convidados e mediadores ficam em casa.
 
“Até o próprio ‘Domingão do Faustão’ tem contado com a participação do Faustão direto da sua casa, mesmo sendo exibido um conteúdo mais velho. Ele contextualiza os quadros, dá um certo frescor. E é o que tem acontecido com as transmissões de jogos também, sobretudo na Globo e SporTV. São jogos antigos, mas com a narração de hoje. É um produto velho que ganha uma nova camada. É uma maneira muito criativa de se utilizar a reprise”, ressalta.
 
 

Essa viagem no tempo parece que tem agradado aos telespectadores já que as emissoras estão celebrando os bons números do Ibope. A reexibição da final da Copa do Mundo de 2002, em 12 de abril, por exemplo, superou as expectativas da Globo, marcando 21 pontos no Ibope em São Paulo, dois a mais do que a média do horário aos domingos. Já "Fina Estampa", novela de 2011 atualmente transmitida em edição especial na faixa das nove da emissora, também tem apresentado bons números. Sua média de audiência até agora, também em São Paulo, é de 34 pontos. "Amor de Mãe", que a trama de Aguinaldo Silva está substituindo, penou até começar a registrar audiência superior aos 30 pontos.
 
 
Para Rafael Fialho, esse êxito não se explica apenas pelo fato de as pessoas estarem mais em casa. O doutorando em comunicação diz que acha natural que a trama de Griselda (Lília Cabral) e Tereza Cristina (Cristiane Torloni) -  apesar de ele considerar uma novela de pouca qualidade - estar fazendo sucesso, pois assim como os demais produtos escolhidos pela Globo para essa quarentena, são atrações consagradas pela audiência.
 
“Em qualquer época que eles fossem exibidos, acho que fariam sucesso. Com exceção de “Novo Mundo”, que ainda não emplacou, “Fina Estampa”, com sua trama leve, de fácil compreensão, e “Totalmente Demais”, que também fala de coisas positivas, são um sucesso”, defende. No entanto, Rafael alerta que a reprise não pode se tornar uma muleta, como acontece frequentemente com emissoras como o SBT e a Record. “Esses canais costumam ter um uso indiscriminado desse recurso para tapar buraco justamente porque não demanda muito investimento. Aí eu já não acho um uso inteligente e coerente. O público sempre merece o melhor. A reprise tem uma função específica; preservar a memória da televisão, matar a saudade de uma época e também para formar novos telespectadores e dar oportunidade para que as pessoas conheçam um produto que nunca tiveram contato”, frisa.
 
NOSTALGIA
Já a diretora do Viva, Daniela Mignani, acredita que um dos motivos do sucesso dessa programação antiga nos dias de hoje pode ser justificada por esse sentimento de nostalgia, que, segundo ela, é inerente à praticamente todo ser humano. “A vida é uma construção diária e olhar para trás reforça o que faremos para o futuro. É muito bom reviver bons momentos do passado. É divertido ver modismos, comportamentos, contextos que já evoluímos. E existe um fator de descolamento do tempo que torna tudo mais positivo. Exibimos novelas que também tocam em assuntos desgastantes, custosos, mas esses ficaram para trás, e com isso, o impacto emocional sobre nós não é angustiante. Além disso, relembramos um humor mais ingênuo, uma sociedade menos neurótica que nos traz conforto. E reprises, geram conversas entre a família. Pais e filhos, pessoas de diferentes gerações dialogando sobre o conteúdo. É uma delícia”, reflete Daniela que salienta que esse culto ao passado está mais aflorado atualmente. “O passado nesse momento tende a ser muito melhor para a grande maioria. Estamos vivendo muitas restrições, mortes ao redor, uma ausência de perspectiva a curto e médio prazo. Essa imprevisibilidade é algo difícil de conviver. Por outro lado, uma frase que sempre escuto, e também falo, é que vivemos para passar por tudo isso. E não poderá ser em vão. Há uma esperança de melhoria da nossa estrutura humana”, resume. 
 
 
Três perguntas para Daniela  Mignani, diretora do VIVA
 
1 - Muita gente tem brincado que praticamente todos os canais se transformaram num Viva
por causa das reprises. E as audiências também estão lá em cima assim como o Viva. Como vocês recebem isso?
 
Com felicidade e otimismo, pois reforça o posicionamento e relevância de um canal como o
Viva. O Canal tem performance expressiva de audiência com e sem essa crise em que nos encontramos. Portanto, acreditamos que sairemos dessa ainda mais fortes. Mas espero mesmo é que vidas sejam salvas e que nos tornemos mais solidários e unidos em boas intenções.
 
2 - Um detalhe que me chamou a atenção foi a fidelidade do público, principalmente entre os mais jovens durante o horário nobre. Queria que você comentasse sobre esse aspecto. 
 
Adoraria ficar horas aqui falando sobre esse tema. É uma pergunta muito instigante. Essa resposta teria várias dimensões. Somos uma país que oferece poucas oportunidades aos jovens, um contexto angustiante de ostentação e ódio nas redes sociais, uma pressão emocional e econômica sobre esse grupo gigantesca etc. etc. Entender como era o passado e se divertir nele é uma das missões do Viva. E claro, a leveza que já citei bem como o humor do canal, a forma como ele pode ampliar o diálogo nas casas brasileiras trazem também essa parcela do público.
 
3 - Quais as novidades para celebrar esses 10 anos? O que já pode adiantar?
 
Em tempos de quarentena, pensamos o mote da nossa campanha de aniversário para ‘Festa boa é festa em casa’, um convite ao público para  comemorar a data com a gente sem sair de  casa. A hashtag que vínhamos usando na TV e no digital desde o início de 2020 para comemorar o ano dos 10 anos do VIVA, #EntreNessaFesta, foi adaptada para #EntreNessaFestaEmCasa, também levando em consideração o momento que estamos vivendo. Teríamos a "Escolinha ao Vivo" no próprio dia 18 de maio, mas adiamos com os Estúdios fechados. Estamos planejando, possivelmente, para julho. A ver. No digital, o VIVA traz watch parties, relembrando os melhores momentos e memes das novelas, além de seleções das aberturas para o público escolher qual quer rever na TV e nas redes, publicamos as chamadas que passaram pelo canal ao longo dos 10 anos, threads e playlists comemorativas, e outras ações que nos permitem interagir e estar cada vez mais próximos do Público. E estamos compartilhando com alegria para o púbico, novidades na sexta temporada da Escolinha com personagens icônicos da TV Brasileira que tentarão se matricular e não conseguirão, Manoel Carlos, com ‘Mulheres Apaixonadas’, ‘Chocolate com Pimenta’ que acabou de estrear,  e muito humor com ‘Brega & Chique’ e ‘Sassaricando’ na sequência, com a extraordinária Claudia Raia e sua ‘Tancinha’. Alto astral nos intervalos e positividade para o mundo que viveremos pós pandemia.