Samantha Schmütz já havia soltado a voz em espetáculos teatrais e em programas de televisão, mostrando sua potência vocal. Mas seguir a carreira musical e lançar um álbum era, até então, algo inédito na vida dela. “Essa vontade já tenho há muitos anos”, admite a artista, em entrevista ao Magazine, ao falar sobre o projeto que ela tirou do papel recentemente. Samantha entrou em estúdio e gravou um EP, previsto para ser lançado em 2022.

E para inaugurar essa nova fase da carreira, a artista já deu um aperitivo para o público com a divulgação de “Edíficio Brasil”, primeiro single do EP e que, com letra forte e afrontosa, mostra a que ela veio.

“Eu canto na noite desde os anos 2000, mas a vida acabou me levando para outros rumos e eu não tive tempo para me dedicar a isso”, comenta Samantha, que tem mais de 20 anos de carreira e ficou nacionalmente conhecida com o personagem Juninho Play, que fazia parte do extinto “Zorra Total” (Globo). O isolamento nesse período de pandemia a levou a desengavetar o projeto da carreira musical e as canções que ela havia escrito. “A pandemia me trouxe um tempo vago que eu não tinha antes, então tudo fluiu naturalmente. Acho que está acontecendo no momento certo, com as pessoas certas!”, afirma.

Segundo ela, o EP tem quatro canções, produzidas em parceria com o Tropkillaz. “Tirei um mês que tinha de folga e fiquei indo direto para o estúdio dos meninos do Tropkillaz em São Paulo”, revela a artista. E foi lá que nasceu “Edifício Brasil” e os versos interpretados por Samantha, que trazem uma forte crítica social e também ao atual momento do país: “A carne mais barata tinha que ser do bando que aqui explorou / Bandidos andam bem vestidos lucrando com a história que ele apagou / O desgoverno, eu vi”.

 

“Os meninos do Tropkillaz chamaram o Dow Raiz (cantor e compositor paranaense), que escreveu a letra, eu dei uns pitacos. O Tropkillaz fez a produção da música e eu cantei! Como um time, cada um fez a sua parte e eu amei o resultado!”, conta. A canção, inclusive, ganhou clipe, que está disponível no YouTube. “Acho que o clipe complementa e ilustra muito bem a letra. Quero falar da injustiça, da corrupção, da violência contra mulher e, principalmente, do caso do menino Miguel”, explica ela, referindo-se à criança de 5 anos que morreu no ano passado após cair do nono andar de um prédio -  a patroa da mãe o deixou sozinho no elevador.

‘Variedade de mim’

Atriz, cantora e compositora, Samantha Schmütz comemora o novo passo que dá na vida profissional. O EP vem permeado pelo som urbano do Tropkillaz, que surgirá mesclado com outros elementos -  “Edifício Brasil”, por exemplo, traz batidas de reggae e nuances latinos.

Questionada sobre quem é a Samantha que o público vai ouvir nessas canções, ela afirma: “Vão encontrar a variedade de mim, pois somos várias! Nesse momento da minha vida e da minha carreira, me sinto livre para fazer qualquer tipo de música, porque não tenho a obrigação de produzir hits enormes. O público vai ouvir uma Samantha múltipla, completa, romântica, ousada, revoltada, feliz!”. “Eu me vejo determinada, menos ansiosa e fazendo o que quero. Tô trabalhando para ser cada vez mais uma versão melhor de mim, no palco e na vida”, completa.

A artista revela que, além do EP,  tem outros projetos musicais já no gatilho. “Vou lançar mais algumas músicas como single. Algumas já estão prontas, inclusive. Uma delas, composta por mim e produzida pelo Eduardo Bid, já tem até clipe, com direito a direção de Giovanni Bianco”, conta. “E, além disso, quero muito fazer uma turnê de shows”, garante.

Para a carreira de atriz ela também tem planos: “Tenho alguns filmes para gravar, que já estão até com roteiro pronto. O Juninho Play, esse personagem pelo qual tenho tanto carinho, vai ganhar um filme”.

'Eu apenas reflito sobre as coisas que estou vendo'

Aos 42 anos, sendo mais de 20 deles dedicados à arte, Samantha Schmütz já fez teatro, cinema, novela e programa de televisão. Desde 2013, ela pode ser vista na pele da espevitada Jéssica no humorístico “Vai que Cola”, no Multishow. Mas além de usar o espaço que conquistou para compartilhar os próprios trabalhos, a artista tem usado a voz e a projeção que tem para pontuar o que vê de errado na sociedade e não poupa críticas, seja ao atual governo do Brasil seja a outros colegas de profissão. 

Essa característica ficou ainda mais evidente após a morte do ator e comediante (e grande amigo dela) Paulo Gustavo, em maio, em decorrência de complicações da Covid-19. “Estranho, triste, louco demais… Passa um filme na cabeça. São momentos de dor e de muitas lembranças. Tenho uma sensação quase de não achar justo um amigo tão iluminado e que preenchia tanto nossas vidas ter partido tão cedo”, reflete ela sobre a perda do amigo.

O espaço de fala de Samantha tem sido, na maioria das vezes, nas redes sociais, onde faz, por exemplo, críticas a quem desrespeitou as medidas de combate à pandemia e também cobrou que outros artistas se posicionassem politicamente. Segundo ela, “nunca houve” espaço para ficar em cima do muro diante dos fatos que acontecem no país.

“Eu apenas reflito sobre as coisas que estou vendo, assim como todo mundo que usa as redes sociais… Eu só não finjo que vivo como a Alice no País das Maravilhas (risos)! Como cidadã e artista, prezo muito pelo meu país e pela forma como ele é cuidado”, afirma.  

Ela destaca o papel da arte diante do atual cenário que vivemos, agravado pela pandemia. “A arte é base, suporte, salvação. Imagina a vida sem música, sem filme? A arte é essencial para escapar da realidade, que às vezes pode ser muito severa”, pontua a atriz e cantora.