Morador da Pedreira Prado Lopes

Pedreiro que faz obra de arte com desempenadeira vira destaque no Cura

Pinturas e grafites que agora colorem as ruas do bairro mostram histórias da região

Por Rafael Rocha
Publicado em 15 de setembro de 2019 | 03:00
 
 
 
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Se colocar o grafite em diálogo aproximado com a comunidade do bairro Lagoinha é um dos desafios do Cura, o resultado conseguido pela organização, em parceria com projetos como o Viva Lagoinha e Casas da Lagoinha, tem sido fruto de uma verdadeira escavação de histórias e personagens da região.

Chamar isso de resgate seria desconsiderar anos de atuação e existência dessas pessoas, mas é fato que uma ação como o Cura, fruto de patrocínio da iniciativa privada, em colaboração com a prefeitura, inevitavelmente liga os holofotes para a cultura local.

A ação não atinge somente a arte urbana. Uma dessas manifestações culturais é a culinária, que terá centralidade com o lançamento de um selo chamado “Estômago”, acompanhado de uma feira de gastronomia com dez cozinheiros dos arredores, que acontece hoje. Uma das 11 pinturas do Cura foi instalada na fachada do restaurante Armazém nº Oito, estreia da pintora Nila, residente na cidade de Florestal, em mural externo.

Alcançar a juventude era outro objetivo caro ao Cura. Por isso, os grafiteiros entraram em contato com a Escola Estadual Silviano Brandão e convidaram os alunos para arregaçar as manguinhas. “A própria escola sugeriu que o tema fosse diversidade”, diz Saulo Pico, o artista que coordenou a pintura de um muro com frases escritas pelos 33 alunos do 1º ano do ensino médio. “São mensagens positivas e contra estereótipos”, informa. “Escutar os moradores é importante, pois eles já estavam aqui”, completa Pico, ex-morador da Lagoinha.

Nesse processo de escuta, os ouvidos dos organizadores ficaram bem abertos quando souberam da história de Zé Dnilson, que ficou em internato durante toda sua infância e adolescência. O nome do pedreiro de 53 anos, morador da Pedreira Prado Lopes, tem circulado pela vizinhança depois que ele percebeu que a desempenadeira dentada que ele usava no assentamento de porcelanato poderia dar vida a obras de arte.

“Quando o pessoal da organização me chamou, pensaram que eu era um jovem universitário”, brinca. Mesmo ao lado de sua impactante intervenção, ele fica incomodado ao ser chamado de artista. “Nunca entrei numa universidade. O pessoal fala que sou artista, mas sou mesmo é atrevido”, diverte-se.

Estado lança edital, mas prefeitura não

O fomento e incentivo ao grafite ainda é um dos grandes desafios enfrentados pelo segmento. Mesmo com o impacto positivo causado em 2018 pelo edital Gentileza, lançado pela prefeitura para incentivar a pintura de murais de arte urbana, o executivo municipal informou ao Magazine que não há previsão para nova edição do mecanismo para 2019.

No âmbito estadual, a notícia é de alento. Consultada, a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo confirmou para este semestre nova edição do edital destinado a cultura urbana. Serão R$ 350 mil distribuídos nas categorias MC, DJ, dança e grafite.

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