Envolvida com trabalhos que dialogam com diversas áreas das artes, a artista plástica e dançarina belo-horizontina Scheilla Sol notou que ela e muitas companheiras de ofício não encontravam um núcleo que fosse suficiente para escoar essas produções. “BH é uma cidade muito pulsante artisticamente, mas não necessariamente tem um mercado que consiga nos sustentar, e fui questionando sobre isso, tentando entender”, ela comenta.

Quando foi convidada para participar de duas residências artísticas online em 2020, já durante a pandemia, Scheilla observou que poderia utilizar o mesmo formato para conceber algo que desse conta de não só estimular as criações locais e divulgar essa efervescência a qual ela se refere, mas também para reverenciar uma mulher artista. Nascia o Saravar. “Eu queria um projeto que desse luz para os saberes ancestrais africanos, por isso dei o nome de Saravar, uma forma de saudar e uma referência ao Umbundo, uma das línguas falados pelos povos originários da Angola”, explica Scheilla.

A cantora Clementina de Jesus (1901-1987), grande nome do samba brasileiro, foi a escolhida como a primeira homenageada. “Ela é um grande portal ancestral de sabedorias. Enquanto dançarina, eu entendo que o tambor ativa códigos do nosso corpo, e a Clementina faz isso com a voz. A linguagem permeou muito nossos encontros”, afirma a artista. O Saravar ganhou vida em outubro por meio de encontros semanais virtuais entre a idealizadora e a atriz Bruna Chiaradia, as artistas plásticas Isabel Miranda e Michelle Oliveira, a arte educadora Lulo Naranjo, a artista visual e performer Sol Kuaray, a dançarina Maria Laura e a ceramista Sarah Coeli.

Agora é hora de encerrar o ciclo de debates, pesquisas, criações, exibições de documentários e toda essa pesquisa sobre a obra de Clementina. De segunda a quarta-feira (3), com todos os cuidados necessários em tempos de pandemia, o grupo se reúne na casa de Lulo em Altamira, povoado pertencente à Nova União, na região metropolitana de BH. Cada artista vai apresentar o resultado de suas criações, que serão compartilhadas nas redes sociais do Saravar.  A imersão criativa de três dias será registrada pela artista plástica e videomaker Zi Reis.

“A ideia é vivenciar a finalização da residência fazendo propostas coletivas, mas também com cada uma em sua manifestação artística, com sua linguagem. Vamos entregar uma carta aos ancestrais”, diz a idealizadora do projeto.

Outras edições

Scheilla Sol destaca que a ideia de celebrar a força do feminino e homenagear mulheres sul-americanas ou africanas importantes em suas áreas artísticas, mas que não são necessariamente reconhecidas como merecem, é o norte do projeto. A realização de uma segunda edição - pensada, num primeiro momento, para julho - depende da viabilização de recursos.