Nos anos 40, o então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitscheck (1902-1976), idealizou a criação de um teatro municipal e pediu a Oscar Niemeyer (1907- 2012) que propusesse um desenho. Tal projeto, recorda Eliane Parreiras, atual presidente da Fundação Clóvis Salgado, já expressava uma perspectiva visionária, ao conceber um espaço cuja função iria além de apresentar espetáculos.
“Kubitscheck solicitou o planejamento de um centro cultural, que, se tivesse ficado pronto naquele momento, seria algo pioneiro no mundo, porque era muito inovador. Ele já previa, além do teatro, espaços para os corpos artísticos, salas de exposições e até um café”, detalha Eliane.
Durante a coletiva de imprensa realizada no Palácio das Artes, na manhã de ontem, a gestora pontuou que revisitar a história desse equipamento e da Fundação Clóvis Salgado, que vão completar 50 anos em 2020, está entre as iniciativas de comemoração previstas para o próximo ano. Dessa forma, o público, de acordo com Eliane, vai poder saber um pouco mais sobre um patrimônio da cidade que segue em constante atualização.
“A ideia é trazermos à tona essas memórias e mostrarmos como a instituição segue se desenvolvendo no presente”, comenta. Ainda sobre a construção do Palácio das Artes, ela pontua que as obras começaram durante o governo JK, mas, quando ele saiu da prefeitura, elas ficaram paradas.
“E só foram retomadas cerca de 15 anos depois, por intermédio de Clóvis Salgado (1906- 1978), que foi secretário de Saúde durante o governo de Israel Pinheiro (1896-1973). Assim, o governo do Estado terminou as obras e passou a fazer a gestão do equipamento. Em 1970, foi entregue a primeira parte do Palácio das Artes, e em junho do mesmo ano foi criada a Fundação do Palácio das Artes para finalizar e ficar responsável pela gestão da casa”, completa ela.
A partir de 1978, a instituição foi renomeada Fundação Clóvis Salgado, em homenagem ao médico, professor e político do setor cultural de Minas Gerais. Para 2020, portanto, a intenção é celebrar essa trajetória e dar continuidade aos princípios que constituem a base desse projeto desde o início, buscando, assim, outras possibilidades de crescimento em termos de alcance e de maior engajamento com a sociedade. Um dos meios para conquistar isso será a ênfase nas propostas de mediação, pois, na visão de Eliane, o público não se satisfaz apenas com o consumo de atrações culturais.
“As pessoas não querem só chegar, ver uma exposição e ir embora. Elas querem continuar conectadas com o que elas apreciaram, querem relembrar o que curtiram, participar da política pública, intervir na programação, opinar, dialogar, ter uma experiência viva com esse espaço. Então, nós estamos num momento de virada de chave também no entendimento do que é um centro cultural. E a partir de agora a ideia é organizar uma programação que seja também interativa, participativa”, explica ela.
Segundo Eliane, 2019, contudo, trouxe vários desafios para a implantação desses objetivos, grande parte deles de caráter orçamentário. O investimento de cerca de R$ 1, 3 milhão pelo governo de Minas Gerais tornou viável o conserto do ar-condicionado do Grande Teatro e a reforma da central elétrica, do sistema de dimmers e da estrutura cenotécnica. Mas há ainda a necessidade de outros reparos, principalmente nos banheiros, o que a gestora afirma estar entre as iniciativas de revitalização. “Há também a intenção de recuperar o funcionamento de dois banheiros do térreo porque o fluxo de pessoas ali é grande”, completa.
Outra prioridade é o lançamento de novos editais, como #PalácioParaTodos, que pretende contemplar 28 propostas de artistas mineiros, dentre os quais parte deverá ser do interior do Estado. “Serão contemplados trabalhos nas áreas de teatro, música e artes integradas, tanto para ocupação de espaço quanto para fomento”, diz Eliane.