A pandemia mudou os hábitos de consumo da população no mundo inteiro. Em alguns casos, esse movimento acabou popularizando negócios conscientes e de baixo impacto ambiental, quase forçados pelas restrições impostas pelo coronavírus. Por outro lado, estimulou outra seara que ainda era desconhecida para quem consome moda: a roupa digital. Por meios de programas de manipulação e efeitos visuais, marcas, principalmente as de luxo, criam peças que são vendidas somente com um intuito: postar e ganhar likes. São vestidos, jaquetas, tênis e outros tantos artigos que não podem ser guardados em armários ou closets, muito menos usados fora do mundo virtual.
Essas realidades estão cada vez mais presentes e miram uma popularização em um futuro bem próximo. No âmbito da beleza, os filtros já dão conta – e muito bem – do recado na hora de usar uma maquiagem, por exemplo. O rímel já deve ter ficado de lado quando um filtro simples no Instagram foi usado com sucesso, concorda? Aos poucos, marcas estão implementando as roupas virtuais em seu catálogo e oferecem peças de vestuário que são inseridas digitalmente em fotografias. Mas a novidade não é tão exclusiva assim. Grifes de luxo, como Valentino e Marc Jacobs, já haviam criado looks virtuais para jogos como o “Animal Crossing: Novos Horizontes”, da Nintendo. Outro famoso game, o “League of Legends”, criou, em 2019, uma coleção com a Louis Vuitton que contava com peças virtuais para seus jogadores. Mas, atualmente, o objetivo dessa forma de venda é outro: é o investimento em peças somente para o intuito de postá-las em redes sociais.
Embora não tenha aderido – ainda – a um look do dia 100% digital, a influenciadora Juliana Cunha, com mais de 100 mil seguidores no Instagram, acredita que peças vendidas especialmente para a tela “são recursos permitidos pela inserção da moda na realidade virtual, sendo algo cada vez mais comum para profissionais desse segmento”, diz. Aqui, no Brasil, o pioneiro em aderir a esse formato foi o estilista carioca Lucas Leão. Entre as opções de vestimentas virtuais estão vestidos e jaquetas que podem ser aplicados na foto do cliente por meio de uma realidade aumentada. As peças exclusivamente digitais são vendidas pelo site Shop2Gether, com preços entre R$ 130 e R$ 150. A peça comprada não é enviada fisicamente, é claro.
FUTURO. De acordo com Carla Mendonça, jornalista, mestre e doutora em comunicação e moda, esse formato de consumo promove não só sustentabilidade, como também maior acessibilidade a itens de luxo, alta-costura e roupas exclusivas. “Dentro dessa lógica, é uma forma mais barata de as pessoas experimentarem esses artigos, uma espécie de entrada para esse mundo que a gente sonha”, explica. Um exemplo é a Gucci. Em março deste ano, a grife italiana colocou à venda um par de tênis virtual por US$ 12 (cerca de R$ 69) adotando uma tecnologia de realidade aumentada. O produto físico, feito para ser usado na vida real, custa, em média, R$ 4.000. A diferença é chocante.
Entretanto, as marcas que aderem a essa tendência até que “sustentam um discurso muito interessante, mercadologicamente falando, mas não dá para sustentar economicamente com uma lógica de coleção virtual”, disse Carla. “Não acredito que, no futuro, as pessoas deixem de comprar roupas reais, mas, neste momento, é uma forte tendência impulsionada pela pandemia, na medida em que temos uma existência virtual muito grande”, explica.
Diante das novidades, a influenciadora digital Juliana Cunha acredita que esta “é uma ótima maneira para a indústria da moda se reinventar e aumentar seus lucros, já que dispensa parte da sua tradicional mão de obra, materiais e viagens”, completa.