Luiz Rocha tinha 11 anos quando ouviu “Circuladô Vivo”, registro ao vivo do álbum “Circuladô”. Mil novecentos e noventa e um corria ligeiro no calendário, e aquele disco de Caetano Veloso o impactou enormemente. Em seguida, ele fez o que pessoas arrebatadas por uma obra musical geralmente fazem: com fome de Caetano, buscou discos, livros e referências sobre o baiano de Santo Amaro. Na mesma época, Rocha começou a tocar violão e recorreu várias vezes àquelas revistinhas de cifras vendidas em bancas de jornal. A primeira canção que ele aprendeu a tocar foi “O Ciúme”, mais uma pista de que Caetano nunca mais sairia de sua vida.

Influenciado pelo olhar atento e universal do ídolo, Rocha enveredou para o caminho das artes. Ator, cantor e compositor, o mineiro fundou, em 2009, a banda Todos os Caetanos do Mundo, em que mesclava produções autorais e de artistas que beberam na “fonte caetanística” inesgotável e o repertório do próprio músico. Caetano, que completa hoje 78 anos e celebra a data numa das mais esperadas lives desde o início da pandemia – ele se apresenta a partir de 21h30, com transmissão no Globoplay –, pavimentou uma carreira que transita naturalmente por diversos lugares artísticos, e isso é uma das tantas belezas da trajetória do aniversariante do dia. 

Esse senhor do sorriso largo e facilmente caricatural pescou Bob Dylan, o rock inglês dos anos 60, a música folclórica brasileira e latino-americana, a bossa, o samba e o axé para dar vida à sua própria criação, sempre cuidadosa com a palavra, como Rocha ressalta: “Ele consegue colocar uma ideia muito complexa em uma frase, em uma palavra, e fazer literatura, poesia e alçar canções a esses lugares sem nunca deixar de ser popular. Isso me impressiona”.

Além disso, ele diz que o próprio fato de Caetano topar fazer uma live mostra uma característica marcante do baiano. “O entendimento muito cedo de como estar no presente”, afirma.

Por falar em live, Luiz Rocha é uma das atrações da “Somos Um Especial Caetano Veloso”, que acontece no dia 15 deste mês. Misturando dança, música, artes cênicas e visuais, o show propõe um encontro entre artistas que estão em diferentes países – Brasil, Estados Unidos e Portugal –, mas com um traço em comum: celebrar uma das figuras mais importantes da cultura nacional.

Músico e idealizador do projeto, Cliver Honorato destaca a multiplicidade artística de Caetano e sua influência sobre diversas gerações. “Ele se posiciona sem limites para a criação. Me identifico muito com ele, é minha maior influência na música”, comenta. 

Bailarina, coreógrafa, diretora e atriz do Grupo Galpão, Lydia del Picchia, que também integrará a live “Somos Um Especial Caetano Veloso”, diz que ver o baiano em plena atividade é um privilégio e o show online que ele realiza hoje é uma oportunidade de ver um artista inquieto, que atravessa o tempo, está sempre se transformando, produzindo e atento ao que acontece ao seu redor não só musicalmente, mas também social e politicamente.

“Ele tem isso de não envelhecer com o tempo. Olhar para Caetano é ver que a vida pulsa, que ela ainda tem para onde se expandir, não é determinada por uma idade e continuará nos encantando e nos espantando”, ela pondera. 

De Portugal, para onde se mudou em 2019 após morar na Alemanha e na Inglaterra nos últimos quatro anos, a cantora paulista Lidia Brandão reforça a universalidade da música do compositor, que consegue a proeza de ser reconhecido tanto pelas letras quanto pelas melodias e a forma bem particular de cantar uma canção.

“O que mais me atrai é a voz dele. Ele canta e, por mais que sejam músicas intensas e fortes, sempre traz leveza e sensibilidade. Às vezes, é até irritante: como ele pega uma coisa tão difícil de cantar e faz soar tão macio, tão gostoso?”, comenta Lidia. Na “terrinha”, Caetano é comumente chamado de “brutal”. “Dizem isso quando alguém é muito bom”, ela explica.

Enfim, a tão aguardada live de Caetano

Demorou um pouco, os fãs quase suplicaram e, no fim das contas, rolou: Caetano Veloso vai fazer a tão esperada live. A data escolhida não poderia ser mais apropriada. Hoje, quando completa 78 anos, no dia 7/8, como numa brincadeira cabalística, o celebrado aniversariante convida os filhos Moreno, Zeca e Tom para se juntarem a ele no show, com transmissão exclusiva no Globoplay e aberta para o público no Brasil e nos Estados Unidos a partir de 21h30. Tamanha expectativa rondou a apresentação que ela foi ganhou o título de “live, a lenda”.

De sua casa no Rio de Janeiro, Caetano reagiu a tudo isso com curiosidade. “No começo, eu nem via possibilidade de fazer live. Não achava que o que me era proposto fosse do meu feitio. Mas eu queria fazer. Acho graça de o assunto ter ficado tão falado”, disse, em entrevista ao Globoplay.

O repertório, que passeia por mais de cinco décadas de carreira, terá, claro, muitos clássicos, e duas inéditas – “Talvez”, gravada por Caetano e Tom, e “Pardo”, interpretada pelo baiano, que falou também sobre a escolha do setlist: “Foi complexo. E ainda está sendo. Acho que até a véspera, mesmo minutos antes (ou durante a própria apresentação), o repertório vai passar por mudanças”.

Programe-se

- A live de Caetano e seus filhos será realizada hoje, às 21h30, com transmissão exclusiva no Globoplay e aberta para o público no Brasil e nos Estados Unidos a partir das 21h30. 

- Já o show “Somos um Especial Caetano Veloso” acontece no dia 15 (sábado), às 17h (Brasil) e 21h (Portugal). O show será exibido pelo YouTube do músico e organizador Cliver Honorato.