O escritor e crítico literário mineiro Silviano Santiago foi contemplado com o Prêmio Ezequiel Martínez Estrada, conferido pela prestigiosa Casa de las Américas, sediada em Cuba. Foram as edições recentes em espanhol do livro “Uma Literatura nos Trópicos” (“Una Literatura en Los Tropicos”), centrada em ensaios e lançado por Santiago em 1978, que trouxe tal reconhecimento ao autor, que agora é o primeiro brasileiro agraciado com essa honraria.
“Esse é um prêmio especial da Casa, ele não passa pelo júri e tem um caráter de homenagem. O interessante é que eles só podem premiar livros escritos em espanhol. Então, eles aproveitaram uma edição em língua espanhola do meu livro para confirmar o prêmio”, explica Santiago.
Essa decisão colocou o nome de Santiago e o da antropóloga Aparecida Vilaça entre os laureados pela Casa de Las Américas. A escritora foi celebrada pelo título “Paletó e Eu – Memórias de Meu Pai Indígena” (ed. Todavia), na categoria literatura brasileira.
Feliz com o resultado, Santiago observa que essa repercussão pode ampliar o alcance dos seus escritos entre os leitores latino-americanos, algo que considera coerente com a abrangência do seu trabalho. “Isso é que é bastante importante pra mim. Eu tenho escrito livros desde os anos 60, com boa repercussão. Já ganhei um prêmio também no Chile (o Prêmio José Donoso), e tudo isso é algo muito positivo”, diz.
“A crítica literária brasileira acaba circulando menos que as obras literárias em si – ainda mais porque a crítica brasileira tende a ter um teor mais nacional, sendo, de fato, mais preocupada com o Brasil. Eu tive a sorte de, por meio do conceito de ‘entre-lugar’ que eu criei, conceber uma crítica literária mais cosmopolita”, completa Santiago.
Reedição. No ano passado, “Uma Literatura nos Trópicos” ganhou uma nova edição pela Cepe Editora, sediada em Pernambuco. O lançamento também comemorou as quatro décadas de publicação do volume que permanece como uma referência para os estudos literários. Uma novidade foi a inclusão de mais cinco textos de Santiago, incluindo alguns ainda inéditos em livro, a exemplo de um que o autor aproxima a poesia de Carlos Drummond de Andrade e a de Luís de Camões. Além desses escritos, a reedição abarca também textos concebidos pelos pesquisadores Eneida Leal Cunha, Fred Coelho e André Botelho, que refletem sobre o legado de Santiago.