Neste sábado

Ópera 'Tolomeo e Alessandro' será encenada pela 1ª vez na América

A peça foi composta por Domenico Scarlatti em 1711 e enfoca, por meio de música e poesia, questões humanas universais, como o amor, o ciúme, a inveja, a ambição e a fraternidade

Por O TEMPO
Publicado em 22 de outubro de 2021 | 17:56
 
 
 
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Neste sábado, 23, às 20h30, a Fundação Clóvis Salgado (FCS) apresenta a primeira encenação na América da ópera "Tolomeo e Alessandro", com música de Domenico Scarlatti e libreto de Giuseppe Capece. A peça foi composta em 1711 e aborda, por meio de música e poesia, questões humanas universais, como o amor, o ciúme, a inveja, a ambição e a fraternidade.  A montagem tem direção musical, artística e regência de Robson Bessa, direção vocal de Sérgio Anders e direção cênica de Francisco Mayrink.

Protagonizam a história os solistas Sàvio Faschét (contratenor), no papel de Tolomeo; e Daiana Melo (soprano), interpretando Alessandro. Completam o elenco Camila Corrêa (Elisa), Carol Rennó (Dorisbe), Luane Voigan (Seleuce) e Sérgio Anders (Araspe). A encenação contará com a execução musical da Orquestra Barroca Musica Figurata, a mais antiga e mais importante orquestra especializada em música barroca de Minas Gerais. 

A proposta da montagem é mergulhar no universo da ópera barroca italiana através da obra de Domenico Scarlatti, filho de Alessandro Scarlatti, grandes compositores operísticos dos séculos XVII e XVIII. Nascidos na Itália, os Scarlatti foram fundamentais no desenvolvimento do gênero artístico que ganhou o mundo ocidental.

Robson Bessa, estudioso da música barroca italiana no Brasil e um dos principais especialistas na interpretação da música vocal da família Scarlatti, revela que entre os anos 1779 e 1781, foram representados mais de 70 títulos de óperas italianas, na Casa da Ópera, em Ouro Preto. "Antigamente, cidades como Sabará, Santa Luzia, Juiz de Fora, Nova Lima e São João del-Rei também abrigavam suas Casas da Ópera. A partir daí eu percebi a necessidade de recriar essa tradição da música barroca italiana em Minas Gerais. Por isso será encenada 'Tolomeo e Alessandro' , com uma Orquestra Barroca, no Palácio das Artes, a principal instituição operística de Minas Gerais", pontua.

A presidente da Fundação Clóvis Salgado, Eliane Parreiras, ressalta a parceria da Cia de Opera Barroca, Consulado da Itália em Belo Horizonte e do Instituto Unimed-BH. Para o Consul da Itália em Belo Horizonte, Dario Savarese, a ópera chega ao Palácio das Artes para fechar a XXI Semana da Língua Italiana no Mundo, conduzindo o público belo-horizontino em uma imersão na música barroca de Domenico Scarlatti. “Desde sua criação, o Consulado da Itália em Belo Horizonte promove a construção de uma ponte cultural entre a Itália e Minas Gerais e escolheu patrocinar essa iniciativa que, por meio da linguagem universal da música, renova o vínculo entre mineiros e italianos criado durante a emigração italiana no estado”, pontua Dario Savarese, que acrescentou: “Assim como os arquitetos emigrados da Itália marcaram a paisagem urbana da capital, iniciativas relevantes como a estreia desta ópera sempre vão ser relembradas”.

Desde o início da pandemia, essa é a primeira ópera realizada no Palácio das Artes e com a presença do público. Apresentação bastante diferenciada do Recital da soprano Eliane Coelho e do pianista Gustavo Carvalho, em novembro de 2020, e do Concerto Stabat Mater - O Drama do Barroco Italiano, com a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e solistas convidados, em agosto de 2021. As duas apresentações líricas anteriores não contavam com a encenação teatral, característica singular de um espetáculo operístico.

Versão adaptada

A partitura original de  'Tolomeo e Alessandro' , redescoberta na Inglaterra em 1984, compreende uma ópera de três horas e meia. No entanto, a montagem no Palácio das Artes foi concebida para ser também o primeiro registro audiovisual do título. Assim, a obra original, que contém três atos, sofreu alguns cortes para ser adaptada ao formato virtual e chegar ao tempo de aproximadamente 1h15. “Nesta adaptação foram escolhidos os momentos chaves da história, que mostram os afetos variados, a riqueza da música barroca, além do poder e da genialidade da obra de Domenico Scarlatti. Desta forma, foram escolhidas árias contrastantes que ilustram as emoções humanas da maneira mais efetiva possível. No primeiro ato serão apresentados os personagens. No segundo ato o público vai assistir duetos e árias que explicam a história. E, por fim, no terceiro ato, acontecerá a conclusão, com os momentos mais dramáticos e alegres do enredo”, revela Robson Bessa.

Apesar de ter sido criada no ambiente árcade do barroco italiano, a obra é atemporal, sobretudo com a música de Domenico Scarlatti. Filho de Alessandro Scarlatti, o maior compositor de ópera do final do século XVII e início do XVIII, Domenico recebeu uma formação musical esmerada, que pode ser percebida por meio da força de sua criatividade nas árias que ilustram o complexo rol dos afetos humanos. Conhecido pelo grande público pelas mais de 555 sonatas para cravo, Domenico Scarlatti demonstra com  'Tolomeo e Alessandro'  ser um grande representante da tradição operística.

Sinopse

No cerne da história, que se passa no Chipre, há uma série de conflitos, desencontros e momentos de afetividade entre os dois irmãos Tolomeo e Alessandro, filhos da rainha Cleópatra, que disputam o reino do Egito. A mãe – que não aparece em cena -, quer que Alessandro, seu filho mais novo, torne-se o Rei do Egito, mas, para que isso ocorra, é necessário que Tolomeo seja assassinado. A força do amor se faz presente através da relação entre Tolomeo e Seleuce, personagem que também é desejada por Araspe, Rei do Chipre e um dos vilões da trama.

Outra vilã da história é a ambiciosa Elisa, mulher de Alessandro, que pretende ascender socialmente, deixando de ser princesa para se tornar rainha do Egito. Para alcançar o seu objetivo, Elisa incentiva Alessandro a matar o próprio irmão.

Orquestra Barroca

Durante apresentações operísticas, as Orquestras geralmente ficam posicionadas no fosso do palco, longe dos olhares da plateia. Entretanto, em  'Tolomeo e Alessandro'  o público vai observar a expertise dos músicos, uma vez que a Orquestra Barroca Musica Figurata estará posicionada no palco. Em cena, instrumentos históricos ou cópias de instrumentos históricos, como cravo, violinos barrocos, viola, flautas barrocas, oboé barroco, teorba e guitarra barroca. De acordo com Robson Bessa, esses instrumentos possuem sonoridade extremamente rica. “Os instrumentos barrocos são tocados com técnicas específicas para exacerbar as emoções de uma maneira eloquente e retórica”, explica.

Sérgio Anders ressalta que a estética sonora da ópera será baseada em tratados de época e cursos de especialização sobre o tema, uma vez que, obviamente, não há gravações do período barroco para se comparar com as interpretações de hoje. “Desta forma, vamos fazer uma interpretação de música historicamente informada, aproximando-se bastante de como era a articulação, o som e a voz da época barroca. O que é diferente, por exemplo, de óperas como “Aida” e “Turandot”. Em  'Tolomeo e Alessandro' , a forma de cantar não será como de uma ópera romântica”, revela.

O diretor vocal destaca que a montagem apresenta uma música operística elegante, com muita influência das danças da corte. “Há, por exemplo, trechos cantados em ritmo de minueto. O público, que aprecia óperas mais contemporâneas e não conhece óperas barrocas, vai perceber a diferença e provavelmente vai gostar muito”, comenta.

Outro ponto para o qual Sérgio chama a atenção é o fato de o personagem Alessandro ser interpretado por uma mulher, o soprano Daiana Melo. Além disso, no enredo existem personagens escritos para vozes ‘castrati’, interpretados por homens com a mesma extensão vocal das vozes femininas atuais. No universo da ópera, esta prática de castração atingiu o seu auge nos séculos XVII e XVIII, na Itália. “Na época barroca acreditava-se que, para o menino obter essa peculiaridade vocal, ele precisava ser submetido à castração antes da puberdade”, explica Sérgio.

Temporada de Ópera 2021 | Ópera Tolomeo e Alessandro

Data: 23 de outubro (sábado)

Horário: 20h30

Local: Grande Teatro Cemig Palácio das Artes

Endereço: Av. Afonso Pena, 1.537 – Centro – Belo Horizonte

Ingressos: R$30 (inteira) e R$15 (meia-entrada)

Podem ser adquiridos na bilheteria do Palácio das Artes ou pelo site eventim.com.br

Informações para o público: (31) 3236-7400

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